quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Avatar, ficção e realidade se encontam na Palestina
Fui assistir Avatar com o Guilherme logo que estreou em Fortaleza. Não conseguimos assistir em 3D porque as filas eram enormes e a eu nao topei sujeitar meu filho àquele sacrifício. Mas a assistência no "jeito velho" de fazer cinema não nos privou de um belo filme e ao filme escutei o cabrinha do meu lado dizer: "Pai, que filme legal!"
Foi com uma felicidade enorme que escutei aquela expressão exclamada. Eu tava numa dúvida danada em levá-lo pruma sessão com mais de duas horas de duração, com uma história que poderia ser complexa pra ele entender. Mas vi que apenas corri o risco de subestimar a capacidade de entendimento e o gosto do Guilherme por cinema.
De minha parte eu tive a mesma sensação. Que filme legal! Por isso fiquei meio contrariado com o análise feita semanas depois pelo Clóves Geraldo, do Portal Vermelho. Para ele, que em viu no clássico Blade Runner uma relação com o conflito operário e patrão, Avatar prova que ainda é possível encantar o público através da máquina da ilusão chamada cinema. Ele ainda acrescenta: "Entre os truques e mágicas gerados pelas câmeras em 3D, trabalhados em estúdio a partir dos movimentos faciais e corporais dos atores e atrizes, pode-se vislumbrar até onde chega o cinemão hollywoodiano. Se as projeções em 3D criam o efeito de realidade, a profusão de elementos em cena, meio ambiente, humanóides e arsenal bélico muitas vezes se sobrepõem à história em si".
Como dizia aquela musica do Kid Abelha, onde foi que eu errei? Eu que tava todo animado com um filme onde eu via claramente uma potência militar invadindo um território cheio de riqueza mineral, destruindo seu povo, suas tradições, sua cultura e relacionava tudo isso à invasão do Iraque pelos Estados Unidos, me encantei com a máquina de ilusão hoolywoodiana? Fui e voltei no pensamento, nas minhas ideias e nos gostos cinematográficos, não vi nada de errado. Pensei em assitir novamente ao filme, e o farei, mas não por aquele dúvida, mas porque quero perceber melhor "os truques e mágicas gerados pelas câmeras em 3D, trabalhados em estúdio a partir dos movimentos faciais e corporais dos atores e atrizes", que contam inclusive com o competente trabalho do cearense Alfredo Luzardo. De minha opinião sobre o filme eu estava seguro.
Pois num é que na sexta feira passada, dia 12, enquanto o Brasil entrava na folia carnavalesca, jovens palestinos da pequena Billin, cidadizinha próxima à Ramallah, capital administrativa do território palestino,"se fantasiaram" de Na’vi, o povo de Pandora, para protestar contra mais uma barreira que os impediam de circular livremente e delimita áreas para a construção de assentamentos israelenses em território palestino. O objetivo era fazer um protesto pacífico, mas para os militares israelenses, não existe protesto que não mereça pelo menos bombas de gás, como você pode perceber no vídeo acima. "Nós vamos transmitir a nossa mensagem de forma rápida e mostrar a violência dos soldados israelenses quando atacam os protestos não-violentos e atiraram nas pessoas", diz Iad Burnat, um dos líderes das manifestações, que têm, inclusive, atraído israelenses contrárias à ocupação da Palestina.
Vi a notícia com satisfação dupla. Politicamente vejo que, mesmo numa situação extrema como a do conflito entre paslestinos e israelenses, pode ter muita criatividade e se manifestar de um modo que amplie, que dialogue com outros segmentos, capazes de apoiar uma causa justa. Pessoalmente fiquei satifeito porque os fatos comprovavam que Avatar não me descolou da realidade e que o cinema fala sim de nossas vidas, mesmo os que falam contra nosso modo de pensar. É só apurar mais o olhar.
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