Na última terça feira, no meio da correria toda que anda minha vida, participei da entrevista feita pela Carol Campos, jornalista do Vermelho/CE, com a Luiza Reis, ex-guerrilheira no Araguaia. Conversamos por mais de duas horas e um resultado foi uma bela matéria onde Luzia afirma, entre tantas coisas belas, que deu parte de sua juventude para a democracia.
Digo uma coisa pra você, todo mundo sabe que esse assunto, Guerrilha do Araguaia, mexe muito comigo, com minhas emoções, ajuda a reafirmar minhas convicções e minha certeza de que a luta pela democracia de verdade deve ser buscada de todas as formas, nem que seja preciso pegar em armas. Eu nem tinha ainda ingressado no PCdoB e o Araguaia já era assunto conversado com gente amiga. Já li muito, já debati muito, já escutei muitos relatos, inclusive um do João Amazonas, quando eu morava em Brasília, onde ele contou um pouco do cotidiano dos que lá se instalaram no final dos anos 60. Mas eu nunca tinha conversado com alguém que falasse como a Luzia, com esse belo sorriso misturado com um pouco de emoção ao lembrar alguns momentos difíceis, principalmente a morte de Bergson Gurjão.
Entre as muitas afirmações de Luzia, uma - “Os guerrilheiros abriram este caminho oferecendo suas vidas para construir uma democracia popular. A primeira etapa foi alcançada. Dizer que a morte desses heróis foi em vão é desconhecer a história e ignorar a realidade” - deve muito ser levada em conta, em especial os que tentam diminuir a importância daquele fato histórico brasileiro que a cada dia ganha mais reconhecimento. Não foi um grupo de aventureiros, ou "porraloucas", que se enfiou nas brenhas da selva amazônica para ajudar a resgatar a democracia apreendida por um golpe militar a serviço do imperialismo norteamericano, dos grandes grupos econômicos e de latifundiários. Aquele povo ali sabia muito bem que não estava a passeio, como hoje fazem muitos turistas que se deliciam nas praias do Rio Araguaia. Sabiam que deveriam se enfronhar na vida do povo, conhecer de perto sua vida em todos os aspectos e principalmente lutar junto com ele para defender seus direitos e enfrentar seus inimigos. Não era coisa de pouco tempo e pouca monta. O descoberta da preparação da guerrilha precipitou os acontecimentos e pegou os guerrilheiros ainda em fase de preparação (Luzia lembra que dois novos guerilheiros chegaram dois dias depis do início dos combates), mas ainda assim a mobilização de tropas só perdeu pra Força Expedicionária Brasileira, que combateu o nazifascismo. Tudo isso para enfrentar uma centena de guerrilheiros, aos quais se somou o apoio, a solidariedade, a cumplicidade e mesmo a dor de muitos moradores da região.
Uma história assim não se apaga cortando cabeças, trucidando pessoas, queimando corpos e casas, destruindo documentos, negando pura e simplesmente um fato histórico. A vida acontece independente de quem a queira controlar. No Araguaia foi deixada uma semente, regada diariamente pela luta do povo, dali e do Brasil inteiro, que vai trilhando seu caminho com a certeza de que a vitória definitiva pode até ainda estar um pouco distante, mas vai sendo conquistada a cada passo. Ainda há muito a ser contado e aprendido sobre o que foi e o que significa a Guerrilha do Araguaia, um dos momentos mais importantes da luta democrática no Brasil contemporâneo. No fim vamos sorrir, até poderemos chorar, mas ainda assim seremos felizes, intensamente felizes por sonho de amor Brasil.
2 comentários:
Puxa, Inácio, fico orgulhosa de você, porque, além de tê-lo conhecido bem antes de tudo,digo, no tempo em que você era escoteiro, vejo que até hoje vc só dá orgulho aos sobralenses. Beijos.
Kátia
Puxa, Inácio, fico orgulhosa de você, porque, além de tê-lo conhecido bem antes de tudo,digo, no tempo em que você era escoteiro, vejo que até hoje vc só dá orgulho aos sobralenses. Beijos.
Kátia
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