domingo, 31 de julho de 2011

O bom combate

Cláudio Ferreira Lima


O Brasil, como qualquer país, tem peculiaridades, por exemplo, o seu ritmo histórico. Para José de Souza Martins, “somos estruturalmente uma sociedade de história lenta”. De avanços em troca de recuos. Nesse sentido, o que se observa, segundo ele, “é o Brasil moderno pagando propina ao Brasil arcaico para se viabilizar” e tal se explica, prossegue ele, pela “singularidade de um país que não fez propriamente revoluções históricas, senão pela metade e inconclusas”.

Em outras palavras, não houve rupturas para valer. Por essa razão, já se disse que a história do Brasil pode ser sintetizada numa só palavra: conciliação. Conciliação das elites, claro. Elites modernas e arcaicas, que, através da história, deixam o povo, a ferro e fogo, sempre à margem, sob uma ordem garantida pelo sufocamento das insurreições e dos movimentos sociais. Remember o ditado: “Quem viver em Pernambuco/não se faça de rogado,/ pois há de ser um Cavalcanti/ ou há de ser cavalgado”.

O resultado disso é que a desigualdade com que o País nasceu pela escravização e marginalização de índios, brancos, negros e mestiços persistiu, até se acumular uma dívida social gigantesca.

sábado, 30 de julho de 2011

Da Lama aos Caos

Fome tem nome

“A fome não é um produto da superpopulação: a fome já existia em massa antes do fenômeno da explosão demográfica do pós-guerra. Apenas esta fome que dizimava as populações do Terceiro Mundo era escamoteada, era abafada, era escondida. Não se falava do assunto que era vergonhoso: a fome era tabu. Hoje já se fala abertamente e o problema transformou-se num grande escândalo internacional.
Não só a fome existia antes, mas também existe hoje em regiões que estão longe de ser superpovoadas. Muitas áreas de fome no mundo são áreas de baixa densidade de população, como acontece na África e na América Latina, continentes subpovoados, ao contrário da Europa bem alimentada e de maior povoamento.
A fome é, regra geral, o produto das estruturas econômicas defeituosas e não de condições naturais insuperáveis. Querer justificar a fome do mundo como um fenômeno natural e inevitável não passa de uma técnica de mistificação para ocultar as verdadeiras causas que foram, no passado, o tipo de exploração colonial imposto à maioria dos povos do mundo, e, no presente, o neocolonialismo econômico a que estão submetidos os países de economia primária, dependentes, subdesenvolvidos, que são também países de fome.”
Josué de Castro, em Fome, um tema proibido

Os verdadeiros bandidos que atuam na Somália não são piratas

Um alarde danado se faz hoje em dia por conta da fome que consome a vida dos somalis. É uma tragédia feia, uma desgraceira que atinge a metade da população e que precisa receber solidariedade e apoio real das nações e dos povos, como tem feito o Brasil, que vai contribuir com cerca de 10% dos recursos necessários.

Mas a Somália também está nos meios de comunicação por conta dos chamados "piratas" que atacam navios que "pacificamente navegam na costa oriental da África". Há mais de dois anos tratei desse assunto e chamei atenção para quem de fato está cometendo crimes naquela região. Semana passada recebi um vídeo que ajuda a compreender muito mais o crime cometido justamente pelos que acusam os miseráveis somalis. A história lembra aquela em que um ladão grita "pega ladrão" pra distrair as pessoas, enquanto foge e se livra da punição.

Enquanto a ONU tenta arrecadar cerca de 360 milhões de dólares para aliviar a fome no chamado "Chifre da  África", Espanha e França gastam 72 milhões de euros por ano na Operação Atalanta, que envolve dezenas de navios e milhares de soldados para enfrentar pescadores em seus pequenos barcos que resistem à pesca ilegal em suas águas, onde os países ricos também despejam lixo tóxico, inclusive nuclear. Inacreditável, né? Pois gaste pouco mais de 20 minutos do seu tempo assistindo esse vídeo abaixo e tire suas conclusões.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Zero pros Isteites

Guilherme é um curtidor de quadrinhos e, de vez em quando, me chama pra ver uma historinha boa. Ontem ele estava lendo uma das minhas revistas do Recruta Zero (pequeno detalhe: faz parte do meu pequeno acervo a primeira edição brasileira do recruta folgado) e me sugeriu essa historinha abaixo, com a seguinte observação:
- Pai, a gente devia mostrar essa historinha pros Estados Unidos, né?

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Fotos boas demais

Sou um cabra fissurado por fotografia, capaz de ficar horas olhado fotos e, quando me meto a fotografar, acordo a hora que for preciso, vou atrás do melhor ângulo e fico arretado quando vejo algo "fotografável", mas não estou com a minha Sonynha. Se quiser me fazer feliz, made-me fotos interessantes, como vez a pessoa querida que me mandou o endereço do site Totally Cool Pix, onde há fotos de todo jeito, com uma qualidade impressionante.

Um dos álbuns do site é tem as Melhores Fotos da 1ª Década do 21º Século e vale a pena dar uma olhada. Há coisa que você já deve conhecer, mas há principalemente um olhar diferente de muitos fatos que você já conhece. É impossivel escolher a melhor foto ou até mesmo as melhores, já que cada uma é melhor que a outra. Separei algumas, muito influenciado por meu gosto estético e político, mas não se deixe influenciar e veja lá, sem pensar em fazer escolhas.

Pouca água e muitas cores na África

Muro da vergonha israelense restringe a vida dos palestinos

O drama do menino cubano Elián, sequestrado por anticastritas de Miami

Palestino desafia a arrogância militar do sionismo de Israel

"No, no, no" dos ingleses contra a invasão do Iraque
Alegria inquietante

Linda, simplesmente uma foto linda!


Igual diferente

O Brasil e os cavaleiros da justiça

Breivik mirou no progresso social
Muita gente, com toda razão, ficou chocada com o atentado praticado por aquele rapaz branco, loiro,cristão fundamentalista declarado e direitista militante, que até já havia gerado suspeitas na polícia norueguesa. Não foi levado a sério porque a Noruega é tida como uma terra pacífica. O garotão comprou toneladas de produtos químicos e, mesmo com uma sabida militância fascista, ninguém desconfiou de suas más intensões. Mesma confiança talvez não tivessem se fosse um migrante, especialmente árabe, muçulmano ou um negro africano. Não custa lembrar que no dia do atentado a culpa caiu em cima da turma do finado Osama.

Pois bem, o "lorão" fez o distroço, agora resolveram investigar mais sua vida e já viram que boa intensão ele nunca teve. Aliás, no manifesto de 1500 páginas, batizada de "Declaração Européia de Independência" e que certamente não tem apenas um autor, nem foi feito duma hora pra outra e já tava na internet, ele fala que se preparava desde 2009, mas ninguém desconfiava. Vão já descobrir que ele não agiu sozinho e sim ao lado de outros "cavaleiros da justiça", já sabem que ele tinha ligações com outras organizações direitistas, neonazistas e fascistas europeias e é bem capaz de acharem alguma articulação paramilitar latente em vários países, inclusive com a complacência, a até a simpatia, de alguns governantes fascistóides, como o Sarkozy, que já espancava imigrantes quando era Ministro do Interior da França.


Essa situação lá na Europa ainda pode se agravar muito mais e a gente precisa ficar ligado porque o clima vai esquentar com a incapacidade dos governos solucionarem a crise capitalista. Grécia, Espanha, Portugal, Islândia já estão no sufoco e agora a Itália vai no mesmo rumo. Não sei se as forças progressitas estão em condições de conduzir a luta popular, mas morro de medo da saída ser pela direita, o que vai tornar a vida ainda mais calamitosa, parecida com um certo período ocorrido há uns 70 anos, que acabou desembocando na Segunda Guerra Mundial.

Ideias fascistas circulam por aqui
Agora, o que você acha dum tipo de gente que, aqui no Brasil, não se encabula pregar a morte de nordestinos; de usar os meios de comunicação pra defender a exclusão social e econômica; de espancar, morder e até assassinar homossexuais? E o que você diz dum pessoal que escravisa trabalhadores e ainda fuzila fiscais do trabalho que tentam impedir essa desumanidade? E o que pensar de quem reclama do governo que "estimulou a malandragem" através dos "programas sociais paternalistas", que está cansado de procurar, e não encontrar, quem queira ser empregada doméstica, porque agora só quer trabalhar de carteira assinada? E vai dizer que você nunca encontrou gente reclamando que agora os aeroportos parecem rodoviárias com tanta "gente diferenciada", igual aquela que quer desembarcar no Metrô de Higienópolis?


Pois é turma. Ainda temos tempo e jeito pra impedir que cresça no Brasil uma "resistência saudável" à miscigenação brasileira que, nas palavras do terrorista norueguês, é responsável pelos "altos níveis de corrupção, falta de produtividade e em um conflito eterno entre várias culturas". Não quero anunciar tempo ruim, mas não posso deixar de dizer que me preocupa muito que a maioria da imprensa  brasileira está mais preocupada em discutir se o criminoso europeu vai pegar apenas 21 anos de cadeia, curtidos em celas com tv de plasma, cama confortável e academia de ginástica, do que as razões verdadeiras daquela barbárie. Não faz muito tempo a Folha de São Paulo apelidou a regime militar de "ditabranda", saudada em 1964 como salvação da pátria contra os comunistas ( os mesmos que também são criticados pelo bandido norueguês) e abençoada por uma tal "marcha da família, com deus pela liberdade".

O povo tem que se ligar pra impulsionar as mudanças
Por aqui também se fala que o Brasil é um país pacífico, não tem guerras e até a natureza nos livrou de terremotos. Pois eu acho bom ficar com os sismógrafos políticos e sociais ligados. A verborreia moralista grassa por todo canto, as tentativas de impedir o sucesso do governo federal e de governos estaduais são descaradas e não faltam ataques aos movimento sociais, força estratégica para impulsionar as transformações que o Brasil carece. O quadro pode parecer tranquilo, mas vale lembrar o velho ditado do "seguro que morreu velho"



Tranquilidade


Um turista registrou o centro de Oslo logo após as explosões terroristas da semana passada. Confesso que me chamou atenção a tranquilidade da população, talvez até devido a certa incredulidade, ou mesmo incompreensão sobre o que havia acontecido. O fato é que havia acontecido algo muito grave, inclusive no mesmo edifício onde funciona o gabinete do Primeiro Ministro, e o mais aterrador ainda aconteceria duas horas depois com o fuzilamento de dezenas de jovens militantes do partido de centro esquerda (espécie de PT brasileiro) que governa o país.

Postagem atualizada às 9:50, do dia 27/07

sábado, 23 de julho de 2011

Eu não tenho tempo



O título desta postagem é uma frase de Rehab, composta pela própria Amy Winehouse, prenunciando que sua vida seria mais intensa do que longa.

Em sua última presença num palco, Amy deu mais uma força pra sua amadrinhada  Dionne Bromfield, de 15 anos.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Alegria de ser sobralense

Escuta que eu falo

Há um tempo, durante o programa Espaço Aberto, da rádio CidadeAm 860, de Fortaleza, ajudei a entrevistar a professora Vanda Leitão, da Universidade Federal do Ceará, pesquisadora na área de educação de surdos, fiquei sabendo de coisas muito interessantes sobre a Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS), que na verdade é uma língua, com todas suas características muito especiais. Fiquei sabendo, por exemplo, que uma pessoa surda (nunca diga surda e muda, já que não existem pessoas mudas, ou seja que não falam, porque na verdade, elas falam através da libras), ao fazer um trabalho escrito, uma prova de redação na escola, por exemplo, ela necessita que as instruções venham na linguagem própria e ela redigirá da mesma forma.

Nestes dias, visitando o Blog do Laprovitera, vi uma postagem muito interessante, sobre a Linguagem Brasileiras de Sinais, extraida do Portal Libras, onde você pode saber mais sobre o assunto. O texto começa bem a partir do título, que também uso nesta postagem. Veja se num é legal:


Pra quem gosta de um dedim de prosa

Libras é a sigla da Língua Brasileira de Sinais



As Línguas de Sinais (LS) são as línguas naturais das comunidades surdas.
Ao contrário do que muitos imaginam, as Línguas de Sinais não são simplesmente mímicas e gestos soltos, utilizados pelos surdos para facilitar a comunicação. São línguas com estruturas gramaticais próprias.
Atribui-se às Línguas de Sinais o status de língua porque elas também são compostas pelos níveis lingüísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico.
O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas oral-auditivas são denominados sinais nas línguas de sinais.
O que diferencia as Línguas de Sinais das demais línguas é a sua modalidade visual-espacial.
Assim, uma pessoa que entra em contato com uma Língua de Sinais irá aprender uma outra língua, como o Francês, Inglês etc.
Os seus usuários podem discutir filosofia ou política e até mesmo produzir poemas e peças teatrais.

Saiba mais no blog Libras, a poesia com as mãos

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Canção Amiga



Carlos Drummond de Andrade(versos poéticos)
 Milton Nascimento (versos musicais)

Rebeca não se deixa enquadrar

"Eu já passei por muitos momentos na minha vida. Já fui julgada, sofri todo tipo de preconceito, fui rotulada e difamada. Acho que todo mundo tem o direito de pensar o que quiser e ter esse livre arbítrio, mas daí faltar com o respeito, esquecer que todo mundo tem família, sentimentos, isso eu sou contra. Sou uma pessoa que não julgo ninguém pela aparência, classe social, religião, orientação sexual ou cor, sou contra pessoas que fazem esse julgamento e tiro essa força de tudo que passei e luto por tudo que acredito. Obstáculos fazem parte de grandes conquistas e o que me move é a energia de acreditar que podemos mudar isso é como Che Guevara dizia: “Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário.” E é assim que me sinto".
Essa declaração aí em cima é da atleta Rebeca Gusmão numa entrevista concedida ao Blog do Sorrentino. Aí está uma síntese do pensamento dessa mulher ousada, determinada e que sofreu bastante, mas soube dar a volta por cima e está ajustando a vida. Vale a pena ler toda a entrevista e entender um pouco mais como a vida dos grandes atletas não tem todo o glamour que se imagina e como a mídia e os esquemas do chamado "mundo do esporte" mexer muito com a vida duma criatura que não se deixa enquadrar.
Para ler a entrevista completa, clique aqui

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Parabéns, Madiba!

Ao 93 anos, Mandela inspira o sorriso da juventude


"Se com a idade a gente dá pra repetir certas histórias, não é demência senil, é porque certas histórias não param de acontecer em nós até o fim da vida".
Chico Buarque
Leite Derramado

Passeio passado em Camocim

Fui à Camocim no sábado, dia 16, para um reunião com o PCdoB de lá. Antes passei por Sobral, onde estava meu filho Guilherme, que se animou para viajar junto. A cidade praiana é um xodó meu há muitos anos, foi lá que conheci mar e praia, junto com papai, mamãe, irmãos e irmãs. Depois, gente crescente e adolescente, fui muitas vezes e, sempre que posso, vou mais.

Gui agora viaja ao meu lado, como co-piloto
Pela primeira vez Guilherme e eu viajamos pra lá só nós dois, pela primeira vezes ele viajou ao meu lado, como carona do carro. Resolvemos fazer uma programação diferente na cidade, antes da minha reunião, prevista pro sábado, às 14h. Chegamos ao final da tarde de sexta, dia primeiro da lua cheia do mês e nos programamos pra esperar a bonita surgir na linha da praia. Antes nos hospedamos numa pousada nova na cidade, pertencente a um japonês. Seu Mário não revelou como foi parar ali, mas soltou um enigmático "é uma longa história", que me fez pensar se ele num é mais um daqueles soldados japoneses que somente há pouco tempo se deram conta de que a 2ª Guerra Mundial acabou há mais de 60 anos, ele parecer ter idade pra isso.

Não há foto ruim que esconda a beleza da Lua
Depois de quase pegarmos a lua com  mão, mas sem conseguir fotografá-la direito por conta do vento forte e da falta que me faz um tripé de responsa pra Sonynha, demos mais um giro pela cidade, tomamos um delicioso sorvete local, vimos um reisado gaito e arreamos no sono depois dum banho quente no bangalô do Seu Mário e da Dona Né, palavra que a mulher repete 11 vezes a cada 10 que pronuncia.

Devoto franciscano circula a caráter pelo mercado
Sábado amanhecido, café da manhã tomado, vestidos para a praia, foi pra lá que não fomos. O tempo tava meio feioso e a disposição do Guilherme era pouca, quase nenhuma. Fomos então circular na cidade. Apresentei uns lugares que eu já conhecia e outros conhecemos juntos. O mercado é lugar que sempre vou pra sentir cheiros, escutar a fala arrastada e as gaiatices (um sujeito anunciava a venda dum filhote de gato por um real, parcelado em três vezes - quase de graça!), encher os olhos de cores, ver gente curiosa e também ter raiva da falta de cuidado com lugares tão especiais como aquele, onde a cidade pulsa intensamente.

Ruinas da Estação Ferroviária
Do mercado fomos a Praia dos Coqueiros, reduto de pescadores, ao Cais do Porto, recuperado pelo Presidente Lula, e à área onde funcionou a Estação Ferroviária e suas oficinas, quase tudo em ruinas, restando de pé apenas a sede da administração, onde agora funciona a Prefeitura Municipal. É um conjunto cheio de memória do desenvolvimento daquela cidade em épocas passadas e das lutas dos trabalhadores, com forte participação dos comunistas, que ali tinham sua principal força no Ceará, tendo eleito na década de 1940, o vereador Pedro Rufino. Fiquei animado com o movimento no cais, mas também vi sucatas de barcos pesqueiros e não dá pra ficar triste com o abandono da ferrovia. No passado não cheguei a pegar o trem circulando, mas ainda vi tudo aquilo de pé, numa beleza de encher os olhos.

Aqui ninguém escapa da lingua anavalhada
Antes da reunião e do almoço no Fortim, restaurante que existe há mais de 40 e onde vivi muitas histórias desde menino, resolvi fazer cabelo e barba num lugar bem popular da cidade, onde a prosa corre solta, fala-se de tudo e de quase todos, o macharal faz fila na manicure e sai com as unhas brilhando de base. Seu Benedito trabalha bem, gosta duma gaitada e no final me falou dum cliente seu por quem ele tem muito respeito e admiração. Deixei encomendado um abraço pro Dr João Conrado. velho amigo sobralense,  e apalavrada uma visita minha na próxima ocasião.

A reunião das duas começou com atraso grande, chegou gente, inclusive de Chaval, até o fim, a prosa tratou do passado, do presente e do futuro do partido na região - vamos ver no que vai dar - e depois os cabra ainda traçaram uma janta leve praquele começo de noite: feijoda regada a umas poucas garrafas de cervejão. Dispensei a cortesia porque estrada noturna, mal sinalizada e  molhada de chuva num é lugar de barriga pesada. Deixei o Guilherme no comando do som, tal como na ida, e em menos de duas horas, chegamos à casa onde cresci de menino pra rapaz, pegamos no sono e de manhã caimos na estrada de volta pra Fortaleza. Na capital ainda fomos espiar o SANA2011 e visitar o Domaducarmo e o Dotô Luciano, que num aguentou dois dias de saudade e veio pra perto da sua amada.

Chego em casa, vou saber das novas na internet e dou de cara com o vídeo Camocim do Totonho Laprovitera, pendurado no blog do próprio, junto com muita coisa boa e que lhe convido pra por lá ir e se divertir muito.


Abaixo mais algumas belezas de Camocim, mesmo numa manhã acinzentada, sem o realce do azul brilhante do céu e a energia do sol.


Cheiros e cores diversas nas bancas do Mercado Municipal
A fachada da Estação Ferroviária ainda é preservada, o mais, é ruina

Os pescadores que inspiraram Raimundo Cela ainda estão por lá

No Cais do Porto recuperado barcos são preparado para a pesca

terça-feira, 12 de julho de 2011

Que os sonhos não envelheçam

Eu ainda era adolescente lá em Sobral quando escutei pela primeira vez a expressão "os sonhos não envelhecem", da lavra dos irmãos Lô e Márcio Borges junto com Milton Nascimento. Na época eu começava a cultivar alguns sonhos ao lado de um clube de amigos que existe até hoje, mesmo que alguns sócios já não estejam mais entre nós. Nossos sonhos eram cultivados nas ruas e praças da cidade onde espalhávamos uma descontração e uma alegria de viver nem sempre compreendidas por nossos conterrâneos da época. Cultivamos sonhos nas casas dos sócios, ouvindo e fazendo música, tocando violão, dançando, namorando as sócias (alguns casais existem até hoje), sonhando e já realizando os primeiros sonhos. Hoje, homens feitos e mulheres feitas, ninguém largou seus sonhos e, cada qual ao seu modo, tratou de torná-los reais. Realizar sonhos é encarar desafios, superá-los e fazer a vida melhor.

Uma realizadora de sonhos é a Maria, nossa sócia e da Em Pauta Produções, que daqui um mês vai levar o Lô Borges pra cantar em Sobral, onde vamos nos encontrar e compartilhar emoções, relembrar sonhos e nos esbaldarmos na alegria sobralense. Vai ser um dia pra nunca esquecer na vida e renovar nossa certeza de que os sonhos são reais.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Veveu: “Gostar muito de Sobral é a nossa definição”

Advogado, 53 anos e filiado, desde 1988, ao Partido dos Trabalhadores, José Clodoveu de Arruda Coêlho Neto, mais conhecido como Veveu Arruda, foi vereador e, em seguida, Secretário de Cultura do Governo Cid Gomes, quando esse foi prefeito de Sobral. Eleito por duas vezes vice-prefeito, assumiu o cargo máximo do município este ano, após seu antecessor, Leônidas Cristino deixar o cargo para a assumir a Secretaria Especial dos Portos. Na entrevista a seguir Veveu conta sobre sua relação com a cidade e já adianta projetos futuros.


Veveu tem alegria de ser sobralense e quer Sobral mais humana
O senhor nasceu em Sobral, no ano de 1958. Qual a lembrança mais marcante que o senhor tem da cidade?

Na minha infância Sobral era o meu parque de diversões. Os quintais, as calçadas, as praças, os sobrados e os casarões. O rio Acaraú, com muita areia e pouca água, eram espaços lúdicos para as brincadeiras com meus irmãos, amigos e, às vezes, sozinho.

O que mais mudou na cidade ao longo dos anos?

Para concluir meu científico, precisei ir em 1976, eu e meus amigos, para Fortaleza, porque aqui não tínhamos um bom 3º ano. Hoje temos três universidades públicas, inclusive com excelentes cursos de pós-graduação, além de duas faculdades privadas. Há também uma escola estadual de educação profissional funcionando e outra em construção. No Ceará, das 47 escolas públicas que alcançaram a nota 6 no INEP, desafio estabelecido pelo Ministério da Educação para o ano de 2021, para cumprir as metas da educação dos Objetivos do Milênio (ODM), 37 destas escolas são do Município de Sobral.

Qual a importância que Sobral tem hoje para o Ceará?

A concepção política de desenvolvimento regional e local encontra em Sobral um bom exemplo. A equivocada lógica de desenvolvimento praticada no passado esvaziava as regras que compõem o Estado, em detrimento de um crescimento de Fortaleza, que acarretou para a nossa capital enormes e graves problemas sociais, econômicos e de infraestrutura urbana. Imagine, em toda a história do Ceará, termos sete hospitais estaduais em Fortaleza e nenhum no interior do Ceará. O Governador Cid Gomes então inova e começa a mudar esta realidade. Sobral reagiu a isto e se reconstruiu com base nas políticas públicas elaboradas e executadas em articulação com a sociedade e reforçando a ideia de desconcentração territorial e distribuição de renda como estratégia de desenvolvimento. Daí alguma importância de Sobral como exemplo para as políticas públicas.

É possível fazer uma previsão para daqui a 10 anos?

O planejamento estratégico participativo e com uma visão do futuro que usamos aqui ajuda a responder sua pergunta. Ampliar a base econômica do município, aumentando a riqueza da população e erradicando a pobreza extrema; atender toda a demanda do ensino infantil (de 0 a 5 anos), mantendo o aperfeiçoamento do ensino fundamental; os equipamentos estaduais como o Hospital regional e a Policlínica, atendendo as demandas na atenção secundária e terciária, permitirão a maior qualificação no atendimento das demandas oriundas da atenção primária, assegurando um dos melhores sistemas municipais de saúde do Brasil; as melhorias urbanísticas (transporte, habitação, etc.) focadas na ideia de que a cidade é o lugar das pessoas, e que elas devem viver bem. Este planejamento busca sempre aproximar a cidade real da cidade dos nossos sonhos.

Na sua avaliação, que pontos a cidade precisa investir mais agora para continuar crescendo?

Sempre no esforço de manter as conquistas já asseguradas; aperfeiçoá-las corrigindo as distorções e o permanente exercício da inovação e criação nas políticas públicas, visando a qualidade de vida das pessoas, especialmente as mais empobrecidas. Mas quero acentuar a prioridade da geração de emprego e renda, com uma política voltada para o desenvolvimento econômico que fortaleça a agricultura familiar e os pequenos e médios empreendimentos, como também uma intensa política de novos empreendimentos conectados com projetos estruturantes do Estado e da União., que nos permitam pensar na implantação de um pólo metal-mecânico e um porto seco, por exemplo.
Veveu cultiva em casa o jeito de ser sobralense

O senhor foi Secretário de Cultura e superintendente do IPHAN. Qual a importância da cultura do seu governo e quais os planos do sua gestão para este campo?

A política cultural em Sobral tem um papel estratégico, pois vamos além de uma política de organização, fomento e apoio às artes, mas é estruturante das diversas políticas públicas, afirmando o nosso jeito de ser.

Outro ponto que vem ganhando elogios em Sobral é a educação. A que o senhor atribui a melhoria nos índices e quais os desafios daqui pra frente?

Os avanços da educação de Sobral foram possíveis em função da decisão política de valorizar a competência para combater o fracasso escolar. A partir dessa decisão, um conjunto de ações fora desenvolvidas, tais como a formação de professores, material didático específico para os alunos de cada série, seleção de diretores e coordenadores por critérios meritocráticos formação de diretores e coordenadores, processo de avaliação externa de todos os alunos, criação e acompanhamento de indicadores de qualidade e uma política de incentivo por desempenho ao professor. Os grandes desafios são manter e qualificar a aprendizagem dos alunos do 1º ao 9º ano, universalizar o atendimento da educação infantil e construir a escola de tempo integral para todos os alunos.

O que é ser sobralense?

Uma historinha: meu pai, 80 anos, assistia a um telejornal que noticiava uma onda de calor no país, especialmente no Nordeste, quando a repórter citou Sobral como tendo o clima mais quente do país naquele dia. Então papai comentou de repente: “besteira menina, um calorzinho deste faz é bem”. Gostar muito de Sobral é nossa definição.

Que presente o senhor gostaria de dar para a cidade neste aniversário?

A sabedoria coletiva para continuarmos unidos, trabalhando pelo bem de todos nós que vivemos em Sobral, respeitando as diferenças e a pluralidade; praticando a democracia, a solidariedade e o humanismo.

Entrevista publicada no Caderno Especial do jornal O POVO sobre os 238 anos de Sobral

Aboio e sanfona

Bem aí embaixo puxei uma homenagem à Dina, vaqueira cearense que o Gilmar de Carvalho chama de Rainha Vaqueira. Mas como no sertão também uma prosa puxa outra, achei de chamar o Mestre Lula pra cantar Boiadeiro, música bonita demais e que me traz saudades dos meus tempos de menino.

Dina, a vaqueira

Diz um ditado que o o sertanejo sai do sertão, mas o sertão nunca sai dele. Em parte me sinto assim e as coisas do sertão sempre me atraem. Nestes dias recebi do meu amigo Arievaldo Viana, um sertanejo proseador, repentista e também muito bom na arte de desenhar, me enviou um link do seu blog "Acorda Cordel", com um belo artigo do professor, escritor e estudioso da vida do povo, Gilmar de Cavalho sobre a vaqueira Dina, que já fez muita história nesse mundo. Achei que deveria dar conhecimento do texto a quem mais se interessasse e por esse motivo publico aqui pra você ler.


A Rainha Vaqueira
Gilmar de Carvalho

É incontestável a contribuição do ciclo do gado para a formação do Ceará De Capistrano de Abreu ao Boi Piauí, de Quixeramobim, as referências ao vaqueiro fazem jus à importância que ele teve no desbravamento dos sertões, na constituição das fazendas, que se tornaram vilas, e na formação de um imaginário e de uma cultura que refletem nossa secura, ética e determinação. Das narrativas orais (“Rabicho da Geralda”, bois “Espácio”, “Victor” e “Pintadinho”), passando pela escritura de Alencar e Domingos Olímpio, e pela dança dramática do bumba-meu-boi, somos uma nação vaqueira.


Iniciação

Sertão brabo. Vegetação rala: jurema, catingueira, unha-de-gato. Cactus e pedras. Sol estourado. Serrotes ao longe. Cenário de “Vidas Secas”. Fazenda Barra do Cancão, 33 km a oeste de Canindé, hoje um assentamento do INCRA. Lá nasceu Dina, em 1954, de uma família de doze filhos, dos quais cinco mulheres. O pai, José Martins da Silva, vaqueiro, tinha mais de cem cabeças de gado. A mãe Maria Olinda Marreiro, ajudava na fabricação de cerca de 5 kg de queijo por dia, além de distribuir leite para os moradores e vizinhos.

Em meio ao pai, a dois irmãos vaqueiros encourados, e a muitos aboios, a menina cresceu. As lembranças são de um paraíso esturricado. Um dia, aos sete anos de idade, ela montou. O pai não desaprovou, apesar de ter sete filhos “varões”. Logo, a menina estava vestida de gibão de couro, tangendo o gado nos lajedos e procurando a rês desgarrada.

Aprendeu vendo o trabalho na fazenda. E foi assim no ciclo do gado, quando se estabeleceram os núcleos que seriam as cidades. Quando as boiadas circulavam abrindo as trilhas que hoje constituem nossas estradas.

Canindé, um aldeamento tapuia, no século XVIII, atraiu fazendeiros do Jaguaribe, e um deles, Francisco Xavier de Medeiros construiu a capela para São Francisco, por volta de 1775. Desmembrou-se de Quixeramobim, em 1846, constituindo uma vila, hoje um dos grandes referenciais da religiosidade popular do Brasil.

Dina cresceu, tomou gosto pelas festas de apartação, começou a participar e a se tornar atração das vaquejadas, a derrubar o animal pelo rabo. Tornou-se uma vaqueira respeitada.

Aos quatorze anos, um vizinho perdeu uma rês, que se misturara ao gado dos Martins da Silva, e mandou seus vaqueiros pedir ajuda. O pai falou que só quem poderia ajudar seria Dina. Ela selou o cavalo, vestiu perneira, derrubou a novilha e a entregou de volta.

Não deu muita importância às narrativas de bois mandingueiros e cavalos misteriosos, das quais o sertão é pródigo. Histórias que eram contadas por seu avô e ela colocava na conta de fantasia. Afinal de contas, se tinha cavalo brabo ela montava, amansava, se tudo aquilo ela fazia...

sábado, 9 de julho de 2011

Billy Blanco

Eu ainda era quase um menino quando conheci Billy Blanco se apresentando no palco do Teatro José de Alencar, em Fortaleza, na programação do Projeto Pixinguinha. Eu não lembro com quem ele se apresentou naquele dia, mas deveria ser alguém que eu já conhecia e gostava, já que sobre ele eu mal tinha escutado falar. Pois daquele dia em diante fiquei gostando de sua música, de suas "letras sacanas" e daquela figura leve, agradável que nunca mais eu assistiria ao vivo.



Billy tinha muita energia e muito bom humor, como nessa apresentação da excelente Teresa da Praia, dele e de Tom Jobim, ao lado do filho Billynho.



Todo grande artista tem a sensibilidade muito apurada e o Billy Blanco era um desses. Peço que você confira onde ele foi buscar inspiração para compor a belíssima Sinfonia Paulistana. Não sei se você vai se emocionar como eu, mas veja o quanto os filhos são importantes em nossas vidas. Dedico assim este vídeo ao meu filho Guilherme, meu garoto inspirador.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Sobral

Terra da Esperança

Sobral, cidade abençoada
Morena muito queimada
Por este sol tropical
Sobral, terra da esperança
De mulheres de punjança
Beleza e porte real.
Teu Rio Acaraú passa ligeiro
E banha teu pé trigreiro
Sobral garbosa mulher.
Do Cristo Redentor a gente avista
Esta cidade bonita
Cheia de graça e esplendor.

A Meruoca azulada
Como eterna namorada
Vive a te embelezar.
Na paisagem colorida,
Oferece amor e vida
Em teu clima salutar.
Com orgulho e muita fé
Embalaste D. José
Em teus braços com calor.
Ele, que lutou na vida
Por esta terra querida
Que tanto, tanto amou...

Quando eu era menino em Sobral escutava muito essa música, principalmente no Derby Club, onde eu ia ver corridas de cavalos aos domingos. Não sei a autoria da música e sei que Sobral tem um hino, que eu não sei cantar ainda, só que não sei de outra música que me lembre mais a minha cidade, que hoje completa 238 anos.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Milésima postagem

A memória é deveras um pandemônio, mas está tudo lá, 
depois de fuçar um pouco o dono é capaz de encontrar todas as coisas.
Chico Buarque, 
em Leite Derramado

Chico, sem mágoa

Daqui menos de duas semanas o Chico Buarque vai lançar seu novo disco chamado "Chico", mas na internet já tem um site chamado Chico: Bastidores onde o sujeito paga o valor antecipado da bolachinha e tem acesso aos bastidores: entrevistas, videos, gravações em estúdio, fotos e outros brindes exclusivos. Como diz a física, a toda ação corresponde uma reação na mesma intensidade (é isso, né?) e, diante de tanta exposição, não faltaram reações bem intensas. Chico, superior como é, reagiu de forma muito bem humorada e você pode conferir nesse vídeo que ele não é "um pote até aqui de mágoa".