sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Pra ser feliz...

A arte de ser feliz
Cecília Meireles

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão
umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água
que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Às vezes um galo canta. Às vezes um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela,
uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Fonte: Presentinho de Domingo, da Moema Cavalcanti, que todo domingo presenteia amigos com sua criatividade e fotografou a janela do escritório de seu pai, Paulo Cavalcanti, em Recife.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Orlando, mais do que inocente é vítima

No Dia do Saci quem brilhou foi Orlando Silva , um garoto negro que vendia doces nas ruas de Salvador pra ajudar no sustento da família, que sobreviveu à inúmeras dificuldades - certa vez,quando era presidente da UNE ele me disse que metade dos seus amigos de infãncia estavam presos ou mortos, por envolvimento com o crime - até ingressar no curso de Direito da Univesidade Católica de Salvador, tornar-se o líder maior da juventude universitária, presidir a União da Juventude Socialista, tornar-se uma expressão nacional do PCdoB e assumir o Ministério dos Esportes do primeiro governo verdadeiramente democrático do Brasil, presidido por Lula, e continuar com a mesma tarefa no segundo governo com as mesmas caracteristicas. Mas a podridão que ainda infecta o submundo da luta política no Brasil, que toma forma pública através de uma mídia cretina, servil e venal, não aceita tanto. Conseguiu retirar Orlando Silva do Ministério e a resposta já veio imediata como você pode ver na ovação que o menino baiano recebeu em sua despedida.

PiG no século 19?

"Começa a ocorrer uma opinião que, considerada a imprensa como um instrumento de delito semelhante a qualquer outro, entende que não tem direito a leis e fórmulas especiais".

Assim o então jovem jornalista cearense e futuro escritor José de Alencar fez suas primeiras críticas no Diário do Rio de Janeiro, em julho de 1854, a um certo tipo de imprensa que ainda hoje fuça na lama da calúnia e da difamação, numa atitude cretina para impedir que o Brasil continue avançando nas conquistas.

Fonte: "O Inimigo do Rei", de Lira Neto

domingo, 30 de outubro de 2011

Onde andará Alceu Valença?

Na passagem do ano de 1986 pra 1987 passei férias em Santa Catarina e numa noite fui assistir o Alceu Valença cantar num palco montado debaixo duma lona de circo, em Balneário Camboriú. O lugar num era muito grande e também num precisava porque a maioria dos veranistas nem conhecia o primo do meu cunhado Pedro Igor, lá de São Bento do Una. Valença largou o verbo no mundo, enquanto eu cantava e dançava tudo que ele tocava e cantava em cima do praticado. No intervalo da segunda pra terceira música ele gritou lá de cima: "Eita que tem um nordestino ali que parece que tá com saudade dum forró". Era eu que, mais uma vez, encontrava Alceu numas férias fora de casa. A primeira tinha sido em Olinda, três anos antes, onde fui apresentado a ele por uma prima minha que mora no Recife, a Teresa Coêlho. O cabra era duma simpatia só e ainda arrumou uma casa perto da dele, no Largo do Amparo, pra eu alugar e passar o carnaval com mais de duas dezenas de cearenses. Nossa morada momina ganhou o nome de "Casa da Boca Roxa" - um dia eu conto  o porque - e era frequentada pelo dobro de inquilinos. Foram dez dias de folia, onde guardei saudade dum amor que partiu.

Mas continuando a prosa do começo, depois de flagrado eu respondi: "Nordestino, cearense, nascido em Sobral!", e lá do palco veio o complemento: "Conterrâneo dum rapaz latino americano". Pronto, foi prosa durante quase todo o show e no final um abraço pra cá, outro prá lá. Nunca mais nos cruzamos na estrada, mas sempre que posso acompanho as coisas do Valença. Agora a noite descobri que ele virou cineasta e tá dirigindo um filme chamado "A Luneta do Tempo", que como ele diz, vai e volta, acompanhando a formação da identidade nordestina com seus personagens, sua artes e seu força cultural. O filme fica pronto lá pro meio do ano que vem e haverá de ser uma coisa muito bonita, a tirar pelo conjunto da obra do diretor em outros ramos artísticos. No vídeo abaixo tem um momento de descontração, dos muitos que devem existir, nas filmagens filmagens. Curta a gaiatice do cabra, todo de cara nova.




Fonte: Canalvalença

Mia Couto e o medo

Fui apresentado ao escritor moçambicano Mia Couto pelo poeta Joan Edessom. Li boa parte da obra dos dois, mais deste que daquele, compartilho da maioria das ideias de ambos e por isso quero lhe oferecer a oportunidade de conhecer algumas ideias que nós três comungamos, através de um texto do mais conhecido entre nós, lido pelo próprio autor. Mia Couto pegou o mote do medo, mas foi muito além desse sentimento e cutucou forte as agressões que vitimam os povos no mundo, particularmente na sua África nativa. São menos de oito minutos de vídeo e você, ao final, não terá medo de indignar e enfrentar os que fazem do medo sua arma.



Fonte: Marcio Acselrad

Sal e poesia

O domingo já ia pela metade quando li esses versos aí embaixo. São do Ronaldinho Salgado, jornalista e professor universitário, a quem não faltam ideias agudas e palavras afiadas na lida e na vida do povo que ele soube e sabe como o jornalismo deve retratar da forma mais verdadeira. Seus versos valem como inspiração e também devem nos instigar a termos uma existência digna dos seres que somos, ou que devemos ser. Salve, Ronaldim!


Não brigo
Com as lembranças.
Sequer com as palavras.
Ao contrário.
Em palavras e lembranças
Enfronho-me.
Abrigo-me.
Faço-me existir
Ao nascer dos dias.
Ao debulhar das horas.
À cumplicidade dos gritos.
À existência do outro.
Minha existência é ponta de faca.
Ou ponta de lápis.
Deixo-me existir na insistência.
Deixo-me insistir na resistência.
Ao abrir o olho
Escancaro-me tal qual girassol.
Ao fechá-lo,
Entrego-me à luz
Dos sonhos e dos desejos.
Confesso-me em meu próprio silêncio.
Desabafo em meu próprio sorriso.
Existo em minha própria lágrima.
O mundo vira vida.
A vida vira mundo.
Sou apenas mais um
A mundoexistir!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

PCdoB na TV, assista

Falar em versos





Falar, falar

Se conviver é conversar,
esse falatório sem pausa,
onde o silêncio é mais temido
que palavrão dentro de casa,

faz da vida inteira um entulho
de vozes de bar, de barulho;

neste metralhado lugar
tão atulhado de palavras
que não se pode caminhar,

onde do corpo só a paz
do amor calado satisfaz

Poema de
Alberto da Cunha Melo
Fonte:

Como se faz o PCdoB na TV

Há mais de vinte anos eu participo do trabalho de comunicação dos comunistas. O produto final sempre é muito gostoso de se ver, mais ainda quando ele agrada ao público. Nesse tempo todo evoluímos bastante em termos de linguagem, estética, técnica (lembro de cada improviso feito pela falta de mais e melhores recursos...) e mesmo nas ideias que veiculamos, na medida em que analisamos e compreendemos com mais apuro a realidade e a evolução da sociedade. Sou fascinado pelo processo de produção. Gosto de discutir o tema, construir o briefing, debater o roteiro, acompanhar as gravações e a edição, além de ver e rever a peça final até cansar. Fiz, e continuo fazendo, excelentes amizades, que já foram além do ambiente de trabalho. Já vive tensões e alegrias inacreditáveis. Passei por situações que nunca imaginei passar e espero ainda passar por muitas, preferencialmente mais tranquilas. A vida segue, na rua e na telinha.

Todo esse leriado aí, foi pra dizer que o PCdoB vai ao ar hoje, às 20h30m, em rede nacional, pra falar sobre nossas ideias e experiências para as cidades, mas também pra dizer algo que o povo precisa saber a respeito das sacanagens que estão fazendo com o Orlando Silva, Ministro dos Esportes e com o próprio partido. Nesse vídeo abaixo você curte um pouco de como foi feito o programa de hoje. Curta agora e mais tarde.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Solidariedade camarada

Sabe aquela expressão "mexeu com meu amigo, mexeu comigo"? Pois bem, aqui no Ceará, além conhecida hospitalidade, a solidariedade também tem muita por aqui. A turma da mentira foi se meter a besta e agredir o governo da Dilma e o PCdoB através de calúnias contra o Orlando Silva, vai recebendo o que merece. Daqui, dos comunistas cearenses, vai uma nota da direção estadual e eu publico aqui pra você ler.

Em repúdio às calúnias ao Ministro Orlando Silva Jr e em defesa do PCdoB


A revista Veja, na verdade com o objetivo de atacar e injuriar o histórico Partido Comunista do Brasil e criar embaraços para o novo ciclo político iniciado com a eleição do ex-Presidente Lula e seqüenciado pela Presidenta Dilma, mais uma vez, cumpre sórdido papel. Com base unicamente em declarações de uma pessoa indiciada por desvio de recursos públicos, a publicação da Editora Abril lança sobre o Ministro dos Esportes, Orlando Silva Jr, denúncias de supostas irregularidades.


A Comissão Política Estadual do PCdoB no Ceará torna pública sua inteira solidariedade ao Ministro, repudia as acusações que lhe são feitas e se indigna com as insinuações injuriosas assacadas ao Partido. Orlando Silva tem se comportado com extrema competência e honestidade à frente do Ministério, em sintonia com a linha do Governo Federal de fortalecer o esporte, as políticas públicas de inclusão social e de estímulo ao desenvolvimento nacional.


O Ministério dos Esportes, oriundo da antiga Secretaria Especial de Esporte da Presidência da República, é hoje um dos órgãos do Governo Federal com atuação mais expressiva. Este fato gera incômodos em segmentos que não se conformam em ver o êxito do PCdoB através de militantes ocupando cargos do primeiro escalão da República. Neste sentido, forjam denúncias, fomentam intrigas e levantam suspeitas infundadas para tentar constranger os comunistas e encobrir sua atuação exitosa.


O PCdoB cearense conclama sua militância a defender o Ministro Orlando Silva e o Partido de mais este ataque. No parlamento, nos movimentos sociais, nas diversas frentes de atuação, é preciso enfrentar com firmeza e convicção tais agressões, que já receberam vigorosa resposta nas redes sociais, assim como a repulsa de um grande número de personalidades e instituições democráticas e progressistas. Certamente os agressores insistirão nos ataques e provocações, mas enfrentarão a merecida repulsa e serão desmoralizados.


Fortaleza, 16 de outubro de 2011.


Comissão Política Estadual do PCdoB/CE


Jeito paidégua de falar

No nosso modo de falar nordestino, nós daqui de cima num  não temos só um sotaque catarolado e gostoso de se ouvir. Por aqui sobra criatividade também na forma de chamar as coisas por um nome só nosso. Pra saber algumas é só dar uma espiada nesse atlas da anatomia humana aí debaixo. É coisa marlinda!

domingo, 16 de outubro de 2011

"Um bandido me acusa e eu preciso explicar"

Lembro bem quando foi anunciado que o PCdoB indicaria o Ministro dos Esportes do primeiro governo do Lula. Pela primeira vez os comunistas passaram a com o primeiro escalão da República do Brasil. O ministério num era lá essas coisas todas, até outro dia tinha sido uma secretaria especial da Presidência, onde figuraram algumas estrelas do esporte nacional que serviram muito mais para ilustrar o governo do que pra fazer alguma coisa mais concreta. Os superatletas Pelé, Zico, Bernard, Torben Grael não tiveram sequer um desempenho regular e, em boa parte, por conta da falta de estrutura do órgão sem capilaridade nesse país enorme, diverso e doido por futebol, mas muito longe de ter uma organização desportiva capaz de atender, com certa ousadia, as aspirações e as grandes possibilidades dos brasileiros e brasileiras.

Numa situação dessas, cheia de dificuldades e poucas possibilidades de se vislumbrar um trabalho legal, houve gente até graúda no PCdoB que tratou com certo desdém a oferta do Presidente Operário ao Partido do Proletariado. Num achavam uma oferta muito camarada. Felizmente prevaleceu a ousadia, o destemor e a capacidade dos comunistas de encarar tarefas às vezes meio enjoadas. Os comunas foram lá, resolveram encarar o bicho de frente e estão até hoje dando conta com mais sucesso do eles mesmos até imaginavam. Noite já virou madrugada, da Bahia pro Rio Grande do Sul, o verão já papou uma hora, e eu num vou listar aqui o que feito e o feito será, mas só quero lembrar que entre 2011 e 2016, os mais importantes eventos desportivos desse pedaço do universo vão acontecer aqui nessa pátria amada de todos nós. Em todos eles os comunistas do Brasil estarão no centro dos acontecimentos. Isso explica, sinteticamente, a cretinice duma revista que além de vista, ainda é lida por muita gente e serve pra pautar uma montueira de jornal e revista querendo vender fácil e faturar com denúncias, além de deleitar muito jornalista que se sente sócio do patrão até o dia em que leva um pé na bunda.

A frase lá em cima é do Orlando Silva Jr, um cara que da periferia de Salvador foi ser líder nacional dos estudantes universitários e agora é o Ministro dos Esportes do Brasil, indignado com o fato de ter que provar que não é verdade as acusações que lhe são feitas por um policial que virou bandido, é indiciado por crimes que cometeu. A maioria dos que reproduzem as "denúncias" sequer investigam a veracidade das acusações e muito menos a folha corrida do acusador e do acusado. Alguns, como o Juca Kfouri, seguem a máxima nazista do Goebbels e repetem mentiras, na tentativa de transformá-las em verdade e outros, como o Eliomar de Lima, repetem no Ceará as mesmas mentiras e ainda tentam fazer gracinhas. Um pouco de dignidade faria bem, um mínimo de imparcialidade ajudaria o público a formar uma opinião sintonizada com os fatos.

Abaixo reproduzo uma entrevista do próprio ministro à ESPN, onde trabalha citado Juca. Espero que você, e o Eliomar, assistam e, se quiserem mais informações, leiam os dois textos abaixo sobre o mesmo assunto.




PCdoB rechaça calúnia de Veja e apoia ministro Orlando


Ministro do Esporte processará a Veja


Por Altamiro Borges

A revista Veja desembestou de vez. A cada semana ela aciona um de seus jagunços midiáticos para destruir reputações e produzir “reporcagens” com calúnias e difamações, sem qualquer consistência jornalística e sem ouvir as vítimas das agressões. A revista dá tiros para todos os lados, pouco se importando com sua credibilidade em declínio ou com a abertura de processos judiciais.

No mês passado, a Veja usou um repórter para tentar invadir o apartamento do ex-ministro José Dirceu num hotel em Brasília. A ação criminosa, que lembra as escutas ilegais e os subornos do império Murdoch, foi desmascarada e está na Justiça. Na semana seguinte, ela deu capa para um remédio, num típico “jabá jornalístico”, e foi criticada pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Ataques ao PCdoB e a Lula

Na edição desta semana, a revista resolveu investir contra o ministro dos Esportes, Orlando Silva (PCdoB). Para isso, abriu espaço em suas páginas ao policial militar João Dias Ferreira, preso em 2010 por corrupção. Na “reporcagem”, ele afirma que o ministro participaria de um esquema de desvio de recursos do programa Segundo Tempo, que atende mais um milhão de crianças carentes no Brasil.

Ainda segundo a “reporcagem”, que não apresenta qualquer prova concreta e se baseia inteiramente nas declarações do policial, os recursos do programa seriam repassados para ONGs, depois destas pagarem uma taxa de até 20% sobre o valor dos convênios. O dinheiro seria utilizado como caixa-2 do PCdoB e, também, serviu “para financiar a campanha presidencial de Lula em 2006”.

João Dias, um policial sinistro


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

À nós, meninos e moleques



Bola de meia, bola de gude
Milton Nascimento

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor

Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Canção Quintana

Canção de nuvem e vento
Mário Quintana


Medo da nuvem
Medo Medo
Medo da nuvem que vai crescendo
Que vai se abrindo
Que não se sabe
O que vai saindo
Medo da nuvem Nuvem Nuvem
Medo do vento
Medo Medo
Medo do vento que vai ventando
Que vai falando
Que não se sabe
O que vai dizendo
Medo do vento Vento Vento
Medo do gesto
Mudo
Medo da fala
Surda
Que vai movendo
Que vai dizendo
Que não se sabe...
Que bem se sabe
Que tudo é nuvem que tudo é vento
Nuvem e vento Vento Vento!

Cocaine in America

Num dos discursos contidos em seu livro "Eu não vi fazer um discurso", Gabriel Garcia Márquez aborda o narcotráfico, problema que aflige sua Colômbia e serve como justificativa para os Estados Unidos manterem tropas e bases militares naquele país mas com o verdadeiro objetivo de combater o guerrilha colombiana. "Gabo" discursou, em 1995, na Cidade do Panamá, durante uma laboratório do Grupo Contadora, que debateu o tema "A América Latina existe", e a certa altura falou o seguinte:

"Há pouco tempo estive com um grupo de jornalistas norte-americanos num pequeno planalto que não deveria ter mais que três ou quatro hectares de papoulas. Fizeram uma demonstração pra gente: fumigação de helicópteros, fumigação de aviões. Na terceira passagem de helicópteros e aviões, calculamos que aquilo nos custava mais do que custava o terreno. É desanimador saber que assim ninguém conseguirá combater o narcotráfico. Eu disse aos jornalistas norte-americanos que estavam conosco que aquela fumigação deveria começar pela ilha de Manhattan e pela Prefeitura de Washington. Também recriminei o fato deles - e o mundo - saberem como é o problema da droga na Colômbia - como é semeada, como é processada, como é exportada - porque nós, jornalistas colombianos, investigamos, publicamos e divulgamos pelo mundo. Muitos, inclusive, pagaram com a  vida. Mas nenhum jornalista se deu ao trabalho de nos dizer como é a entrada da droga nos Estados Unidos, e como é a sua distribuição e a sua comercialização interna".


Gabriel Gárcia Marquez, 
em "Eu não vim fazer um discurso"







Eric Clapton

domingo, 9 de outubro de 2011

Che Guevara meio inédito

Esse pacato cidadão, que você não faz a menor ideia de quem seja, nesta foto que certamente você nunca viu, é  um dos caras mais conhecidos do mundo, um verdadeiro mito, cuja imagem mais conhecida é umas das imagens  mais conhecidas de todos os tempo. Este é Ernesto Rafael Guevara de la Serna que acabara de chegar à Bolívia, em 1966, onde viveu até a morte, em 8 de outubro de 1967. Durante cerca de um ano Che Guevara viveu clandestinamente na Bolívia, onde organizou um movimento guerrilheiro que acabou descoberto e derrotado. Uma das regras da clandestinidade é justamente evitar fotos, registros que possam facilidade a localização do clandestino. Pois durante seu último ano de lutas de Guevara a tal regra foi burlada e algumas fotos infratoras estão sendo expostas na Argentina, sua terra natal, pelo Museu La Pastera, dedicado ao revolucionário latino americano. Caso você não possa ir até o museu, as fotos podem vir até você desde que clique aqui e entre no site do jornal argentino El Clarin, que é um jornal muito ruim, mas é como você pode ver essas tais fotos meio inéditas.

No livro "Reportagens Políticas", Gabriel Garcia Marquez conta que quando voltava da África para Cuba, de onde depois seguiria para a Bolívia, Guevara viajou acompanhado de um combatente cubano num voo que circulou pela Europa antes de seguir pra ilha socialista do Caribe. A certa altura o passageiro sentado ao lado dos dois viajantes puxou conversa com o amigo do Che e acabo descobrindo que se tratava de um cubano. Foi o suficiente para que o moço puxasse prosa sobre a ilha, sobre seus líderes revolucionários, especialmente sobre o argentino que seguia ali ao lado. Certamente o curioso não identificou Che exatamente porque jamais o reconheceria na imagem desse senhor aí da foto.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Amor e lágrimas

"Cebola Cortada" talvez seja a primeira música que eu escutei cantada pelo Fagner. Foi meu irmão Veveu quem me apresentou, lá pelo final dos anos 70. Ela faz parte do excelente disco Orós, uma obra prima da discografia brasileira,  produzida por ninguém menos que Hermeto Pascoal. Hoje me bateu uma vontade de ouvir e compartilhar essa beleza musical com você. Infelizmente não achei sua melhor versão, a original do disco, mas vai aqui uma do Clodo Ferreira, um dos seus co-autores, ao lado do genial Petrúcio Maia. Curta, porque é linda demais.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Imbecis

Humor faz bem, muito bem. Mas humor também pode fazer muito mal, quando ele perde a graça, claro. A jornalista Cynara Menezes definiu bem direito as pessoas que fazem humor sem graça. Leia, e ria, se for capaz.


O perfeito imbecil politicamente incorreto


Em 1996, três jornalistas – entre eles o filho do Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, Álvaro –lançaram com estardalhaço o “Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano”. Com suas críticas às idéias de esquerda, o livro se tornaria uma espécie de bíblia do pensamento conservador no continente. Vivia-se o auge do deus mercado e a obra tinha como alvo o pensamento de esquerda, o protecionismo econômico e a crença no Estado como agente da justiça social. Quinze anos e duas crises econômicas mundiais depois, vemos quem de fato era o perfeito idiota.


Mas, quem diria, apesar de derrotado pela história, o Manual continua sendo não só a única referência intelectual do conservadorismo latino-americano como gerou filhos. No Brasil, é aquele sujeito que se sente no direito de ir contra as idéias mais progressistas e civilizadas possíveis em nome de uma pretensa independência de opinião que, no fundo, disfarça sua real ideologia e as lacunas em sua formação. Como de fato a obra de Álvaro e companhia marcou época, até como homenagem vamos chamá-los de “perfeitos imbecis politicamente incorretos”. Eles se dividem em três grupos:


1. O “pensador” imbecil politicamente incorreto: ataca líderes LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trânsgeneros) e defende homofóbicos sob o pretexto de salvaguardar a liberdade de expressão. Ataca a política de cotas baseado na idéia que propaga de que não existe racismo no Brasil. Além disso, ações afirmativas seriam “privilégios” que não condizem com uma sociedade em que há “oportunidades iguais para todos”. Defende as posições da Igreja Católica contra a legalização do aborto e ignora as denúncias de pedofilia entre o clero. Adora chamar socialistas de “anacrônicos” e os guerrilheiros que lutaram contra a ditadura de “terroristas”, mas apoia golpes de Estado “constitucionais”. Um torturado? “Apenas um idiota que se deixou apanhar.” Foge do debate de idéias como o diabo da cruz, optando por ridicularizar os adversários com apelidos tolos. Seu mote favorito é o combate à corrupção, mas os corruptos sempre estão do lado oposto ao seu. Prega o voto nulo para ocultar seu direitismo atávico. Em vez de se ocupar em escrever livros elogiando os próprios ídolos, prefere a fórmula dos guias que detonam os ídolos alheios – os de esquerda, claro. Sua principal característica é confundir inteligência com escrever e falar corretamente o português.


2. O comediante imbecil politicamente incorreto: sua visão de humor é a do bullying. Para ele não existe o humor físico de um Charles Chaplin ou Buster Keaton, ou o humor nonsense do Monty Python: o único humor possível é o que ri do próximo. Por “próximo”, leia-se pobres, negros, feios, gays, desdentados, gordos, deficientes mentais, tudo em nome da “liberdade de fazer rir.” Prega que não há limites para o humor, mas é uma falácia. O limite para este tipo de comediante é o bolso: só é admoestado pelos empregadores quando incomoda quem tem dinheiro e pode processá-los. Não é à toa que seus personagens sempre estão no ônibus ou no metrô, nunca num 4X4. Ri do office-boy e da doméstica, jamais do patrão. Iguala a classe política por baixo e não tem nenhum respeito pelas instituições: o Congresso? “Melhor seria atear fogo”. Diz-se defensor da democracia, mas adora repetir a “piada” de que sente saudades da ditadura. Sua principal característica é não ser engraçado.


3. O cidadão imbecil politicamente incorreto: não se sabe se é a causa ou o resultados dos dois anteriores, mas é, sem dúvida, o que dá mais tristeza entre os três. Sua visão de mundo pode ser resumida na frase “primeiro eu”. Não lhe importa a desigualdade social desde que ele esteja bem. O pobre para o cidadão imbecil é, antes de tudo, um incompetente. Portanto, que mal haveria em rir dele? Com a mulher e o negro é a mesma coisa: quem ganha menos é porque não fez por merecer. Gordos e feios, então, era melhor que nem existissem. Hahaha. Considera normal contar piadas racistas, principalmente diante de “amigos” negros, e fazer gozação com os subordinados, porque, afinal, é tudo brincadeira. É radicalmente contra o bolsa-família porque estimula uma “preguiça” que, segundo ele, todo pobre (sobretudo se for nordestino) possui correndo em seu sangue. Também é contrário a qualquer tipo de ação afirmativa: se a pessoa não conseguiu chegar lá, problema dela, não é ele que tem de “pagar o prejuízo”. Sua principal característica é não possuir ideias além das que propagam os “pensadores” e os comediantes imbecis politicamente incorretos.

América Latina canta unida



Fonte: Blog do Miro

O PCdoB e a luta dos professores

Aqui é um espaço pessoal, em que expresso minha opinião sobre diversos assuntos e também a de outras pessoas com as quais concordo. Hoje achei por bem publicar a nota do PCdoB cearense sobre a greve dos professores cearenses. Acho que nestas poucas linhas meus camaradas mostram que a luta presente tem conexão com o passado e o futuro. A mobilização dos professores faz parte duma trajetória histórica do Brasil, que não começou há poucos anos, como desejam alguns, e não se finda daqui a pouco, como imaginam outros. "Se muito vale o já feito, mais vale o que será", diz Milton Nascimento.



Greve dos professores: a negociação é o caminho

O atual ciclo de mudanças que vive o Brasil é resultado da trajetória de nosso povo para construir um país democrático, soberano, livre, desenvolvido e socialmente justo. Tal objetivo somente será atingido com a mobilização de amplos setores nacionais e com a luta dos trabalhadores e do povo. O entrelaçamento das lutas específicas dos diversos segmentos sociais com a defesa de bandeiras políticas nacionais impulsionará os avanços que o Brasil e o Ceará têm vivido nos últimos anos.


Neste contexto é que se dá a atual mobilização dos professores da rede pública estadual, em greve há quase dois meses. O PCdoB/CE, por meio de seus parlamentares, tem intermediado, desde o início, as negociações para que sejam atendidas as reivindicações da categoria, dentro das condições possíveis para o governo estadual. Nesse sentido desaprova os atos de violência ocorridos recentemente na Assembleia Legislativa. Os comunistas consideram que o caminho efetivo para a solução do atual impasse passa pela persistente negociação, com serenidade e transigência, buscando o entendimento capaz de elaborar uma proposta comum entre professores e governo estadual, possibilitando a retomada das aulas e evitando mais prejuízos a milhares de estudantes.


Os comunistas consideram que a luta por melhorias efetivas na educação passa pela implementação plena da Lei do Piso Nacional do Magistério e mais ainda, com a realização de uma profunda reforma da educação e a ampliação dos investimentos públicos na área. Isto posto, deve ser amplamente apoiada a proposta da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) para que 10% do PIB sejam destinados para educação. Assim, união, estados e municípios terão melhores de condições pagar o salário justo a que têm direito os professores, bem como melhorar suas condições de trabalho e assegurar uma educação a altura das necessidades do país.


Fortaleza, 1º de outubro de 2011.


Secretariado Estadual do PCdoB/CE

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Doutor Lula

Lula é doutor em saber o que povo sente

Benfica, fique bem

Eu nem morava ainda em Fortaleza e já frequentava o Benfica, bairro por onde entrei na Universidade Federal do Ceará (UFC); virei militante, até hoje, do Partido Comunista do Brasil; atuei no Movimento Estudantil (aqui poderia tantos mais que nem sei); conheci uma quantidade e uma diversidade enorme de gente; frequentei bares que fizeram história na cidade e frequento, bem menos hoje alguns bem legais; morei por dois anos e trabalho há mais de dez. O Benfica hoje anda assustando seus benquerentes. Há uma sensação grande de insegurança entre as pessoas e não é por menos. O escritor Pedro Salgueiro escreveu sobre isso, externando o sentimento de muitos que se relacionam com o bairro, que ele chama de Gentilândia, que também é nome que fica bem  pro lugar.


Pracinha da Gentilândia, ao fundo a Residência Universitária
Gentilândia sitiada
Faz três anos que voltei a morar na Gentilândia (capital do Benfica), já havia residido por sete anos aqui na época em que eu era estudante. Peguei nestes dez anos um amor pelo bairro, principalmente pelo charme de ser um reduto boêmio, de muita diversidade cultural. Um recanto da cidade que cheira a juventude, a movimento estudantil, a futebol, devido principalmente à presença da Universidade Federal do Ceará (e seus vários equipamentos, como Museu e Rádio Universitários, Casas de Cultura, além dos inúmeros cursos de humanidades), Escola Técnica Federal (que todo ano muda de nome e sigla), Ginásio de Esportes Aécio de Borba e Estádio Presidente Vargas (o charmoso e querido PV).

A pracinha da Gentilândia é o coração do Benfica, o local para onde tudo (de bom e de ruim) do bairro conflui... Tudo mais cedo ou mais tarde acaba sempre na pracinha: manifestações culturais e políticas e (naturalmente) seus diversificados lazeres.

Acontece que diferentemente de outros bairros, a população deste essencial reduto de Fortaleza é, em sua maior parte, flutuante. São os milhares de estudantes (professores e funcionários) da universidade, da escola técnica e de inúmeros colégios públicos e particulares, são ainda outros milhares de desportistas que em pelo menos duas vezes por semana invadem suas ruas, são centenas de boêmios que se espalham diariamente pelos infinitos bares.

Então a população do bairro não é somente a que reside (como eu e quase toda a minha família) nele, e sim uma multidão de moradores de outros sítios, que frequentam suas ruas de madrugada a madrugada nos sete dias da semana.

Outro fator fundamental para entender a quantidade de problemas que assolam o bairro e que o fazem ser hoje um dos mais violentos (em assassinatos e assaltos e distribuição de drogas) de nossa capital. Ele fica entre duas áreas pobres da cidade: o Jardim América (e suas diversas favelas) e os inúmeros becos da Marechal Deodoro (ambos redutos de muitos trabalhadores pobres, mas também de bandidos, traficantes, assassinos etc. etc.).

Pois bem, juntemos os pacatos moradores deste aprazível bairro, a enorme população flutuante de boêmios, estudantes, trabalhadores e desportistas que o frequentam, e temos o prato suculento e ideal para os (também) muitos que querem roubar, assassinar e distribuir drogas.

Em resumo: as autoridades não podem tratar um bairro com estas características como se fosse um bairro qualquer, não podem deslocar seus muitos agentes (de trânsito e de repressão) levando em conta apenas os números de seus moradores (e principais vítimas de tudo de ruim que acontece atualmente aqui).

Resumindo mais ainda (suas burras autoridades): este bairro não é somente este bairro, 90% dos frequentadores deste sítio são de outros locais, então a violência é também multiplicada por mil.

Cuidar do Benfica é cuidar de quase toda a nossa capital, a nossa querida loirinha desmiolada pelo sol.

domingo, 25 de setembro de 2011

Jô Soares mudou, a Globo não

Em 1986 a Globo decidiu vetar a exibição em sua programação de comerciais em que atuassem atores que tivessem optado por trabalhar em outras emissoras. A decisão era generalizada, mas tinha uma razão específica: a mudança de Jô Soares para o SBT onde foi fazer "Jô Soares - Onze e Meia", um programa que fez tanto sucesso que, anos depois o Gordo seria perdoado em nome da audiência que a Globo precisava recuperar. Um indignado Jô Soares reagiu ao veto com um texto publicado na coluna que mantinha no finado Jornal do Brasil. O texto faz uma critica muito vigorosa ao monopólio da tv dos Marinho, critica o uso indevido de uma concessão pública para favorecer interesses menores da emissora e ainda senta a pua no Boni, então manda chuva da Globo, que teria sido o responsável pelo veto e é chamado de rancoroso pelo recém contratado de Silvio Santos. Eu assinaria esse artigo, já o Jô, nem pensar. Isso não desmerece o texto, que continua verdadeiro vinte e cinco anos depois, mas mostra o que move certas estrelas da TV brasileira, sempre servis a interesses menores que, dependendo do cachê, podem ser maiores que a dignidade delas. Veja o que disse o senhor José Eugênio Soares sobre a verdade que ele hoje nega.

Travessia

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

#UJS27ANOS


"Toda noite tem auroras,
Raios toda a escuridão.
Moços, creiamos, não tarda
A aurora da redenção"

Versos do poeta Castro Alves,
inspirador de Aldo Rebelo
na redação do Manifesto da UJS

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Dilma: mulher corajosa e sincera




Publico, emocionado, a íntegra do discurso, em texto e vídeo, da Presidenta Dilma Rousseff na abertura da 66ª Assembleia Geral da ONU.

Senhor presidente da Assembleia Geral, Nassir Abdulaziz Al-Nasser,

Senhor secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon,
Senhoras e senhores chefes de Estado e de Governo,
Senhoras e senhores,

Pela primeira vez, na história das Nações Unidas, uma voz feminina inaugura o Debate Geral. É a voz da democracia e da igualdade se ampliando nesta tribuna que tem o compromisso de ser a mais representativa do mundo.

É com humildade pessoal, mas com justificado orgulho de mulher, que vivo este momento histórico.

Divido esta emoção com mais da metade dos seres humanos deste Planeta, que, como eu, nasceram mulher, e que, com tenacidade, estão ocupando o lugar que merecem no mundo. Tenho certeza, senhoras e senhores, de que este será o século das mulheres.

Na língua portuguesa, palavras como vida, alma e esperança pertencem ao gênero feminino. E são também femininas duas outras palavras muito especiais para mim: coragem e sinceridade. Pois é com coragem e sinceridade que quero lhes falar no dia de hoje.


Senhor Presidente,

O mundo vive um momento extremamente delicado e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade histórica. Enfrentamos uma crise econômica que, se não debelada, pode se transformar em uma grave ruptura política e social. Uma ruptura sem precedentes, capaz de provocar sérios desequilíbrios na convivência entre as pessoas e as nações.

Mais que nunca, o destino do mundo está nas mãos de todos os seus governantes, sem exceção. Ou nos unimos todos e saímos, juntos, vencedores ou sairemos todos derrotados.

Agora, menos importante é saber quais foram os causadores da situação que enfrentamos, até porque isto já está suficientemente claro. Importa, sim, encontrarmos soluções coletivas, rápidas e verdadeiras.

Essa crise é séria demais para que seja administrada apenas por uns poucos países. Seus governos e bancos centrais continuam com a responsabilidade maior na condução do processo, mas como todos os países sofrem as conseqüências da crise, todos têm o direito de participar das soluções.

Não é por falta de recursos financeiros que os líderes dos países desenvolvidos ainda não encontraram uma solução para a crise. É, permitam-me dizer, por falta de recursos políticos e algumas vezes, de clareza de ideias.

Uma parte do mundo não encontrou ainda o equilíbrio entre ajustes fiscais apropriados e estímulos fiscais corretos e precisos para a demanda e o crescimento. Ficam presos na armadilha que não separa interesses partidários daqueles interesses legítimos da sociedade.

O desafio colocado pela crise é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo. Enquanto muitos governos se encolhem, a face mais amarga da crise – a do desemprego – se amplia. Já temos 205 milhões de desempregados no mundo. 44 milhões na Europa. 14 milhões nos Estados Unidos. É vital combater essa praga e impedir que se alastre para outras regiões do Planeta.

Nós, mulheres, sabemos, mais que ninguém, que o desemprego não é apenas uma estatística. Golpeia as famílias, nossos filhos e nossos maridos. Tira a esperança e deixa a violência e a dor.

América Latina insubmissa


"Por sorte, a reserva determinante da América Latina e do Caribe é uma energia capaz de mover o mundo: a perigosa memória de nossos povos. É um imensao patrimônio cultural anterior a toda matéria prima, uma matéria primária de caráter múltiplo que acompanha cada passo de nossas vidas. É uma cultura de resistência que se expressa no esconderijo das linguagens, nas virgens mulatas - nossas padroeiras artezanais -, verdadeiros milagres do povo conyra o poder clerical colonizador. É uma cultura de solidariedade, que se expressa diante dos excessos criminosos de nossa natureza indômita, ou na insurgência dos povos pela lsua identidade e pela sua soberania. É uma cultura de protestonos rostos indígenas dos anjos artezanais de nossos templos, ou na música das neves perpétuas que trata de conjurar com a nostalgia os surdos poderes da morte. É uma cultura da vida cotidiana que se expressa na imaginação da cosinha, do modo de vestir, da superstição craitiva, das liturgias íntimas do amor. É uma cultura de festa, de transgressão, de mistério que rompe a camisa de força da realidade e reconcilia, enfim, o raciocínio e a imaginação, a palavra e o gesto, e demonstra de fato que não há conceito que cedo ou tarde não seja ultrapassado pelo vida. Uma energia de novidade e beleza que nos pertence por completo, e com a qual nos bastarmos nós mesmos, que não poderá ser domesticada pela voracidade imperial, nem pela brutalidade do opressor interno, nem mesmo por nossos próprios medos imemoriais de traduzir em palavras os sonhosmais recônditos. Até a própria revolução é uma obra cultural, a expressão total de uma vocação e de uma capacidade criadoras que justificam e exigem de todos nós uma profunda confiança no porvir"

Gabriel Garcia Marquez, 

Música nos une




Guilherme curtindo "Stand By Me" pela 1ª vez
Eu tava quieto no meu canto, fazendo um trabalho extra em casa quando memória me cutucou lembrando desse vídeo em que músicos várias partes do mundo interpretam "Stand By Me". Chamei o Guilherme pra escutar e ele só dizia: "Legal, pai. Muito legal, pai". Acabou de escutar e saiu dizendo que ia pesquisar sobre a música. Depois podem perguntar que ele conta a história todinha desse clássico que um monte de gente já cantou. O gostoso foi sentir que, cada vez mais, nós dois curtimos mais coisas em comum, e a música fica em primeiro lugar.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Cultura, viva Ariano!

"Defenderei a cultura brasileira até que eles morram! 
Eles! Não eu, que a morte não está nos meus planos".
Ariano Suassuna

Palestina, já!




A Palestina, rumo a uma grande vitória moral
Angel Guerra Cabrera

Sabendo que este desenlace é inevitável, Obama e a senhora Clinton têm feito tudo quanto tem estado a seu alcance para dissuadir a Autoridade Nacional Palestina (ANP) de apresentar a proposta, incluindo a ameaça de exercer o veto se o tema for transferido ao Conselho de Segurança (CS). Mas altos funcionários estadunidenses confessam em privado que a Casa Branca quer “evitar fazer campanha a favor do veto pois os Estados Unidos poderiam ficar isolados nesse intento”.

Em todo caso, a superpotência e seu afilhado sionista vão ficar numa inocultável posição de isolamento internacional quando o tema for discutido na AG. É muito ilustrativa disso uma mensagem enviada a Tel Aviv por Ron Prosor, embaixador de Israel na ONU: “O máximo que podemos esperar conseguir é um grupo de Estados que se absterão ou que estarão ausentes durante a votação”. “Somente uns poucos países votarão contra a iniciativa palestina”, acrescenta.

Versos pra cachaça

Numa exposição sobre cachaça fui flagrado identificando as já conhecidas 

O Dia Nacional da Cachaça foi ontem, eu nem pude fazer um registro e apenas comemorei em casa, com uma "Douradinha" deliciosa. Mas nunca é tarde pra se falar dum produto nacional tão genuíno e com tantas histórias boas. A data é comemorada pela primeira vez e tem a ver com a Revolta da Cachaça, ocorrida no século 17, quando produtores da bebida nacional lutavam contra a Coroa Portuguesa, que tentava impor a bagaceira, produto feito do bagaço da uva. A data faz parte do esforço de fazer da cachaça a bebida nacional. Nada mais justo!

História e versos sobre cachaça é o que não faltam em nossa Pátria Amada. Em homenagem à nossa bebida nacional, reproduzo um texto do Leonardo Mota falando de cantadores e cachaças.

CANTADORES E CACHAÇA
Leonardo Mota


Um humorista português afirma que o que distingue o homem do bruto é o seu amor ao álcool e ao fumo. Acrescenta que beber água engarrafada é uma inversão da natureza, pois nem a água se fez para as garrafas, nem as garrafas para a água.

Também o poeta paulista Martins Fontes, em conferência sobre "A alegria", disse não haver nada de mais triste, de mais fúnebre entre duas criaturas sentadas a uma mesa do que uma garrafa de água de Caxambu... E Martins Fontes indagava:

— Mas, lealmente, sinceramente, onde entre homens de inteligência, conhecedores da tortura da vida, grandes tristes por serem grandes lúcidos, já houve alegria sem bebida? Não pode haver. Quando a sabedoria popular diz que alguém está alegre, é porque, na certa, esse alguém bebeu alguma coisa.

Do meu convívio com os cantadores me resta suficiente autoridade para garantir que os cantadores, que são também "homens de inteligência e grandes lúcidos", não gostam de água mineral. Entre os mortos tenho notícia de muitos que iam à perfeição de não abusar, sequer, da água do pote, embora não repetissem a velhaca escusa daquele boêmio que se abstinha do uso da água, para não roubar o pão às pobres lavadeiras... Zé de Matos, Rita Medêro, Chica Barrosa... Esta última, a Barrosa, foi assassinada a cacete e faca, durante uma cantoria, na qual andou, embriagada, a dizer rebarbativas inconveniências.

São inumeráveis os versos populares em que, com ingenuidade ou cinismo, se celebra a cotréia:

Aguardente é jiribita
Feita de pau de capucho...
Bate comigo no chão,
Bato com ela no bucho!

Aguardente é jiribita,
Não há bebida tão boa!
Quanto os padres gostam dela,
Que dirá quem não tem c’roa!

Aguardente é jiribita,
Feita de cana crioula...
Quem beber em demasia
Quebra o botão da ceroula.

Meu amo, meu camarada,
Agora vou lhe dizer:
Carro não anda sem boi
E eu não canto sem beber.

Eu fui aquele que disse
Que aguardente não bebia,
Porém já estou debicando
Canada e meia por dia.

Minha mãe teve dois filhos,
Fui eu só que dei pra gente:
Vendi tudo o que era nosso,
Bebi tudo de aguardente.


No sertão, a verdade, dolorosa embora, é a que está expressa na quadrinha:

Não há função
Ou brincadeira
Que não acabe
Por bebedeira.


São populares na Paraíba umas décimas rematadas com o mote "Não é defeito beber". Um exemplo:

Para quem bebe aguardente,
Se mete num grande porre,
Dá, apanha, mata ou morre
O beber não é decente...
Porém dando pra contente
Ou mesmo pra entristecer,
Podendo a cana fazer
Tornar-se franco um sovino,
Direi sempre que combino:
Não é defeito o beber!



(Mota, Leonardo. Sertão alegre; poesia e linguagem do sertão nordestino. 2ª ed. Fortaleza, Universidade do Ceará, 1965, p.134-136)

Leia também um texto de Câmara Cascudo e saiba porque o Santo também "bebe no pé do balcão".

domingo, 11 de setembro de 2011

Carta de um chileno aos familiares das vítimas do atentado ao World Trade Center

O 11 de setembro entrou na história há muito mais de 10 anos. Há muitos fatos marcantes no Brasil e no mundo, mas dois deles marcaram muito mais: o golpe militar no Chile e o atentado que fez ruir o World Trade Center. Ambos provocaram danos irreparáveis, milhares de vítmas e consequências com repercussões até hoje. No vídeo abaixo, um dos episódios de um filme que reuniu vários cineastas de diferentes nacionalidades, há uma importante relato sobre a entre esses dois fatos históricos cuja relação é muito maior do que uma simples data. Peço-lhe que dedique menos de 11 minutos para assistir. Asseguro-lhe que não desperdiçara um segundo sequer.

sábado, 10 de setembro de 2011

Canto Livre

Com este Canto Livre, homenageio o próprio Victor Jara, como também o bravo Salvador Allende e todos os chilenos, vítimas do 11 de setembro que há 38 anos fez chover sobre Santiago e sobre todo o país o obscurantismo, o sufocamento da liberdade, da democracia, dos direitos do povo. Dezenas de milhares de vidas foram ceifadas, as consequências ainda se refletem nas lutas atuais do povo chileno, em especial do jovens estudantes liderado por Camilla Vallejo, dentre outros. Neste 11 de setembro pranteio os que tombaram, mas também saúdo os que jamais arriaram suas bandeiras e, por isso, são imprescindíveis ao seu Chile amado.



El verso es una paloma
que busca donde anidar.
Estalla y abre sus alas
para volar y volar.

Mi canto es un canto libre
que se quiere regalar
a quien le estreche su mano
a quien quiera disparar.

Mi canto es una cadena
sin comienzo ni final
y en cada eslabón se encuentra
el canto de los demás.

Sigamos cantando juntos
a toda la humanidad.
Que el canto es una paloma
que vuela para encontrar.
Estalla y abre sus alas
para volar y volar.
Mi canto es un canto libre.

Chilenos



"E aqui não era a pedra 
convertida em milagre, nem a luz 
procriadora, nem o benefício azul da pintura, 
nem todas as vozes do rio, 
os que me deram a cidadania 
da velha cidade de pedra e prata, 
mas um operário, um homem.
Por isso creio 
cada noite no dia, 
e quando tenho sede creio na água, 
porque creio no homem.
Creio que vamos subindo 
o último degrau.
Dali veremos 
a verdade repartida, 
a simplicidade implantada na Terra, 
o pão e o vinho para todos".
Neruda






Registro a sempre atenta e culta contribuição do poeta amigo Joan Edessom

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O revolucionário L.I.V.R.O.

 Enquanto o Colégio Ari de Sá, em Fortaleza, anuncia o tablet como grande novidade para seus alunos, em substituição aos equipamentos ultrapassados utilizados há séculos e já sem função nestes tempos cibernéticos, um produto ainda mais revolucionário foi anunciado já no princípio deste século. O anúncio foi feito por um texto de Millôr Fernandes, que você pode ler integralmente abaixo, ou se preferir, pode assitir ao vídeo mais abaixo, com áudio em espanhol e legendas em português. Não perca a oportunidade de conhecer mais esta criação humana, antes que algum comerciante da educação lhe engane e você acabe matriculando suas crianças no negócio dele.


L.I.V.R.O - Millôr Fernandes



Na deixa da virada do milênio, anuncia-se um revolucionário conceito de tecnologia de informação, chamado de Local de Informações Variadas, Reutilizáveis e Ordenadas - L.I.V.R.O.

L.I.V.R.O. representa um avanço fantástico na tecnologia. Não tem fios, circuitos elétricos, pilhas. Não necessita ser conectado a nada nem ligado. É tão fácil de usar que até uma criança pode operá-lo. Basta abri-lo!

Cada L.I.V.R.O. é formado por uma seqüência de páginas numeradas, feitas de papel reciclável e capazes de conter milhares de informações. As páginas são unidas por um sistema chamado lombada, que as mantêm automaticamente em sua seqüência correta.

Através do uso intensivo do recurso TPA - Tecnologia do Papel Opaco - permite-se que os fabricantes usem as duas faces da folha de papel. Isso possibilita duplicar a quantidade de dados inseridos e reduzir os seus custos pela metade!

Especialistas dividem-se quanto aos projetos de expansão da inserção de dados em cada unidade. É que, para se fazer L.I.V.R.O.s com mais informações, basta se usar mais páginas. Isso, porém, os torna mais grossos e mais difíceis de serem transportados, atraindo críticas dos adeptos da portabilidade do sistema.

Cada página do L.I.V.R.O. deve ser escaneada opticamente, e as informações transferidas diretamente para a CPU do usuário, em seu cérebro. Lembramos que quanto maior e mais complexa a informação a ser transmitida, maior deverá ser a capacidade de processamento do usuário.

Outra vantagem do sistema é que, quando em uso, um simples movimento de dedo permite o acesso instantâneo à próxima página. O L.I.V.R.O. pode ser rapidamente retomado a qualquer momento, bastando abri-lo. Ele nunca apresenta "ERRO GERAL DE PROTEÇÃO", nem precisa ser reinicializado, embora se torne inutilizável caso caia no mar, por exemplo.

O comando "browse" permite fazer o acesso a qualquer página instantaneamente e avançar ou retroceder com muita facilidade. A maioria dos modelos à venda já vem com o equipamento "índice" instalado, o qual indica a localização exata de grupos de dados selecionados.

Um acessório opcional, o marca-páginas, permite que você faça um acesso ao L.I.V.R.O. exatamente no local em que o deixou na última utilização mesmo que ele esteja fechado. A compatibilidade dos marcadores de página é total, permitindo que funcionem em qualquer modelo ou marca de L.I.V.R.O. sem necessidade de configuração.

Além disso, qualquer L.I.V.R.O. suporta o uso simultâneo de vários marcadores de página, caso seu usuário deseje manter selecionados vários trechos ao mesmo tempo. A capacidade máxima para uso de marcadores coincide com o número de páginas.

Pode-se ainda personalizar o conteúdo do L.I.V.R.O. através de anotações em suas margens. Para isso, deve-se utilizar um periférico de Linguagem Apagável Portátil de Intercomunicação Simplificada - L.A.P.I.S. Portátil, durável e barato, o L.I.V.R.O. vem sendo apontado como o instrumento de entretenimento e cultura do futuro. Milhares de programadores desse sistema já disponibilizaram vários títulos e upgrades utilizando a plataforma L.I.V.R.O.





Fonte: Fernando do Val, em seu Facebook

Miséria!

Riquezas?

Em que país você acha que, entre 2005 e 2009, o percentual de riqueza dos mais ricos aumentou de 49% para 56%, enquanto os mais pobres perderam quase um terço de seu patrimônio? Em que lugar desse mundo 10 milhões de famílias perderam suas moradias por não terem como pagar as prestações? Onde foram demitidos, em um ano, 15 milhões de trabalhadores? Qual população tem 14,3% de seus integrantes considerados pobres e 1 em cada 5 crianças é pobre? Este mesmo país destina mais de 1 trilhão de dólares de seu orçamento para gastos militares, mantém mais de 500 bases militares espalhadas por todos os continentes e gastou 700 bilhões dólares para salvar bancos que fizeram operações fraudulentas. E ainda teve gente aqui no Brasil que acreditou na lorota do que é bom pra eles, é pra pra nós. Pois sim...

Clique aqui e conheça melhor este miserável país.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Paz de cemitério na Líbia

A propalada "democracia ocidental" tem chegado com muito alarde à Líbia. Desde o início da cruzada da OTAN, em conluio com alguns países árabes, serviçais do imperialismo, já foram realizadas quase 20 mil incursões aéreas, das quais 7 mil foram bombardeios. Tal "ação humanitária", contra um governo que não segue a risca os ditames imperiais, já provocou a morte de pelo menos 1200 civis líbios e feriu muito mais, destruiu grande parte da infraestrutura do país (menos os campos petrolíferos, claro), provocou desabastecimento de água, alimentos e remédios e muitas outras mazelas. Tudo isso com a aprovação da ONU e até de certos indivíduos e organizações que dizem defensores dos direitos humanos. Junto com canhões e aviões de guerra, a mais imunda arma contra o governo da Libia tem sido a cretinice e a mentira da midiazona servil.
Tudo indica que, mais uma vez, vai prevalecer o mesmo caminho desastroso que seguiram Iraque e Afeganistão, onde a democracia e a paz ainda não deram as caras. Diferente destes dois, na Líbia as tropas invasoras não desceram para o confronto e foram exploradas divergências internas, inclusive dentro do próprio governo de Kadhafi, para gerar um conflito civil apoiado por potências estrangeiras. Os invasores não virão de armas na mão, mas chegarão para "reconstruir" o país, através da Halliburton e similares, mas também virão os mercenários para "pacificar" as disputas internas, como também já ocorre nos outros países "democratizados". Medidas imediatas de redirecionamento das "prioridades" a serem atendidas com a enorme quantia de dinheiro gerada pelo petróleo serão tomadas seguindo conselhos de "especialistas internacionais" a soldo das empresas petrolíferas.

Mais uma vez a história deverá se repetir como tragédia e um povo pagará caro por ter grande riqueza natural em seu país. Que nos sirva de lição quanto ao pré-sal e à Amazônia.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Além de tudo, ficam seus versos










siga,
de mãos dadas,
o caminho da esperança
busque a paz
no ritmo compassado
das batidas do coração
abra as portas
da tolerância,
abrace o entendimento
proteja a vida
(a sua e a do universo)
e ela te protegerá
já que nada
é tão bom
que não possa melhorar.
Caminho da Esperança
Chico Passeata

domingo, 7 de agosto de 2011

Fotografia da prosa

Coisa boa é ler coisa bonita, bem escrita, instigante da nossa imaginação. O Joan Edessom é desses cabras que num botam banca pra escrever e bota pra quebrar quando escreve. Madrugando na estrada de Sobral pra Fortaleza, ali perto da Taperuaba, ele flagrou o sol ainda meio escondido entre os pés de pau que embelezam caatinga. Chegou à Fortaleza, ligou o computador e tranformou a fotografia na prosa que você lê aí mais embaixo, depois da imagem.


A modo de um João

Foi no Ingá, disseram. Nos longes, bem nos longes da serra grande, para muito além ainda da Santa Terezinha.
Nos cotidianos, uns homens iam sistemáticos, todos madrugosos, para a estrada.
Foi o que disseram.
Iam buscar o dia, e lá ficavam, até que aparecesse e viesse com eles, para suas casas. Assim faziam desde as mais antigas memórias.
− E por que iam? – perguntavam os não de lá, passantes, dormintes raros.
− Ora, senão o dia não vem. – a resposta clara, limpa como o dito que iam em busca.
Acontece que um mais novo, que havia mastigado seus grãos de sabedoria pouca, e quem sabe uns pedacitos de poesia, via coisas outras, daquelas que os mais adultos ainda não haviam aprendido. Onde se olhava nuvens e via-se apenas céu azul, ou escuro, ou de outras variações, esse mais novo via formas de girafas, elefantes, leões, zebras e outros que nunca havia visto, mas que suas certezas garantiam existir no mundo, em lugares outros, que não o Ingá.
Pois certa feita, na companhia de todos, olhando ali aquelas sombras de árvores secas, catingosas, nem noite mais, nem amanhecidas ainda, viu o sol chegando, a seu vagar, sem pressa humana, ali pertinho, mirando, embora parecesse tão longe.
E assim, achado em seus pensamentozinhos, o mais novo imaginou se aquele sol, saindo assim daqueles ermos, brabezas das caatingas, não dava as parecenças de um vaqueiro, encourado, quase majestade real. E se assim fosse, estava tudo do seu contrário, pois os homens não iam à estrada buscar o dia, aquele vaqueiro era que ia campeá-los, tangendo todos para seus currais, suas casinhas pobrezinhas.
Foi no Ingá, disseram, nos longes, bem longes da serra grande.


07 de agosto de 2011

Sobralense na Antártida

O povo gostar de dizer por aí que cearense é o "judeu brasileiro" por conta de suas andanças pelo mundo a fora. Pois os sobralenses ajudam muito a constuir essa fama. Encontro muitos conterrâneos nos lugares que vou por aí, como no caso que contei aqui, durante a primeira vez que fui à São Paulo. Pois agora um outro sobralense se meteu numa fria pra fazer jus à fama. O caso tá contado no Blog do Laprovitera, do Totonho, um sujeito muito bom de arte e prosa. Leia o que ele diz lá:


Sobralense com seu "manto sagrado" na Antártida

 Recebi a visita do amigo sobralense Fabiani Paiva Sousa, 1º Sargento da Marinha do Brasil, que há pouco tempo participou de uma missão na Antártida, quando hasteou a bandeira de Sobral junto das dos países que ali possuem bases de pesquisa.

Bandeira sobralense hasteada entre outras, de países presentes no Pólo Sul

Fabiani, que conheço desde quando ele era menino véi, pela casa do Seu Aurélio e Dona Socorro, presenteou-me com um livro sobre os 25 anos da missão brasileira na Antártida.

Sobralense, que é cabra festeiro, se junta com outros brasileiros pra festejar

Taí, que eu dou o maior valor ver um cidadão de bem prosperar na vida!

Totonho e Fabiani, amigos de muito tempo

Agora vou eu....

Fico aqui imaginando onde o Fabiani buscou, ali por Sobral, uma temperatura mais aproximada do Pólo Sul pra fazer a aclimatação. Pode ter sido na Serra da Meruoca, bem lá em cima, onde o cabra bate os queixos e os ossos doem de frieza, ou se foi dando um tempo nas repartições públicas que tem ar condicionado, como fazíam o Fernando Cela e o finado Xyko, que iam prosear lá na recepção da Teleceará, ali na Praça São Francisco. Num é muita coisa, mas já ajuda a rebater o mormaço.

sábado, 6 de agosto de 2011

Gente de valor

Por aqui tem uma gente que canta, dança, ri e luta. Na hora de mostrar seu valor não se dobra, esquenta o pandeiro e vai lá "fazer o que será". Pra esse gente de valor, vai aí o clássico Brasil Pandeiro, do centenário Assis Valente, cantado pelo octogenário João Gilberto. Parabéns pra eles e pra nossa gente que não abre mão de ser feliz.

Diz-me com quem andas...

Roberto Marinho de braços dados com os "democratas"
João Figueiredo e Antonio Carlos Magalhães
"As Organizações Globo serão sempre independentes, apartidárias, laicas e praticarão um jornalismo que busque a isenção, a correção e a agilidade, como estabelecido aqui de forma minuciosa. Não serão, portanto, nem a favor nem contra governos, igrejas, clubes, grupos econômicos, partidos. Mas defenderão intransigentemente o respeito a valores sem os quais uma sociedade não pode se desenvolver plenamente: a democracia, as liberdades individuais, a livre iniciativa, os direitos humanos, a república, o avanço da ciência e a preservação da natureza".


Trecho dos Princípios Editoriais das Organizações Globo, divulgados hoje

A "democracia" das Organizações Globo

Globo vai partir pra cima de Celso Amorim
Rodrigo Viana, do blog O Escrivinhador


Acabo de receber a informação, de uma fonte que trabalha na TV Globo: a ordem da direção da emissora é partir para cima de Celso Amorim, novo ministro da Defesa.

O jornalista, com quem conversei há pouco por telefone, estava indignado: “é cada vez mais desanimador fazer jornalismo aqui”. Disse-me que a orientação é muito clara: os pauteiros devem buscar entrevistados – para o JN, Jornal da Globo e Bom dia Brasil – que comprovem a tese de que a escolha de Celso Amorim vai gerar “turbulência” no meio militar. Os repórteres já recebem a pauta assim, direcionada: o texto final das reportagens deve seguir essa linha. Não há escolha.

Trata-se do velho jornalismo praticado na gestão de Ali Kamel: as “reportagens” devem comprovar as teses que partem da direção.

Foi assim em 2005, quando Kamel queria provar que o “Mensalão” era “o maior escândalo da história republicana”. Quem, a exemplo do então comentarista Franklin Martins, dizia que o “mensalão” era algo a ser provado foi riscado do mapa. Franklin acabou demitido no início de 2006, pouco antes de a campanha eleitoral começar.

No episódio dos “aloprados” e do delegado Bruno, em 2006, foi a mesma coisa. Quem, a exemplo desse escrevinhador e de outros colegas na redação da Globo em São Paulo, ousou questionar (“ok, vamos cobrir a história dos aloprados, mas seria interessante mostrar ao público o outro lado – afinal, o que havia contra Serra no tal dossiê que os aloprados queriam comprar dos Vedoin?”) foi colocado na geladeira. Pior que isso: Ali Kamel e os amigos dele queriam que os jornalistas aderissem a um abaixo-assinado escrito pela direção da emissora, para “defender” a cobertura eleitoral feita pela Globo. Esse escrevinhador, Azenha e o editor Marco Aurélio (que hoje mantem o blog “Doladodelá”) recusamo-nos a assinar. O resultado: demissão.

Agora, passada a lua-de-mel com Dilma, a ordem na Globo é partir pra cima. Eliane Cantanhêde também vai ajudar, com os comentários na “Globo News”. É o que me avisa a fonte. “Fique atento aos comentários dela; está ali para provar a tese de que Amorim gera instabilidade militar, e de que o governo Dilma não tem comando”.
Detalhe: eu não liguei para o colega jornalista. Foi ele quem me telefonou: “rapaz, eu não tenho blog para contar o que estou vendo aqui, está cada vez pior o clima na Globo.” 

A questão é: esses ataques vão dar certo? Creio que não. Dilma saiu-se muito bem nas trocas de ministros. A velha mídia está desesperada porque Dilma agora parece encaminhar seu governo para uma agenda mais próxima do lulismo (por mais que, pra isso, tenha tido que se livrar de nomes que Lula deixou pra ela – contradições da vida real).  

Nada disso surpreende, na verdade. ....