A modo de um João
Foi no Ingá, disseram. Nos longes, bem nos longes da serra grande, para muito além ainda da Santa Terezinha.
Nos cotidianos, uns homens iam sistemáticos, todos madrugosos, para a estrada.
Foi o que disseram.
Iam buscar o dia, e lá ficavam, até que aparecesse e viesse com eles, para suas casas. Assim faziam desde as mais antigas memórias.
− E por que iam? – perguntavam os não de lá, passantes, dormintes raros.
− Ora, senão o dia não vem. – a resposta clara, limpa como o dito que iam em busca.
Acontece que um mais novo, que havia mastigado seus grãos de sabedoria pouca, e quem sabe uns pedacitos de poesia, via coisas outras, daquelas que os mais adultos ainda não haviam aprendido. Onde se olhava nuvens e via-se apenas céu azul, ou escuro, ou de outras variações, esse mais novo via formas de girafas, elefantes, leões, zebras e outros que nunca havia visto, mas que suas certezas garantiam existir no mundo, em lugares outros, que não o Ingá.
Pois certa feita, na companhia de todos, olhando ali aquelas sombras de árvores secas, catingosas, nem noite mais, nem amanhecidas ainda, viu o sol chegando, a seu vagar, sem pressa humana, ali pertinho, mirando, embora parecesse tão longe.
E assim, achado em seus pensamentozinhos, o mais novo imaginou se aquele sol, saindo assim daqueles ermos, brabezas das caatingas, não dava as parecenças de um vaqueiro, encourado, quase majestade real. E se assim fosse, estava tudo do seu contrário, pois os homens não iam à estrada buscar o dia, aquele vaqueiro era que ia campeá-los, tangendo todos para seus currais, suas casinhas pobrezinhas.
Foi no Ingá, disseram, nos longes, bem longes da serra grande.
07 de agosto de 2011
Um comentário:
É impressionante quem sabe escrever! num instante transforma uma foto em belos escritos!
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