sexta-feira, 29 de abril de 2011

Gonzaguinha, pura inspiração

"É preciso, 
mais que nunca,
prosseguir".

O Gonzagão, conheci ao quando eu ainda era menino, tocando sua sanfona na carroceria de um caminhão lá em Sobral, acho que era na festa do Bicentenário da Metrópole, em 1973. Já o Gonzaguinha eu vi a primeira vez numa apresentação do Projeto Pixinguinha, quando já morava em Fortaleza, nos anos oitenta. Nunca os vi juntos, mas pouca coisa os separava, nem a morte do filho antes do pai. A arte dos dois era a música falando da vido do povo, cada um à sua moda, ao seu ritmo, mas a alma do povo era a essência da arte que unia ainda mais pai e filho. Exatamente há 20 anos o filho se foi acidentalmente, mas sua obra ficou para nos inspirar, nos emocionar e nos fazer sentir mais o amor.



quarta-feira, 27 de abril de 2011

Maurício Grabois

Reproduzo abaixo editorial do Portal Vermelho sobre a reportagem da revista Carta Capital a respeito do diário de Maurício Grabois, militante comunista histórico, dirigente do PCdoB e um dos comandantes da Guerrilha do Araguaia.

Maurício Grabois, então deputado da Constituinte de 1946,
junto com Aparício Torelli, o Barão de Itararé.
O mau jornalismo e a memória de Maurício Grabois

A revelação, pela revista CartaCapital, da existência de uma cópia do diário de Maurício Grabois descrevendo os últimos meses da Guerrilha do Araguaia e a disponibilização de seu texto integral pela internet, acrescentam informações à memória histórica da luta contra o arbítrio no Brasil. E põem em evidência a figura heroica de Grabois, assim como de todos os que foram mortos na luta contra o regime dos generais. Levanta-se um pedaço da cortina que encobre aquele passado de glórias, do lado dos lutadores da resistência, e de iniquidades, do lado de seus algozes.


Grabois foi o comandante militar daquele movimento de resistência à ditadura militar. Foi um desses brasileiros que, já quase sexagenário na época do início da implantação da guerrilha nas margens do Araguaia, e com extensa folha de serviços a seu Partido e ao Brasil, poderia ter encontrado uma forma de ação mais consentânea com aquela idade que se afastava da juventude temporal e, ainda assim, continuar servindo à resistência democrática e à luta pelo socialismo.

Ele se filiou ao Partido Comunista do Brasil em 1931, quando tinha 19 anos de idade; militou na Aliança Nacional Libertadora, lutou contra o Estado Novo, foi um dos esteios da reorganização do Partido na Conferência da Mantiqueira, em 1943. Foi um deputado constituinte extremamente ativo na Assembleia de 1946, onde se destacou na defesa dos trabalhadores, da democracia e do Brasil. Na segunda metade da década de 1950, esteve entre os líderes da resistência revolucionária contra o revisionismo e o oportunismo de direita que passavam a prevalecer nas fileiras comunistas, tendo sido um dos principais dirigentes da Conferência de 1962 que reorganizou o Partido e manteve o nome, os princípios marxistas-leninistas e símbolos da agremiação fundada em 1922.

Mas não era de seu feitio dormir sobre os louros alcançados e, no final da década de 1960, quando o Partido tomou a decisão de iniciar o trabalho de organização entre o povo pobre da região do Araguaia, não vacilou em acatar a tarefa indicada para ele, de ser o comandante militar da guerrilha.

São as credenciais de um líder e dirigente, que podem ser percebidas no texto muitas vezes tenso mas elegante e quase sempre bem humorado do diário que deixou. É o registro, feito por um herói do povo brasileiro, de seus feitos e dos feitos de seus comandados. Lições de amor ao povo, vontade de vencer e confiança no socialismo. É o relato da saga do enfrentamento de elementos hostis, como a floresta inóspita onde a luta ocorria, ou ferozes, como a repressão enviada para esmagar a resistência. Descreveu, naquele diário, a luta desde o primeiro ataque das Forças Armadas, em 12 de abril de 1972, até momentos antes de sua execução pelos soldados da repressão, no natal de 1973.

A revelação do diário de Grabois na citada revista foi feita, porém, de maneira incompreensivelmente canhestra para um veículo que, distinguindo-se no cipoal de mediocridades que prevalece entre as revistas semanais brasileiras, igualou-se a elas no tratamento indigno dado por seu repórter ao grande brasileiro cuja história foi contada ali. O mau jornalista descreve Grabois como um homem parcial, visionário, despreparado e mesmo crédulo, embora exigente com seus subordinados – alegações que são desfeitas, uma a uma, pela leitura do diário.

Grabois enfrentou adversários ferozes e morreu nas mãos deles. Sua memória não será manchada pela miopia e o julgamento raso de um repórter, que de resto se revelou mais sensível para com as razões dos militares que esmagaram a guerrilha no quadro da guerra que naquela altura as Forças Armadas empreendiam contra o povo.

Leia aqui o diário de Maurício Grabois

Leia também artigo de Osvaldo Bertolino -  Maurício Grabois e os devaneios de um jornalista

Quintana afiado

"Esses padres
conhecem mais
pecados do que a gente..."

Carlinhos Ferreira, um senhor músico

Conheci o músico Carlinhos Ferreira quando eu era diretor de cultura do DCE da UFC e, em 1983, cuidei da organização, junto com a então diretora de finanças, Nilse Brígido, de um show do Geraldo Azevedo pela legalização da União Nacional dos Estudantes (UNE), ainda proscrita pelo regime militar. Ao lado de Carlinhos, tocaram com Geraldo o Luis Miguel, no contrabaixo, o Luizinho Duarte, na bateria e, se não me engano, Cristiano Pinho, na guitarra. Carlinhos adoecei e não se recuperou o suficiente para continuar embelezando com seus sopros a cena musical cearense. Em sua homenagem deixo você com o Manassés tocando Algodão, de Luiz Gonzaga, onde Carlinhos de destaca magnificamente.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Abril em Portugal

Caros patrícios, há compromissos assumidos com a história que não podem ser abandonados. Nas momentos mais difíceis, como os que vós viveis atualmente, os desafios se tornam maiores e suoperá-los torna-se uma necessidade indispensável. Reproduzo abaixo os versos de Sérgio Godinho para que lembrem-se dos compromissos e dos desafios.


Liberdade


Viemos com o peso do passado e da semente
Esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela calada
Só se pode querer tudo quando não se teve nada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sério quando houver
A paz, o pão,
habitação
saúde, educação
Só há liberdade a sério quando houver
Liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir


quinta-feira, 21 de abril de 2011

Até a volta...

Semana que vem eu falo se esse lugar é mesmo bonito

Joan, um contador de histórias

A noite já vai invadindo a madrugada, tenho já que me deitar pra num ter sono na viagem que farei com a Fernanda prum repouso praieiro durante o feriado, mas antes quero lhe apresentar um conto do meu amigo, cumpadre, camarada e conterrâneo Joan, sertanejo, nascido do meio pro sul do Ceará, conhecedor do chão e da alma cearenses e estabelecido hoje mais ao norte, ali na cidade onde nasci. Joan tá de livro novo, O Plantador de Borboletas,muito bem falado pelo também amigo querido Gilvan Paiva, em seu blog, e foi lá que busquei essa belezura que lhe convido a ler.


O cavalo cego


A cidade acordou ocupada.
Ao amanhecer tudo estava em poder deles.
Duas éguas baias, postadas à frente da igreja, revistavam as mulheres que se dirigiam à missa, cobertas pelas mantilhas. Cheiravam-nas e levantavam as suas roupas, sem levar em conta os seus protestos.
Quando o carteiro chegou ao prédio dos correios encontrou um ruço de passo miúdo a abrir todas as cartas, e a ordem seca, ríspida, para que sentasse e esperasse.
O cabo Valfrido e os dois soldados foram trancados por um casal de tordilhos de crinas encrespadas, que ficaram examinando as poucas armas, enquanto uma água rosilha jovem, ancas largas, chegada depois, dirigia-se á cela dos fundos onde dois prisioneiros, pivôs de toda a situação, aguardavam assustados o interrogatório.
Às nove horas o líder entrou na casa do Major. Todos os viram passar, um grande corcel negro, os cegos olhos refletindo os azuis da manhã, guiado por duas potrancas brancas e escoltado por uma guarda de potros alazães. 
Não se sabe o que conversaram durante aquela interminável hora, mas quando partiram as mães tinham motivos para chorar pelas três décadas seguintes.


11.junho.2002

domingo, 17 de abril de 2011

Bom domingo

Chaplin, o sorriso bem elaborado

Não é fácil escolher a melhor cena de Chales Chaplin no cinema, há muitas. Em Luzes da Cidade uma das melhores é a que Carlitos passa por dentro do carro de um milionário para que a florista cega imagine que ele era um homem rico e não um vagabundo das ruas da cidade.  Já em Tempos Modernos a mais famosa é a da repetição na esteira da fábrica, uma crítica ao sistema de trabalho nas fábricas que automatiza os operários, mas há também a cena da bandeira vermelho que o Carlitos acena em frente à passeata e trabalhadores e é confundido com os manifestantes. Em o grande ditador dois momentos de uma mesma cena: o discurso e a brincadeira com o globo, tendo o ditador o mundo ao seu dispor. Eu citaria muitas outras, mas separei essa de O Garoto, quando a dupla arma é flagrada no esquema de quebrar vidraças para oferecer o serviço de conserto.



O que talvez pouca gente saiba é que Charles Chaplin era um perfeccionista incurável, que acompanhava quase todos os momentos de seus filmes e repetia uma gravação quantas vezes fosse necessária para que a cena ficasse bem próxima à perfeição. A cena que citei acima de Luzes da Cidades foi repetida mais de 100 vezes, mas no raro vídeo abaixo pode-se ver Chaplin repetir muitas vezes (pela claquete percebe-se que algumas dezenas) uma cena aparentemente sem muitos detalhes para nós, leigos, mas para ele tão importante quanto qualquer outra.



Ontem, dia 16 de abril, Charles Chaplin faria 122 anos, mas como ele é imortal ficou vivo em nossas memórias e nas cenas geniais que deixou para a eternidade.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Saudosa São Paulo

Passo o próximo fim de semana em São Paulo, onde participo do 7º Encontro Nacional do PCdoB sobre Questões de Partido, mas também quero dar uma chegadinha no Encontro de Blogueiros Progressistas de São Paulo e ainda bater o ponto pruma cachacinha no boteco São Cristóvão. Pra entrar no clima, vai um passeio maravilhoso pela beleza do estilo antigo da cidade com Adoniran Barbosa e Elis Regina, que nos deixaram eternamente saudosos. Encante-se e deixe a emoção livre.

Poesia da costureira

Dona Ivete Barros é uma mulher do povo, que se criou no Pirambu, onde conheceu a luta por moradia e se atuou também ao lado do pessoal do MOCUPP, o Movimento de Cultura Popular do Pirambu. Habilidosa, aprendeu a "costurar pras madames", como ela me disse no dia que conheci, quando foi uma das homenageadas pela Câmara Municipal de Fortaleza, nas comemorações do Dia Internacional da Mulher. Sambista, gosta duma roda de samba incrementada por uma geladinha e torresmo, compõe, já participou dos desfiles de escola de samba de Fortaleza e ganhou o I Festival de Marchinhas Lauro Maia, organizado pela Associação Comunitária do Bairro Ellery e o Bloco Sai na Marra.

Dona Ivete fez um agradecimento à homenagem que recebeu como mulher de alto valor com os versos que copiei e lhe peço que leia.

Eu sou mulher,
Mas sou forte. 
Defendo sempre o meu direito
E não me curvo ao preconceito
E vou em frente
Sigo a jornada
Sempre em frente
Pra não ser barrada.

Sou lavadeira
Sou enfermeira
Qualquer que seja minha carreira,
Hasteio sempre a minha bandeira.


Se sou política
Se sou malhada
Isso não me vale nada
Se canto ou rio
E alguém fala
Procuro esquecer
Essa navalha.


Eu quero sempre 
Viver em paz
Ver minha família
Sorrindo sempre


Agora eu digo
Estou contente
Porque vejo uma mulher
Sendo Presidente.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Há 50 anos, a Terra é azul

Hoje é muito óbvio dizer que o azul dos mares prevalece sobre a infinidade de cores que existem na Terra. Mas essa certeza só foi possivel há 50 anos, quando os soviéticos lançaram o primeiro ser humano ao espaço. Vale lembrar que antes de Yuri Gagarin tripular a nave Vostok I (em russo a palavra significa oriente e eu me permito especular que tem algo a ver com a direção do sol, o sentido da evolução do dia), a União Soviética, onde ainda prevalecia o socialismo, já havia lançado a Sputinik I (em russo significa amigo, companheiro de viagem), a primeira nave espacial a ser posta em óbita e um mês depois, em 03.11.1957, na Sputinik II viajaria ao espaço a cadela Laika, primeiro ser vivo a entrar na óbita da Terra.

Não é demais lembrar que a mesma União Soviática saiu arrebentada da II Guerra Mundial, com 20 milhões de mortos e grande parte de sua infraestrutura destruida no enfrentamento ao exército nazista, que chegou a menos de 50 km de Moscou e dalí foi escorraçado. Mas o povo e o governo soviético estavam com a moral elevadíssima pela vitória conquistada e isso impulsionou um enorme desenvolvimento, que possibilitou esse grande salto científico e tecnológico ocorrido há meio século.

O vídeo abaixo é um homenagem à Yuri Gagarin e ao grande feito do socialismo, algo que mexe com minha emoção e que desejo compartilhar com você.

Araguaia e os nossos sonhos

Àquela brava gente que, das matas do Araguaia, ousou construir uma resistência popular em favor da liberdade, da democracia, da soberania nacional, dos direitos do povo. Gente assim, capaz de tecer a realidade com os melhores sonhos, não sai nunca do nosso coração.

Os brasileirinhos, por Emir Sader

Os brasileirinhos. Aqueles que partiram cedo demais desta vida. Aqueles para os quais deveríamos estar construindo uma sociedade de paz. Aqueles que deveriam ter escolas seguras, com professores bem formados e com bons salários, com computadores e bons espaços para arte e esporte.

Aqueles brasileirinhos que choram seus irmãos, seus colegas, sem entenderem bem por que acontecem coisas como essas, por que se usa impunemente armas para entrar nas escolas. Os brasileirinhos que ouviram falar que a educação é fundamental, que eles são o futuro do Brasil. Aqueles brasileirinhos que sonhavam em ser jogadores de futebol, engenheiros, artistas, presidentes da republica.

Os brasileirinhos que se foram cedo demais, sem saber que se tenta construir um mundo melhor para eles, mas que o velho mundo pesa duramente sobre tudo e sobre todos. Principalmente sobre eles, sobre seus pais e suas mães, sobre seus colegas, seus professores e seus irmãos.

Aquelas mães e pais dos brasileirinhos, que faziam todo o esforço para tê-los acordados cedinho, com café com leite, pão e manteiga, uniforme e mochila, para chegarem a tempo na escola. Aquelas mães e pais dos brasileirinhos que faziam todo o esforço e o sacrifício para que eles pudessem ter o diploma profissional que eles não puderam ter.

Aqueles brasileirinhos que brincavam, estudavam, jogavam futebol, cantavam, sonhavam. Aqueles brasileirinhos que queriam ver a Copa do Mundo e as Olimpíadas no Rio. Que queriam ver as favelas pacíficas, as escolas tranquilas, seus pais empregados, seus irmãos entrando na universidade.

Os brasileirinhos que se foram tão cedo. Que não puderam esperar pelo futuro que se supõe estamos construindo para eles. Que não tiveram oportunidade de se tornar jovens, adultos, de viver a plenitude da vida.

Os brasileirinhos que são a maioria da infância e da juventude do Brasil, mas não são centralmente contemplados pela mídia, discriminados e invisibilizados, salvo quando acontecem tragédias.

Enquanto todos nós não nos sentirmos brasileirinhos, com suas esperanças e suas fragilidades, com suas vontades e suas frustrações, seus sonhos e seus pesadelos, e lutarmos, junto com todos eles, brasileirinhos serão apenas os meninos pobres, despossuídos, carentes. Um Brasil para todos tem que ser, antes de tudo, um Brasil de todos os brasileirinhos.

Só algumas palavras

Na manhã da quinta feira passada a Tisca chegou toda lamentosa para trabalhar e me disse que no dia anterior "uns meninos perto lá de casa foram presos depois de assaltarem um pessoal que saia lá do Fórum" ( o Clóvis Beviláqua, que fica perto da favela do Dendê, onde ela mora). Os meninos estudam numa escola perto do fórum e depois da traquinagem foram pra casa sem se preocuparem com as consequências, que vieram rapidinho. Enquanto a Tisca me contava o acontecido eu tentava entender o que tinha acontecido numa escola do Rio de Janeiro, que os plantões das TVs noticiavam. Um fato e o outro tinham a ver com os brasileirinhos, todos vítimas de uma sociedade que já não tem quase nada pra oferecer à maioria da população. Uma sociedade excludente, exploradora, que produz, no mesmo ambiente vítimas e algozes, nos causando indignação todos os dias. Sou um ser de emoção à flor da pele, pai dum menino que ainda tem muito a viver e eu mesmo ainda tenho muitos sonhos e planos. Essa situação me deixou dias sem saber como dizer as coisas que passavam em minha cabeça. Pra dizer já não há muito, mas a certeza de que por esse caminho de barbárie a humanidade não caminhará bem, eu tenho, e é muita. Muita coisa a fazer, também há. Muita ousadia, muita vontade e disposição pra mudar o mundo, não pode faltar. Não foi pra isso que evoluimos como seres vivos, hábeis, pensantes e capazes de evoluir muito mais. Os brasileirinhos querem e merecem partir muito mais tarde.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Ceará em Cordel


Cidades do Ceará

Deus que é supremo pai
A vós quero pedir
Memória pra escrever
Pois desejo conseguir
As cidades do Ceará
Cada nome descobrir

Por tudo o que tem me dado
Quero muito agradecer
Pelo bom fôlego de vida
Que me deu tanto prazer
Com muita força e talento
Na hora de escrever

Pra começar a novena
Na igreja bate o sino
No dia que a gente nasce
Já vem traçando destino
Minha ideia de escrever
Vem do tempo de menino

Estou na terceira idade
Não conheço solidão
Eu sou um nordestino
Do estado do Maranhão
Para Forteleza eu vim
Com grande inspiração

Na minha imaginação
Eu só faço o que convém
Dos cento e oitenta e quatro
Municípios que hoje tem
O Ceará Terra da Luz
Eu conheço muito bem

É sobre esses municípios
Que eu pretendo falar
O nome de cada um
Quero ao eleitor declarar
Transformando em poesia
Cada estrofe em seu lugar

Começa pela capital
A cidade de Fortaleza
Saindo do litoral
Se olha a grande beleza
Com bonitas paisagens
Encanto da natureza

Primeira vila fundada
A cidade de Aquiraz
A mais antiga de todas
Com quatro séculos atrás
Tem fábrica da cachaça
Com lindos canaviais

Cidade de Aracati
Quem conhece vai lembrar
Tem histórias tão bonitas
Pra quem quer recordar
Onde nasceu o jangadeiro
Chamada Dragão do Mar

Foi no Crato onde nasceu
O mais forte conselheiro
O Padre Cícero Romão
Fundador de Juazeiro
Só não foi canonizado
Mas é santo verdadeiro

Área metropolitana
Tem a cidade de Caucaia
Na flora tem carnaúba
Na fauna tem a jandaia
E grande divertimento
Pra quem gosta de praia

Tem Campos Sales e Viçosa
Tem Russas, tem Camocim
Cedro, Monsenhor Tabosa
Cascavel, Ipaumirim
Histórias da antiguidade
Tem em Quixeramobim

Mucambo e Paramoti
Santana do Acaraú
Várzea Alegre e Trairi
E São Luiz do Curu
Novo Oriente, Uruoca
Granja e Caririaçu

Potengi, Pindoretama
Martinópole e Pacujá
A bela Jaguaretama
Também tem Senador Sá
Jati, Uruburetama
Tem Ipu e Ararendá

Palhano e Piquet Carneiro
Alto Santo e Quixadá
São Gonçalo do Amarante
Aratuba e Tianguá
Com Baixio e Itaiçaba
Santa Quitéria e Tauá

Ipueiras, Itapipoca
Maranguape e Crateús
Icó, Senador Pompeu
Pentecoste e Pacajus
Alcântaras e Saboeiro
Terra boa Caríus

Nova Olinda, Pacatuba
Granjeiro, Reriutaba
Bela Cruz, Jaguaruana
Na serra Guaraciaba
Côcos mais deliciosos
Exporta Paraipaba

Tem a pequena Itaitinga
Choró, Maracanau
Chorozinho e Horizonte
Quixeré, Banabuiu
Tem Mombaça e Redenção
Pedra Branca e Parambu

Hidrolândia e Capistrano
Ibiapina e Acopiara
Groairas, Limoeiro
Marco e Jaguaribara
Palmácia e Carnaubal
Frecheirinha e Ubajara

Guaramiranga, Itatira
Missão Velha, Itapajé
E tem General Sampaio
Morrinhos e Cariré
A terra onde nasceu
O Patativa, Assaré

Tem Tabuleiro do Norte
Graça, Guaiuba e Fortim
Tem Ererê e Mauriti
São Benedito pra mim
Tem de flores no estado
O mais bonito jardim

Paracuru e Aurora
Massapê, Baturité
Também onde se adora
O santuario da fé
De onde se ouve a voz
De devotos de Canindé

Santana do Cariri
Quixelô e Saboeiro
Potiretama e Porteiras
Orós, Pacoti, Pereiro
Jucás, cidade velha
Do tempo do candeeiro

Tem a Princesa do Norte
Que a cidade de Sobral
Catarina, Irauçuba
Tem Barroquinha e Chaval
Forquilha, Independência
Que já foi pelo sinal

Amontada e Apuiarés
Tem Ocara e Altaneira
Na metrópole tem Euzébio
Tem Barbalha, tem Barreira
Barro, no sul do estado
No norte, Pires Ferreira

Tem Milagres e Miraíma
Moraújo, Itaiçaba
Acarape e Abaiara
Tem Catunda e Aiuaba
São João do Jaguaribe
Tamboril, Aracoiaba

Farias Brito e Umari
Tem Antonina do Norte
Solonópole e Beberibe
Tem Umirim e Penaforte
Quem pescou em Icapui
A canoa é seu transporte

Cruz e Irapuã Pinheiro
Tem Varjota e Tururu
Ipaporanga, Itarema
Guaramiranga, Iguatu
Brejo Santo e Caridade
Madalena e Mulungu

Aqui eu vou encerrar
Com prazer e alegria
Por ter feito este trabalho
Com métrica na poesia
Hoje estou sabendo
O que antes eu não sabia

Meu nome pra quem não sabe
Doravante vai saber
Cícero Modesto Gomes
Tenho com muito prazer
Já mais de setenta anos
Muito mais eu vou viver.  



terça-feira, 5 de abril de 2011

Acendendo o dia

Casa de cearense é lugar que num falta uma rede. Assim é na minha morada cuja varanda é transpassada por uma rede das boas. Nas noites em que o balanceio me adormece na varanda o sol me manda pro aconchego do quarto. Hoje ele chegou junto com uma chuva fina, parecia casamento de raposa, mas ao invés de ir pro quarto esperei a luz acender o dia e guardei a madrugada que se ia na memória da Sonynha. O dia foi chegando bonito, com o céu cheio de nuvens, pintado pelo sol, que se meteu casa adentro e sombreou móveis e enfeites.

Sertanejo como sou preferia ver o sol surgir no meio do mato, brilhando o orvalho das plantas e aquecendo o cantos da passarada, mas se moro na cidade, arrumo um jeito mais bonito de ver o dia surgir pra seguir bem  até a noite chegar junto com a irmã do sol.








Sabor de vidro e corte



San Vicente
Milton Nascimento/Fernando Brant

Jaime Sautchuk: Luta armada na TV

Não sei no que vai dar lá no final, mas o simples fato de o tema servir de ambientação para uma novela na televisão já é importante para a história viva do Brasil. Esta semana, o SBT lançou a novela Amor e Revolução, numa ousada e louvável empreitada de resgate da memória nacional

A importância desse feito é perceptível nos bastidores da própria novela. Muitos dos atores não tinham nem nascido quando se passaram os fatos ali referenciados. Tiveram de ir aos livros para estudar e neles captar informações que serviram para a construção de seus personagens.

Um desses jovens atores, numa cena da novela, fornece alguma dica do tratamento que o enredo vai dar ao tema. “Vou tirar a limpo essa história do Comando de Caça aos Comunistas; minha mãe foi assassinada e eu preciso tirar isso limpo”, afirma ele.

Esta é uma das cenas que fazem parte do trailer de 10min46s exibido na página do SBT na internet desde a semana anterior ao lançamento da novela, na terça-feira, dia 5 de abril. Pela amostra, a novela pode vir a ser um marco na história da televisão brasileira, tal a naturalidade com que trata de um tema que é tabu nesse ramo de produção televisiva.

Há fortes cenas de tortura, de todas as modalidades, do pau-de-arara ao afogamento, passando pelo abuso sexual. E invasões de aparelhos (locais secretos de reuniões) de organizações da esquerda, com assassinatos a sangue frio, espancamentos e maus-tratos de toda ordem.

O autor
Boa parte do pessoal de criação e do elenco de atores é de gente que já passou pela Rede Globo. O autor da novela, que cuida do roteiro, diálogos, do conteúdo, enfim, é Tiago Santiago. Não é, pois, pouca brincadeira.

Sociólogo, até com pós-graduação, é um sujeito que utilizou a formação acadêmica para seu veio de homem das letras. Sempre se dedicou às artes, como grande conhecedor da realidade da gente comum.

Sua tese de mestrado, por exemplo, é sobre a colonização portuguesa na África. Ele é, também, romancista, teatrólogo, o escambau. Mas começou como ator, atuando com gente do coturno de Paulo José e Dina Sfat.

Já na condição de criador de textos para teatro, trabalhou com a mestra Maria Clara Machado e fez um monte de novelas e programas na Globo, quase sempre voltados para o público juvenil. O programa Malhação e novelas como Vamp são alguns exemplos.

Com isso, quero dizer que, se depender do autor, podemos esperar uma novela voltada para um público mais jovem, mas que vai fazer muito adulto que diz não gostar do ramo ligar a TV.

A direção ficou sob a responsabilidade do veterano Reynaldo Boury, figura que já consta da própria história da TV brasileira. Conhece muito. De quebra, já fazia televisão quando os episódios que agora vai dirigir ocorreram, o que pode ajudar.

Entrando fundo na história
Pelo trailer do SBT, a ambientação é cinematográfica, para lembrar os primórdios da TV. Cenas bem trabalhadas de explosões com pessoas lançadas ao ar, perseguições por ruas e rodovias em fusquinhas, Simcas e DKWs, os carros de então, se misturam com ambientes fechados e falas sussurradas, como convinha na época.

Os cenários são muito bem cuidados, nos trajes, mobiliário e até iluminação. Combinam com diálogos também situados naquele tempo, com palavreado e expressões apropriados.

Não se sabe, por enquanto, o que fez Sílvio Santos, o todo-poderoso do SBT, investir nesse tema. O fato é que tem muito a ver com o crescimento da campanha nacional em favor do esclarecimento do que se passou durante o regime militar, iniciado, por coincidência ou não, em abril de 1964.

Saber do paradeiro dos corpos dos desaparecidos é o mínimo que se pode esperar. Já se pode sentir, por isso tudo, que a novela vai entrar fundo num período importante da história recente do Brasil.

A novela da ditadura

Há um mês fui procurado por um produtor do SBT que procurava falar com um amigo meu que foi perseguido, preso e torturado pela ditadura militar. A rede de TV, ainda do Silvio Santos, estava preparando um programa especial sobre a tortura durante o regime militar. O especial tinha o objetivo de abrir caminho para a novela que estreia hoje e que vai dar muito o que falar, além de balançar a audiência da TV brasileira.

O programa foi ao ar na semana passada e pôs a nu o tratamento que a milicada golpista deu aos que ousaram encarar a ditadura que instalaram no Brasil a serviço dos interesses de megaempresários brasileiros e estrangeiros, dos grandes latifundiários e do imperialismo americano. Pra arrancar informações a tortura comeu solta nos quartéis contra estudantes e trabalhadores, principalmente, mas sobrou pancada também pra gente simples do povo, que nem tinha atuação política, mas era parente, amigo, vizinho, colega de trabalho ou tinha qualquer relação, mesmo que distante, com algum militante. 


Esse período obscuro e vergonhoso de nossa história durou 21 anos, foi superado pela luta persistente dos mesmos que eram perseguidos e do povo, que botaram a milicada e seus cupinchas pra correr. Foi um tempo que passou, mas ainda deixou marcas e muita coisa mal explicada, que precisa vir, e tem vindo, à tona. A novela do SBT vai ajudar muita gente a conhecer e entender melhor a história recente do Brasil.

Faz muito tempo que não assisto uma novela e não tenho muita certeza que vou ver essa, mas acho que vale a pena acompanhar. É bem verdade que vai ter muita ficção, mas o que motivou a invenção foi uma realidade que o Brasil não pode viver jamais.


sexta-feira, 1 de abril de 2011

Já passou, Brasil!

Te manda, Bolsonaro

A milicada golpista gosta de comemorar no dia 31 de março a quartelada de 1964, que jogou o Brasil em 21 anos de ditadura, violentou a democracia, subjugou nossa soberania, gerou mais exclusão social e perseguiu os que não aceitavam a ordem imposta. Mas a verdade é que o golpe aconteceu em 1o de abril e isso está simbolizado justamente na invasão da sede da UNE pelos golpistas, que incendiaram a casa dos estudantes brasileiros. A data é incômoda pros milicos golpistas e agora vai ficando constrangedora porque não faz sentido comemorar, como alguns ainda tentam, um episódio que envergonha a nação.

Entre os saudosistas do golpe está o deputado Jair Bolsonaro que nesta semana ajudou a aumentar ainda mais a rejeição aos ideais da chamada "gloriosa", que agora foi parar no lixo da história. O fascitóide conseguiu num só momento expressar quase tudo de ruim que ele penso. Pensando nisso, mentes sadias do Brasil se movimentam pra mandar o deputado pro pijama. Tem ação na Câmara dos Deputados pra cassar o mandato dele, tem ação na justiça e tem um abaixo assinado. Já que o Bolsonaro não pede pra sair, a gente bota ele pra fora.

Assine aqui e ajude a limpar o Brasil.