segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Histórias iguais


Uma dos livros que mais marcaram minha vida foi Vidas Secas, do Graciliano Ramos, que li pela primeira vez aos 11 anos. Uma das músicas que mais me encantam é Fotografia 3x4, do Belchior. Neste vídeo isso tudo se juntou através do incrível talento de Nelson Pereira dos Santos. Num dá pra não se emocionar.

sábado, 29 de agosto de 2009

A perigosa travessia da Conferência de Comunicação

"Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difí­cil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra". Guimarães Rosa


Esta semana o debate sobre a Conferência Nacional de Comunicação – CONFECOM agitou os envolvidos por conta de um acordo firmado na Comissão Organizadora Nacional, que acabou cedendo às pressões dos empresários e definindo o percentual de representação em 40% para a sociedade civil não-empresarial, 40% para o empresariado e 20% para a representação do governo. Além disso foi estabelecido também o quórum qualificado de 60% para a aprovação de “questões sensíveis” . Ressalte-se que o Coletivo Intervozes foi o único a votar contra. Sem dúvida uma vitória dos empresários que há alguns dias retiraram parte de suas entidades da CON numa manobra para pressionar o governo a ceder, que acabou cedendo.

E aí, o que fazer? A resposta a essa pergunto marcou a discussão e esquentou o debate entre as entidades que lutam pela realização da conferência. Na Comissão Pro-Conferência do Ceará – CPC-CE, não foi diferente. A reunião da última quarta feira, dia 26, decidiu aprovar uma nota para ser assinada pelas entidades que concordassem com seu teor. Infelizmente um outro compromisso no mesmo horário da reunião impediu-me de comparecer, mas se tivesse comparecido jamais teria aceitado uma nota assinada individualmente afinal devemos buscar posições comuns e não estimular o “cada um por si”. Não é assim que se constrói unidade. Essa deve ser uma fixação dos que buscam a democratização das comunicações, afinal de contas o inimigo é poderoso e tem feito de tudo para impedir o sucesso da CONFECOM. Neste sentido, nos dividir só os fortalecerá ainda mais.

No dia seguinte a reunião foi enviada ao grupo de discussão da CPC-CE uma proposta de nota que condena a decisão da COM e defende uma percentual míinimo de “60% para a sociedade civil não-empresarial”. Caso a proposta não seja aceita as entidades devem se mobilizar “para alterar esses percentuais quando da leitura e aprovação do regimento interno da Conferência Estadual de Comunicação do Ceará e da própria Conferência Nacional, a fim de restabelecer a representatividade da sociedade civil não-empresarial”. Até aí não vi nada tão grave na proposta, apesar de achar que a correlação de forças no momento não parece favorável para bancarmos um a mudança de regimento nas plenárias finais das conferências. Porém o último parágrafo da proposta de nota me surpreendeu bastante. Diz o texto na íntegra: “Seu propósito de, em sendo cerceada a possibilidade de alteração dos regimentos internos, das conferências Nacional e estaduais, da cláusula que estabelece os percentuais de representação de cada segmento na composição do número de delegados, absterem-se de participação nos processos institucionais de realização das conferências estadual e nacional, mobilizando as organizações de outros estados a procederem da mesma forma e convocando a sociedade para a realização de Conferências Paralelas de comunicação nos âmbitos estadual e nacional, deslegitimando os processos institucionais ora em curso”.

Diante de tal sugestão fiz a seguinte argumentação:

“Tenho firmado que a CONFECOM é uma conquista principalmente da sociedade brasileira, mais até do que dos movimentos sociais, que será a grande beneficiada com sua realização, mesmo que os avanços que desejamos não surjam na primeira, que espero não ser a única. Sabemos que a guerra tem caráter estratégico e como tal será composta de muitas batalhas. Assim sendo devemos saber que teremos avanços e recuos, mas devemos ter "a certeza na frente" de que a história está conosco. Não se trata aqui de nenhum determinismo, mas é observando a paisagem que podemos imaginar que lá no horizonte, por mais distante que possa estar, nos parece muito favorável às nossas ideias avançadas para o Brasil. Diz um ditado por aí que "não se bate em cachorro morto", né verdade? E vocês poderiam me dizer porque a ANJ e suas similares andam tão preocupada com "os riscos de autoritarismos" que "ameaçam" a América Latina? Viram a nota dos 30 anos dessa associação patronal?

Esse leriado todo aí em cima é pra dizer que devemos ir até o fim nessa contenda, cientes de que não será nem mesmo na plenária final da CONFECOM, com ou sem empresários (e acho que eles irão), que nossa vitória se dará. Ali será um momento da guerra mais geral pela democratização da comunicação. Já falei antes que estamos acumulando vitórias nesse processo de mobilização da sociedade e tenho confiança que ainda acumularemos muito mais. Digo isso porque discordo INTEGRALMENTE de que as entidades devam "absterem-se de participação nos processos institucionais de realização das conferências estadual e nacional, mobilizando as organizações de outros estados a procederem da mesma forma e convocando a sociedade para a realização de Conferências Paralelas de comunicação nos âmbitos estadual e nacional, deslegitimando os processos institucionais ora em curso". Isso me parece algo inteiramente fora de propósito, descabido mesmo. O movimento social nunca teve tanta oportunidade de exercer seu protagonismo e agora vai pular fora do barco? Isso não cola com a nossa tradição de luta. Nada de "correr da raia, na de morrer na praia". Eu poderia alongar a prosa aqui por muito mais, porém fica aqui esse registro de minha discordância e a disposição de travar esse debate.

No que tange aos percentuais de representação e o quórum qualificado, concordo, assim como todo mundo, que a gracinha dos empresários não deve colar e devemos fazer esforços para amenizar, ou até tentar reverter na prática esse desvario. Não sei se todos viram a proposta da Comissão Pró de São Paulo. A formulação de lá me parece mais ajustada com a correlação de forças. Não temos força para bancar os 60%. Sejamos realistas. Vejam o que dizem lá:

“Por tudo isso, reivindicamos o fim do quórum de 60% para a aprovação das propostas e que a representação de delegados na Conferência não reserve vagas de antemão para nenhum setor da sociedade civil – conforme proposta já apresentada pelas organizações que integram a Comissão Nacional Pró-Conferência, na qual o poder público teria direito a 20% dos delegados e a sociedade civil (incluindo todos os seus segmentos), 80% e a aprovação dos temas na conferência observasse o critério já consagrado pelas outras conferências institucionais, o quórum de 50% +1 dos votos”.

Se alguém desejar ler a íntegra o Miro Borges a disponibilizou e vc pode ler aqui.

Minha gente amiga alonguei-me um pouco pra dizer algo que me parece relevante. Não pretendo, em nome do PCdoB, tomar nenhuma atitude isolada, mas não é de nossa história se isolar do curso mais geral das lutas.

Acho um equivoco que a CPC-CE debata em seu fórum de discussão uma nota para ser assinada individualmente pelas entidades que a compõem. Temos no PCdoB um mal que nos impregna a alma, a construção da unidade, ou a consolidação dela, ou a busca dela quando não existe, e é isso o que me move aqui. Essa unidade não deve existir sem um propósito, qual seja, fortalecer as lutas do povo e da sociedade.

Vi que prevaleceu ontem a idéia de focarem os esforços na construção e realização de conferencias livres em vez do espaço institucional. Perdôem-me a doentia sinceridade mas acho que se está contrapondo idéias que não se não chocam. O espaço institucional é uma conquista e devemos avançar nela, ao invés de abrir mão. Não quero aqui tomar uma posição isolada e mais, nem tive ainda oportunidade de conversar um pouco mais com outros companheiros do PCdoB e com o nosso coletivo. Aqui vai muito do meu "faro", mas imagino que não vamos deixar de participar dessa batalha, mesmo que em situação de desvantagem.

Amigos e amigas, estou lendo o livro "Do golpe ao Planalto", do Ricardo Kotscho, e esta manhã rememorei em leitura a batalha das diretas-já. Vivi todo o drama daquele momento como dirigente do DCE/UFC - primeira entidade a levantar essa bandeira, em maio de 1983, enquanto alguns diziam que era coisa institucional e que a palavra de ordem deveria ser ainda "abaixo a ditadura" - e sofri, assim como milhões, com a derrota da emenda Dante de Oliveira ( apesar da enorme mobilização social), mas acumulamos força para derrotar o regime militar no Colégio Eleitoral - amplamente favorável, em tese, ao Maluf - com Tancredo, Sarney e muito mais. Aquilo lá foi o início de muitas vitórias que vieram depois e deu no ambiente político que temos hoje, que permitiu, a duras penas a convocação da complicada CONFECOM. Cito esse episódio para ajudar os meus argumentos de que ainda teremos muitas dificuldades, mas não temos a derrota diante de nós. Tenho convicção disso.

Perdôem-me mais uma vez a lauda, mas estou aberto ao debate com minhas opiniões e, como dizia finado Augusto Pontes, se alguém me convencer que estou errado, eu as mudarei”.


Uma boa doutro Guilherme

Ontem à noite eu assisti no telejornal Repórter Brasil, da TV Brasil, uma reportagem sobre os cuidados que os pais devem ter com a alimentação de seus filhos. A certa altura o repórter entrevistou um garotinho chamado Guilherme que no café da manhã comia três paes.

- De onde vem tanta vontade de comer pão?

- Da barriga! De onde podia ser?

Amor não se vende

O primeiro banho de mar que eu tomei foi nas praias de Camocim, onde, de vez em quando, Dotô Luciano e Domaducarmo levavam as filharada numa rural Willys pra se esbaldar aos domingos. Eu achava uma coisa maravilhosa brincar entre canoas e saveiros "estacionadas" na Praia do Fortim, catar pedrinhas e búzios que enchiam a bagagem de volta pra Sobral e depois almoçar no restaurante do João Algodão, que deixar de pescar pra cozinhar deliciosamente peixes, camarões e carangueijos. Delícia maior e melhor não tinha.

No final dos anos 1970, já mais crescido e meio aventureiro, comecei a frequentar Camocim com minha turma de amigos, entre eles João (que compôs a belíssima "Barreiras", dedicada ao lugar) e Fernando Cela, sobrinhos netos do incrível pintor Raimundo Cela, um dos filhos mais importantes da cidade, apesar de nascido em Sobral. A gente se hospedava na casa de Dona Noemi, avó dos meninos, na Rua Engenheiro Privat, atrás do Camocim Clube. Ali, por várias ocasiões vivemos histórias inesquecíveis. Em Camocim, pela primeira vez encarei um passeio de barco em área de mar e, revelação inédita, pela primeira e única vez na vida, fiz nudismo numa praia ( próximo ao farol, onde certamente seria preso se ousasse nos dias de hoje).

De vez em quando ainda vou por lá passar uns dias de final de ainda, ainda com a família Cela, que hoje se integrou com parte da minha ( Veveu/Izolda e Nampaula/Fernando) e na mesma casa de antes. Nunca vou largar de gostar daquele lugar. E foi por que me arreteu com a notícia de que tem um anúncio na internet de que a "Ilha do Amor" está a venda por uns R$ 8 milhões. Quem oferece é uma tal de Tibério Imóveis, lá de São Paulo, que botou até um mapa com foto de satélite. Interessante que o anúncio, além de propagar o atrativo turístico do lugar, diz também que é "ideal para a implantação de um parque eólico". Esse detalhe não é à toa, afinal Camocim é uns dos melhores lugares para produção dessa energia renovável. Um dos projetos que estão sendo implantados por lá simplesmente vai dobrar os atuais 100 megawatts produzidos no resto do Ceará inteiro. Até pouco tempo as únicas atividades econômicas da ilha eram pesca artezanal e umas barraquinhas de praia malamanhadas. Pois agora apareceram até donos do pedaço, com papel passado e tudo. Imagine-se como isso tudo foi "legalizado".

Ontem, quando vi a notícia no jornal fiquei injuriado e lá pelo fim da manhã recebi um telefonema doutro que se arretou com o anúncio, o Carlinhos Décimo, que nasceu por aquelas beiras de praia e de lá também seu coração nunca tirou o anzol. A notícia é muito cheia de contradições, não se sabe direito se ali é terreno de marinha, se os órgãos ambientais autorizaram a ocupação ou alguma atividade produtiva, herdeiros do finado "proprietário" ainda disputam o espólio, alguns familiares "tiram o corpo de banda", etc e tal. O certo que jogaram uma verde e é preciso que os defensores da natureza e dos espaços públicos fiquem atentos. Nunca é demais lembrar que ali mesmo em Camocim um rede hoteleira quis, em nome da liberação das área de marinha, desalojar vilas de pescadores que existiam há quase um século. Tá na hora do atento Ministério Público Federal se ligar nessa também, antes que a ilha seja vendida e o amor vire vento.

Belchior e suas palavras

Faz quase uma semana que deram conta dum sumiço do Belchior. Eu confesso que nem me interessei muito em saber o que tava acontecendo mesmo, até uma mistura de falta de assunto da mídia, com uma jogadinha de marketing. O cabra anda sumido mesmo, alguém tá ali conversando, escuta uma música e lembra ele, pergunta e já responde: "Onde anda o rapaz latino americano? Taí um tema bom pra mobilizar a opinião pública". Pronto, arrumaro uma pauta praquela leseira da noite de domingo e assunto pra render alguns dias. Num acho nem que o Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenele Fernandes tá metido nisso, mas acho até que se deu bem voltando assim pra cena pública.

Lá em Sobral, onde a rapaziada num perde tempo prá tirar uma onda, um cabra sentou numa mesa do bodega do João Raul e juntou uma bem arrumadas linhas, botando palavras do Belchior junto com outras e deu esse texto criativo aí em baixo que o Luciano Filho, meu irmão caçula, mandou pra mim.

Leia que tá bem legal.


ARTE FINAL?

Domingo último, como de costume, eu me balançava na velha rede de solassol
enquanto assistia ao Fantástico. Pois foi ANTES DO FIM, quando já ia
desligando a televisão, que me deparei pelas ONDAS TROPICAIS com a
derradeira reportagem dando conta do sumiço do cantor e compósitos Belchior.
Estranhei.

Hoje, na HORA DO ALMOÇO, pus-me a pensar com meus botões: Sendo APENAS UM
RAPAZ LATINO-AMERICANO, A PALO SECO, estaria o grande Bel escapando da
DIVINA COMÉDIA HUMANA? Ou seria apenas fuga de uma ALUCINAÇÃO por MEDO DE
AVIÃO?

Em conversas PARALELAS, dizem tê-lo visto no MUCURIPE trajando uma VELHA
ROUPA COLORIDA, TODO SUJO DE BATOM e tecendo COMENTÁRIOS A RESPEITO DE JOHN.

Foi, quando identificado por uma FOTOGRAFIA 3x4, gritou: SAIA DO MEU CAMINHO
que eu já to é vendo GALOS, NOITES E QUINTAIS! Vou fugir na minha nave
ESPACIAL e me esconder do CLAMOR NO DESERTO, pra cantar aquela BALADA DO
AMOR e ler meu ALMANAQUE em paz!

COMO NOSSOS PAIS diziam, tem gente BRINCANDO COM A VIDA. Não que seja coisa
de RETÓRICA SENTIMENTAL, mas um SUJEITO DE SORTE não pode viver COMO O DIABO
GOSTA, pensando “se a vida não bebe, eu BEBO POR ELA”.

É, vai ver que tudo isso tenha ocorrido a BEL PRAZER, talvez até por algum
VÍCIO ELEGANTE, MEU CORDIAL BRASILEIRO. Afinal de contas, vivemos NUM PAÍS
FELIZ e, sendo a VIDA CIGANA, devemos seguir o PEQUENO MAPA DO TEMPO em
busca do PEQUENO PERFIL DE UM CIDADÃO COMUM.

No mais, ATÉ AMANHÃ, ou ATÉ MAIS VER, que eu vou pegar a RODAGEM e viver o
DOCE MISTÉRIO DA VIDA, a qual não vim a PASSEIO!

Toim da Meruoca
Bodega do João Raul, 14:30h do dia 24/08/2009



quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Patrimônio destruído

Em 2004, no início da campanha do Inácio Arruda para Prefeito de Fortaleza, o Carlos Décimo e eu visitamos vários imóveis de Fortaleza buscando o local ideal para montar o comitê central. Precisávamos de uma casa grande, em bom estado de conservação, com muitos cômodos, situada numa avenida bem movimentada, com boa área para estacionamento interno e/ou externo e cujo aluguel fosse razoável, que não sufocasse financeiramente a campanha. Encontramos tudo isso numa casa construída na primeira metade do século passado, situada na Avenida Santos Dumont, esquina com a Rua Carlos Vasconcelos, em frente à CEART.

Uma casa de dois pavimentos, com todos os requisitos necessários para montarmos um execelente QG da campanha. Mas tinha algo que nos fez desistir da idéia: sua beleza, os diversos objetos de decoração, os lustres de cristal, o acabamento e o próprio jardim, que apesar de não estar bem conservado, tinha plantas ornamentais e árvores frondosas. Além disso a casa tinha uma rica biblioteca e diversos quadros, alguns empilhados, correndo risco de sofrer danos. Tudo isso nos fez pensar melhor e optar por outra casa, não muito longe dali, e evitar que o "fuzuê" da campanha a danificasse.

O imóvel pertencia à família de uma médico, falecido no início dos anos 1960 e havia uma certa pendência entre herdeiros. Nele morava uma família que apenas fazia a conservação. Pois bem, nossa preocupação em conservar aquela bela casa, nem de longe existiu para os que a demoliram completamente, não sei se pra construir ou para transformar o terreno em estacionamento. O fato é que o cenário é esse aí que você tá vendo. A casa se foi, ficou um terreno abandonado.

Esse caso é mais um de tantos outros em que belíssimas casas de Fortaleza estão sendo demolidas. Ao longo da Avenida Santos Dumont já se foram dezenas delas sem que o poder público tome uma providência mínima. É o patrimônio da cidade literalmente indo abaixo.

Ditadura

"Foi um período entre 1964 e 1985 em que oficiais do exército ficaram na Presidência. Em 1967 eles (os oficiais) fizeram uma Constituição que desresoeitava os direitos dos trabalhadores e, para piorar, emendaram mais leis em 1969. Mas no final da década de 1970 apareceu um movimento chamado diretas-já que promoveu a democracia em 1985".
Guilherme Pires Carvalho

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Jornalismo encalhado

Engenheiro de pesca instalado no Planalto Central do Brasil, meu querido amigo Carlinhos Décimo ficou espantado hoje cedo ao ler no Blog do Eliomar que a população de Bitupitá havia transformado em "prato do dia" uma baleia jubarte que encalhou e morreu em sua praia. Coisa impossível de acontecer numa comunidade de pescadores onde o mar e suas criaturas são muito respeitadas.

O título da postagem era "Baleia encalha em Bitupita e vira prato do dia" e numa das fotos publicadas a legenda dizia que a população retalhou o animal para comer. Pois às 10:42 de hoje o dito blog fez nova postagem onde repoduziu a seguinte nota:

“Sou membro da equipe de resgate da Aquasis, uma ONG cearense responsável pelo atendimento a encalhes de mamíferos marinhos no Ceará há 15 anos.

Essa baleia trata-se de uma jubarte, de 10m de comprimento, que encalhou viva em Bitupitá no dia 21/08. Nossa equipe se deslocou ao local imediatamente após o chamado de resgate, onde permaneceu monitorando o animal durante o tempo todo. Infelizmente, durante a madrugada a baleia veio a óbito, à 1h20.

Assim que o dia amanheceu, começaram os procedimentos de exame macroscópico para coleta do maior número de informações possível que pudessem ajudar a elucidar a causa do encalhe e/ou óbito. E a foto postada na reportagem foi tirada durante esse procedimento. Vale ressaltar que foi realizado por equipe especializada. Todo material coletado será destinado única e exclusivamente para pesquisa.

O consumo de mamíferos marinhos é proibido por lei. A carcaça do animal foi devidamente enterrada no local, e nenhum morador teve acesso a sua carne para consumí-la ou fazer qualquer outro tipo de uso.

Obrigada.
Thaís Moura Campos"


Observe que a bióloga Thaís Campos faz questão de esclarecer que na foto os membros da Aquasis coletam material para exame macroscópico e "única e exclusivamente para pesquisa". Firma ainda que é proibido o consumo de mamíferos marinhos e que a carcaça foi enterrada, o demonstra que a população não consumiu a carne.

O curioso é que o jornalista Eliomar de Lima simplesmente apagou do seu blog a reportagem anterior que revelava a tremenda barrigada que deu e mais que isso, a profunda falta de respeito a população de Bitupitá, apresentada como verdadeiros animais carnívoros, retalhando o bicho morto. Mas como dizia a Domaducarmo que me botou nesse mundo, "história mal contada tem perna curta". O rastro ficou e também a falta de respeito do blogueiro.

Na "atualização" ficou o link da postagem anterior mas ao tentar acessá-lo encontrei a gracinha: "Oops! Esta página não foi encontrada..." O que houve? O autor ficou encabulado e resolveu esconder a barriga? Coisa mais feia! E a população, não é merecedora de pelo menos um pedido de desculpas?

E assim segue boa parte dos "donos da verdade" quando através de seus veículos de comunicação baixam uma sentença sobre algo ou alguém e, em nome da liberdade de imprensa, não aceitam nenhuma contestação. Quando dão mancada tentam esconder ou simplesmente soltam um "falha nossa". Nesse caso a coisa não foi das mais graves, mas revela uma prática que parece muito natural, mas que pra mim parece mesmo é desrespeitosa. O fato é um mero detalhe, o que vale é a versão. Nessa onda vão pelo ralo muitas reputações e trajetórias de vida. Alguém aí deve se lembrar da Escola Base, lá de São Paulo, né? Eu também.

domingo, 16 de agosto de 2009

Woodstock, música e amizade



Eu nem lembro direito qual foi a primeira e quantas vezes assisti ao documentário sobre o Festival de Woodstock, mas sei que me emocionei muito, gostei demais e por isso vi muitas vezes. Na época minha turma de amigos, que nunca deixou de existir, se encontrava muito, no Colégio Sobralense, nas nossas casas, nas praças do São João ou João Pessoa, no bosque - um lugar que ainda era pouco frequentado, mas nós frequentávamos todos os dias -, nos muitos lugares de Sobral em que pudéssemos desfrutar daquela amizade infinita que nos unia e une até hoje, mesmo ao Xyko e ao João Cícero que partiram mais cedo. A música exercia, e ainda exerce, uma forte influência em nossas vidas. Todos nunca deixamos de gostar muito de música e ela também nunca nos deixou. Alguns foram além do gostar e compuseram, tocaram e ainda tocam muita música.

É difícil, nestes dias de comemoração dos 40 anos de Woodstock, dizer o que mais gosto, qual música mais me toca. Há muitas mesmo, mas eu não queria deixar de regitrar uma e optei por "With A Little Help From My Friends", dos Beatles, que o Joe Cocker interpretou de uma maneira absolutamente antológica, sem que se possa fazer um só reparo e para que se possa deixar fluir toda emoção que se tem direito. Optei por ela para saudar meus amigos, O Xyko e o João (os apressadinhos, no dizer do finado Augusto Pontes), o Fernando, o João Rodrigues, o Adeodato, o Nildon "Iocc", o Jefferson, o Felipe e as meninas Nampaula e Maria (minhas irmãs e amigas, muito queridas), a Nanteresa, a Regina e a Adelaide, que naqueles tempos destoaram do comportamento sob medida que se cobrava delas principalmente.

Ali, quando os anos 1970 se despediam, a gente ousou, fez muito do queria fazer, arriscou a fazer o que não conseguiu e fez uma amizade infinita. Nada do que fizemos foi esquecido por nenhum de nós e tudo que fizemos marcou nossas vidas para sempre. Vivemos, curtimos, realizamos, crescemos, amamos, ficamos eternos e nunca nos faltou, "uma pequena ajuda dos amigos". A vocês, meus amigos e minhas amigas, carinho!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Aos 70 ainda samba

Há 22 anos, justamente no mês de agosto, comecei a trabalhar na assessoria parlamentar do então vereador do PCdoB de Fortaleza, Chico Lopes. A idéia era ficar até o final daquele mandato, que se encerrava em dezembro de 1988. Só que o Chico Lopes não foi reeleito por falta duns 50 votos , mas o Inácio Arruda foi ser o novo comunista na Câmara de Vereadores de Fortaleza. Eu já tava por lá, tinha certa experiência e daí pra cá só num trabalhei no Senado, onde agora tá o xará.

Mas eu comecei essa história pra dizer que o Chico Lopes já era tão discreto na comemoração do aniversário dele que nem lembro de saber a data naqueles tempos. Depois eu fiquei sabendo que ele gostava de ficar em casa escudando os vinis dele e tomando uma ou mais. Nunca consegui compartilhar dessa momento reservado dele e também nunca fui atrás também. Mas dessa vez ele num escapou e chegando aos 70 anos vai ter festa das boas. E o cabra se animou tanto que o Dalwton "Seu" Moura capturou uma bela entrevista que eu aconselho a você ler com muita satisfação.

Peguei um trecho apenas, justamente o que fala de aniversário. Prove um pouco e depois clique aqui pra ler todinha que vale a pena.


"Me sinto muito honrado e quero agradecer a iniciativa de alguns companheiros do PCdoB e da sociedade em fazer essa homenagem aos 70 anos. É a primeira vez que vou comemorar assim de público um aniversário. Fui muito homenageado quando professor, quando os alunos, no meu aniversário, levavam bolo pra sala de aula, faziam aquela festa toda. Geralmente era assim, no local de trabalho. Agora, eu mesmo, sempre preferi ficar mais reservado, em casa. O estatuto me dava direito, né? (risos)... Agora, este ano vai ser diferente. Estou muito feliz, mas não sei, sinceramente, como vou reagir a isso, tantos amigos reunidos, as pessoas lotando o Náutico, onde por muito tempo na minha vida eu nem podia entrar, porque era um clube de elite de Fortaleza. Então, por muito tempo, eu nunca poderia nem imaginar isso. De modo que estou muito feliz, porque é um reconhecimento, uma gentileza das pessoas que convivem há muito tempo comigo. Quero aproveitar e convidar a todos que possam ir, para que não deixem de estar presentes. Já que é pra ter festa, eu quero ver gente."

Coisa boa é chuva

Taí uma coisinha boa pra eu gostar é chuva. Quando chove de noite e eu tô em casa, na hora de dormir começo o sono numa rede que tá sempre armada na varanda. É bom demais se embalar com aquele barulhinho gostoso e um friozinho que joga a gente debaixo do lençol. Quando era mais menino do que hoje gostava de sair na rua pra tomar banho de chuva, curtia uma bica de jacaré, tomava banho até no rio Acaraú pra curtir os pingos batendo na água. Lembro também quando já morava em Fortaleza e voltava do Colégio Cearense debaixo dum toró sem fim. Num tinha problema, botava a pasta de livros debaixo da camisa do colégio e diminuia as passadas só pra prolongar o banho com roupa e tudo. Às vezes sobrava um carão da Mãe Teresa por conta da farda molhada e do risco de pegar uma gripe, mas a satisfação compensava o relho.

Mas e depois da chuva? Pois é, falei isso aí em cima pra dizer que depois da chuva fica um climazinho gostoso e tem gente que faz arte disso. E foi justamente uma arte dessas que encontrei no blog desfocado do Adeodato e trouxe aqui pra você curtir. Aproveite que dá até uma paz danada.

Olhe, antes que alguém venha aqui reclamar de que eu num me toco com o sofrimento do povo com as enchentes eu vou logo dizendo me parte a alma ver o sofrimento da gente minha, ainda mais porque o sofrimento dela é maior quando a chuva escasseia. Sei demais o que é vida nas terras áridas do sertão e por essa razão digo aqui o o sertanejo gosta demais da chuva e do bem que ela faz, por isso gosta também do depois da chuva. E tenho dito!



terça-feira, 11 de agosto de 2009

Uma Aquarela de 70 anos

Hoje cedo vi que a música encantadora, do genial Ary Barroso, Aquarela do Brasil, completa 70 anos. Pensei em falar sobre o assunto aqui mas na correria acabei sem falar. Só que meu amigo Adeodato, em seu blog, o mais desfocado das internet (um baita "slogan"), postou e eu pego carona com ele. Fique então com o que ele disse e a versão que ele, com seu conhecido bom gosto musical, escolheu.

Deleite-se.


Parabens pra você...

Há exatos 70 anos, Ary Barroso compunha "Aquarela do Brasil", a música brasileira mais conhecida no mundo, ao lado de "Garota de Ipanema", pondo o Brasil no cenário internacional da música.





"O SERTANEJO É, ANTES DE TUDO,
UM FORTE".
Euclides da Cunha

"EU SOU É FROUXO"
Tasso Jereissati

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Bergson numa crônica recortada

Ontem cheguei de São Paulo no início da tarde e fui direto pegar meu filho Guilherme pra curtir o nosso dia juntos. Trocamos presentes - ganhei uma belíssima caneca com um desenho dele e lhe dei brinquedos e um livro sobre os nossos "primos" símios -, conversamos muito, jantamos e depois fomos ver o que ainda restava de tarefa da escola pra essa segunda feira. Ele ainda tinha de localizar e recortar um texto com pelo menos cinco palavras com acento agudo e três com circunflexo. Fomos ao jornal O POVO de domingo e, aproveitando pra ler a coluna Das Antigas, onde o jornalista Demitri Tulio nos delicia com belas histórias aos sábados. Coisa mais certa que fiz. Rapidinho a tarefa escolar foi resolvida e ainda lemos uma saborosa crônica, que despertou a atenção do meu filhote, onde o Bergson Gurjão finda sendo o personagem, ou o mote principal do texto. Achei logo que deveria compartilhá-la com muito mais gente e por isso a trouxe todinha aqui pra você também ler.

Deleite-se com o talento e a sensibilidade do jornalista:


Só no ano 2000 ou um dia eu apareço

Achava que o ano 2000 não chegaria. Distante, enigmático. E, se chegasse, havia a possibilidade de o mundo se acabar. Por fogo, água inundando tudo ou exterminado por causa da tão aguardada III Grande Guerra Mundial. Na escola, numa daquelas segundas-feiras chatas pela manhã, a discussão entre os pré-universitários era uma reportagem do Fantástico (o show da vida!) sobre a profecia de um misterioso Nostradamus. Arco, flecha e o fim.

Do basculante da sala de receber, se viam os dias dos anos 70 correrem num fusquinha café-com-leite. Quente, fedido de gasolina cara. Combustível comprado no mocó, porque as bombas estavam proibidas a partir da sexta-feira à meia-noite, no sábado e domingos-família. Em preto e branco e racionamento general.

No ano 2000, não haveria assim. Seria em cores, dentro de uma nave espacial dos Jetsons movida à casca de banana de fazer voar e soltar fumaça de doce Real. Por enquanto, ainda andávamos Flinstones. Empurrando o fusca para pegar no tranco e quase sempre pifar em frente ao portão do colégio. De mangar de quem não tinha um Corcel (azul caixão de anjo) zero bala.

Mas era uma questão de tempo. No futuro, 30 anos prafrentex, seríamos outros. Aprovados no vestibular da Medicina, acadêmicos do Direito ou concursados do Banco do Brasil ou do Instituto Rio Branco. Finalmente testar o inglês. O ano 2000, se não acabasse com os mundinhos, prometia.

Só no ano 2000 seríamos, finalmente, felizes. Casa com bidê, banheiro com descarga em vez de balde e chuveiro grosso no lugar da bacia de alumínio. O guarda-roupa viria embutido numa parede de algum conjunto residencial do Bradesco. Piso no taco. Garagem, área de guardar o Opala (Opala?), grama, pé de jambo lilás, jardim de inverno suspenso próximo à mesa de almoçar e periquitos australianos (verdes e amarelos) trilando.

Quem se formasse, tardaria, iria adquirir até uma linha telefônica e não perturbaria mais o vizinho nas horas mais incômodas. Notícias de Bergson? Não. Bem... Compraria uma enceradeira, um Mido e um filtro ozonizado que ficaria acoplado à torneira da cozinha azulejada...

Queria que 2000 rebentasse logo, mesmo com medo dos boatos sobre o derradeiro. De se imaginar encerrado, mutemo, censurado. Mas fez assim, se juntou com alguns bons amigos (flor da idade) e foi protestar após o vestibular. Fez carreira, levou bordoada, foi preso, torturado, solto, mas não se aquietou. Era novo demais para não apostar.

Não iria esperar pelo ano 2000. Mesmo correndo o risco de desviver, foi guerrilhar. Por ele, por Tânia fraterna, contra o fim do mundo... Num 1972, Luíza sobressaltou-se do nada. “Desviveram meu filho”. Choro.

E foi. Não viu o 2000 virar nem soube que ainda se torce por uma espetacular III Guerra
.


quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Mariano e o estudante Bergson

O Vermelho/CE publicou mais uma excelente matéria sobre a trajetória do estudante cearense e militante do PCdoB, Bergson Gurjão Farias, morte em combate na Guerrilha do Araguaia. Agora quem fala é o médico Mariano Freitas, autor do livro "Nós, os estudantes" e dono de uma memória fantástica. Um detalhe é que Mariano era "adversário político" do Bergson, pois militava na Ação Popular (AP), o que num impediu dos dois terem uma grande amizade. Vale mesmo a pena ler a matéria feita pela Carolina Campos, que vai tirar uns dias de férias do Vermelho, mas logo volta pra continuar seu excelente trabalho.

Mariano diz sobre Bergson:


"Ele defendia que era preciso ampliar as ações do movimento estudantil e garantir que as manifestações seriam ordeiras e pacíficas. Ele lutava para que o movimento não fosse taxado de baderneiro porque isso esvaziaria as manifestações. Bergson era o defensor mais ferrenho desta compreensão pois acreditava que para crescer, o movimento estudantil precisava ter credibilidade".


Clique bem aqui e pra ler a matéria todinha.

Fora da Lei

A coluna Vertical, do jornal O POVO, edição do dia 24.07.09, traz esse notinha aí abaixo:

NA REDE

Depois de faturar uma TV para Sobral, o grupo de comunicação do senador tucano Tasso Jereissati acaba de conquistar mais três concessões de rádio FM. As emissoras serão instaladas nos municípios de Crateús, Crato e Quixeramobim.

Agora vamos dar uma espiada no que diz a Constituição:

"Art. 54 - Os Deputados e Senadores não poderão:
I - desde a expedição do diploma:
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes;"

É um santo!!!