No final dos anos 1970, já mais crescido e meio aventureiro, comecei a frequentar Camocim com minha turma de amigos, entre eles João (que compôs a belíssima "Barreiras", dedicada ao lugar) e Fernando Cela, sobrinhos netos do incrível pintor Raimundo Cela, um dos filhos mais importantes da cidade, apesar de nascido em Sobral. A gente se hospedava na casa de Dona Noemi, avó dos meninos, na Rua Engenheiro Privat, atrás do Camocim Clube. Ali, por várias ocasiões vivemos histórias inesquecíveis. Em Camocim, pela primeira vez encarei um passeio de barco em área de mar e, revelação inédita, pela primeira e única vez na vida, fiz nudismo numa praia ( próximo ao farol, onde certamente seria preso se ousasse nos dias de hoje).
De vez em quando ainda vou por lá passar uns dias de final de ainda, ainda com a família Cela, que hoje se integrou com parte da minha ( Veveu/Izolda e Nampaula/Fernando) e na mesma casa de antes. Nunca vou largar de gostar daquele lugar. E foi por que me arreteu com a notícia de que tem um anúncio na internet de que a "Ilha do Amor" está a venda por uns R$ 8 milhões. Quem oferece é uma tal de Tibério Imóveis, lá de São Paulo, que botou até um mapa com foto de satélite. Interessante que o anúncio, além de propagar o atrativo turístico do lugar, diz também que é "ideal para a implantação de um parque eólico". Esse detalhe não é à toa, afinal Camocim é uns dos melhores lugares para produção dessa energia renovável. Um dos projetos que estão sendo implantados por lá simplesmente vai dobrar os atuais 100 megawatts produzidos no resto do Ceará inteiro. Até pouco tempo as únicas atividades econômicas da ilha eram pesca artezanal e umas barraquinhas de praia malamanhadas. Pois agora apareceram até donos do pedaço, com papel passado e tudo. Imagine-se como isso tudo foi "legalizado".
Ontem, quando vi a notícia no jornal fiquei injuriado e lá pelo fim da manhã recebi um telefonema doutro que se arretou com o anúncio, o Carlinhos Décimo, que nasceu por aquelas beiras de praia e de lá também seu coração nunca tirou o anzol. A notícia é muito cheia de contradições, não se sabe direito se ali é terreno de marinha, se os órgãos ambientais autorizaram a ocupação ou alguma atividade produtiva, herdeiros do finado "proprietário" ainda disputam o espólio, alguns familiares "tiram o corpo de banda", etc e tal. O certo que jogaram uma verde e é preciso que os defensores da natureza e dos espaços públicos fiquem atentos. Nunca é demais lembrar que ali mesmo em Camocim um rede hoteleira quis, em nome da liberação das área de marinha, desalojar vilas de pescadores que existiam há quase um século. Tá na hora do atento Ministério Público Federal se ligar nessa também, antes que a ilha seja vendida e o amor vire vento.
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