sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Sobral me faz bem

Já fazia um certo tempo na minha vida que eu não desfrutava tanto do convívio com minha família, na minha Sobral querida, ao lado do meu filho Guilherme e da minha Fernanda. Pois desde o natal que esse meu desfrute é quase "intiriço", como diz o cabôco. Em várias ocasiões a emoção veio forte. Reencontrei muitos amigos que reclamam da minha ausência em Sobral, vivi momentos e lembranças incríveis com minha família. Anotei umas coisas e por aqui vou lhe mostrar algumas delas.

O tempo voa

Um reencontro depois de mais de 30 anos
A manhã na nossa casa é bem movimentada. Filhas e filhos, em companhia ou não, de netos e netas do Dotôluciano e da Domaria, vão chegando e se abençoando, vão na cozinha e, na mesa sempre posta, tomam café com pão, ou um suquinho de acerola caseira, colhida nos fundos de casa, do pé que minha mãe plantou e que já se reproduziu em vários outros. As notícias lidas nos jornais do dia se misturam com as novidades da família imensa ou com algum fato novo na cidade.

Naquela manhã de sexta feira pré natal a novidade foi a chegada dum sujeito baixinho, de fala pouco avolumada, mas de ritmo muito cearense. Não reconheci o distinto, mas gostei da prosa dele, mesmo que falasse da safra ruim de caju lá no sítio de meu pai, no Santo Antônio dos Melo, onde fui pela primeira e uma das poucas vezes subindo a cavalo, junto com meu pai e o Veveu, o pé da serra da Meruoca. Mas o Anastácio, filho do Seu Leôncio, caseiro do lugar, me reconheceu e lembrou que há mais de 30 anos não nos encontrávamos. Temos a mesma idade e, quando essa ainda era bem pouca, brincamos no lajeiral e nas quedas dágua do riacho que passa ao lado da casa onde sua família morava. A conversa foi curta porque seu filho o esperava lá fora. Pedi pra alguém transformar o reencontro em imagem e ficamos de um dia eu subir novamente o pé da serra pra pra rever um dos lugares da minha infância feliz. Minhas férias começaram bem.

Natal família


Juntando filhos, netos, noras, genros, amigos e simpatizantes, além do bisneto, o encontro de toda minha família juntaria algumas dúzias de gente boa. No natal deste ano exatamente 47 criaturas participaram do animado amigo secreto no alpendre da casa do Dotô e da Domaria. Era gente de tudo que é idade, presente pra todo gosto (a maioria comprado por mulheres fez alguns homens entrarem numa saia justa, quase um beibidol) e cada comida a mais deliciosa e com um sabor de natal sertanejo.


Se um natal em família já é legal, imagine dois ... Da minha morada sobralense fomos pra casa da Nampaula, minha irmã, e do Fernando, meu cunhado, que junto com Lucas, Gabriel e Zé Artur, acolheram mais gente boa e regaram o resto da noite com carinho, presentes, guloseimas e uma bebidinha pra molhar a palavra e a prosa ficar mais solta. A parábola O Semeador deu à noite um momento de reflexão sobre os desafios da vida e quem a leu em voz alta, provocou o debate e depois ajudou a encontrar lições naquele texto foi o Veveu, que já se prepara para um grande desafio de sua vida.

Mamãe emoção

Exagerada

O prefeito Veveu escuta a nossa mãe falar sobre ele

Como boa parte das queridas brasileiras e dos queridos brasileiros, Domanducarmo, minha mãe, é curtidora inventerada do Roberto Carlos. E a música predileta dela é Emoções. Nesses dias de Sobral tive a certeza de esse gosto musical de minha mãe é porque é importante pra ela nos fazer viver grandes naqueles momentos lindos. Prepare seu coração pras duas histórias que eu vou contar.

Os vereadores de Sobral, o prefeito sainte Leônidas e o entrante, Veveu, já tinham cumprido as formalidades legais e o vereador presidente, João Alberto "Paredão" ia encerrar a sessão do dia 1.1.11quando a quase octogenária Domanducarmo pediu pra dar uma palavrinha rápida e já foi logo pro microfone antes mesmo de consentida.

"Eu escutei o Veveu falar dos compromissos dele e lembrei que quando ele era menino tinha um garoto que engraxava sapatos lá em casa, ele se chamava Manuel. Num dia o Veveu chegou pra mim e disse: "Mamãe, eu tenho dois sapatos e o Manuel não tem nenhum. Eu posso dar um dos meus pra ele?". Esse é o Veveu desde criança e sei que ele seguirá assim nessa nova missão que recebe".

O silêncio enorme enquanto minha mãe falava denunciava a emoção das pessoas. Uma delas, o Djalma, amigo querido me falou o seguinte: "Inácio, a tua mãe exagerou. Meu pai dizia que homem não chora e eu fiquei ali desobedecendo ele enquanto a Dona Maria do Carmo falava".



Solidária

No dia quatro de janeiro eu tinha planejado acordar cedinho pra arrumar umas rosas vermelhas que embelezassem o começo do dia em que minha mãe completava 80 anos. A Fernanda ajustou o celular dela pra  despertar as 5:50h, mas fomos acordados pelo som de um saxofone tocando "Nossa Senhora", do Roberto Carlos. Imaginei logo que era uma produção da Maria, minha irmã, mestra no assunto, mas quando quis confirmar ela mesma me disse que não, era alguém ali da rua que tinha preparado aquela serenata matinal pra nossa mãe.
Minha mãe e a família feliz de Donalurdes
Busquei a Sonynha e fui guardar aquele momento como imagem. Fiz uma foto de longe e depois que a música parou encostei pra escutar a prosa da minha mãe com Donalurdes, produtora do espetáculo. Minha mãe só agradecia e perguntava por que ela e sua família tinham feito aquela surpresa, enquanto a senhora meio desconhecida apenas dizia que era um agradecimento pela felicidade que a aniversariante causara a eles todos. Domaducarmo não lembrava o que teria feito e Donalurdes contou que há três anos sua nora contraiu uma doença grave e pela falta de condições de fazer o tratamento corria risco de não sobreviver. A sogra procurou minha mãe que consegiu médico, cirurgia e tratamento salvadores. Há alguns dia aquela senhora encontrou minha irmã Ciana numa missa, perguntou por minha mãe e soube que esta faria 80 anos no quarto dia do ano novo. Pronto! Era a chance de uma homenagem agradecedora. Daí surgiu aquela serenata emocionante, feita por uma família simples, que mora um pouco distante, cheia de carinho e gratidão pra minha mãe sempre solidária.

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