Houve um tempo em que eu e meu pai tínhamos um diálogo muito difícil, nossas divergências brotavam muito facilmente e eu até evitava de ir mais à Sobral. Um certo dia eu acabei externando minha preocupação num cartão que deixei no quarto dele lá em Sobral. Pra minha feliz surpresa ele me respondeu com uma bela carta que eu nem lembrava mais onde andava mas a reencontrei recentemente enquanto arrumava uma montanha de coisas que guardei ao longo da vida.
Desde que a "achei" nem sei quantas vezes eu a li, cheio de emoção, de muito carinho e respeito por meu pai e sua sabedoria. Sou-lhe muito grato por ser esse cara assim, com que eu tenho a possibilidade de trocar ideias, de amadurecer, de divergir muito e até bater boca, mas sei que jamais nos faltará um amor infinito e a convicção de que temos um papel a cumprir aqui mesmo, onde ele chama de "paraíso". No fim, somos diferentes, mas muito iguais também, e é assim que quero ser com meu filho Guilherme.
Eu quero então compartilhar com você um grande riqueza do meu pai, que é ser um grande pai.
Meu caro filho Inácio:
Fiquei muito contente com o seu cartão; tão contente que renovo o ímpeto para tecer comentários sobre os problemas que v. aborda e nós, ambos, sofremos.
Em primeiro lugar, devo dizer-lhe que não me perturba a evidência de que os nossos caminhos serão diferentes. O importante é que v. e eu nos esforcemos para atingirmos um patamar de mútua compreensão, ante as exigências irrevogáveis da vida prática. Eu sei que os caminhos transitados pelo meu pai não foram iguais aos caminhos do pai dele, como sei que os caminhos dos meus filhos não seguirão as minhas pegadas. Neste aspecto, o fundamental, mormente para as pessoas do seu nível intelectual e ético, é a plena compreensão do momento histórico (todos os momentos são históricos) que vivemos, para que não nos frustremos batendo a cabeça no muro ou tentando parar o trem com o braço estendido.
Aprendi, com certo alarme e dor, que para alcançar nossos intentos de felicidade, temos que ceder suficientemente ante as imposições da comunidade, do comum dos homens, compatibilizando o nosso querer com as regras essenciais, ao mesmo passo que devemos reter alguns esforço para batalhar contra os maldosos, os bobos, os arbitrários, os donos da vida e do mundo, de tal forma que ao final do processo apresentemos alguns êxitos e vitórias para melhorar a civilização.
A meu ver tudo tem que caminhar nos prazos da história, cujos passos são as nossas gerações, e não adianta querer queimar etapas, sob pena de pagar com a própria cabeça, arruinando a vida bela e feliz que almejamos, e, de contra peso, ceder aos “farizeus”.
Por exemplo: sua mãe e eu temos lutado para construir um núcleo de pessoas ajustadas, humildes e competentes, de espírito aberto para receber e usar a colaboração de outros, fazendo o mundo melhor do que ele era quaundo nós a ele chegamos.
Este nosso propósito, que não é escrito nem formal, apenas resultado espontâneo da nossa aspiração de felicidade está dando certo.
Aqui estão vivendo e lutando e amando conosco, o Francisco, o Veveu, a Ciana e a Hildinha. Ao que nos parece todos felizes e realizando as aspirações de sua indidualidade.
Imagine, então, como seremos fortes e felizes, se o Inácio, a Ana Paula, a Maria do Carmo e o Luciano Filho fortalecerem a nossa corrente e nos tornamos aquela família que todos os pais estão sonhando.
Bom, o final é muito fácil.
Basta que o tempo, a experiência, e, sobretudo o amor dos que lhe amam, façam-lhe compreender que o “paraíso” somos nós, entendendo uns aos outros e aberto para tudos.
Um grande abraço do
seu pai
Luciano Arruda
11 comentários:
Inácio querido, continuo sem palavras diante de tantas palavras sensatas e cheias de sabedoria, sabedoria que só o viver a vida propicia. Continuo sem palavras diante desse amor desmedido entre pai e filho. O bom da vida é saber ver e viver com as diferenças, respeitá-las, questioná-las... façamos assim nosso Paraiso.
Um beijo
Fê
Do Luciano Filho recebi, por email. o seguinte comentário:
Rpaz... prá ver como são as cousas... ja lí muita coisa boa do papai.
Mas num é que foi por essa revelação, dessa dramática passagem que tivestes com ele, que lí aquela que seja a mais bonita carta de pai...
Tristes e frios tempos estes de e-mails, messages e twitters... e, mais grave, de pais que não sabem escrever...
Linda essa passagem em que ele fala que "A meu ver tudo tem que caminhar nos prazos da história, cujos passos são as nossas gerações...". Disse tudo o nosso velho.
Em seguida afirmando, "sua mãe e eu temos lutado para construir um núcleo de pessoas ajustadas,
humildes e competentes, de espírito aberto para receber e usar a colaboração de outros,
fazendo o mundo melhor do que ele era quando nós a ele chegamos".
É uma grande honra sermos personagens dessa história. Nem sei se avaliamos bem a dimensão
disso tudo ainda...
Esse arremate... "Este nosso propósito, que não é escrito nem formal, apenas resultado
espontâneo da nossa aspiração de felicidade está dando certo." ...é genial. Que ele saiba, deu certo,
deu certo !!
Aliás, é por inspiração deles que reunimos, já numa segunda geração, "pessoas humildes, ajustadas e de espírito aberto, em busca de um mundo melhor".
Que não nos dispersemos...
Abraço fraterno,
L. Filho
Do meu querido amigo e irmão da Rua Deolindo Barreto, recebi um comentário por email:
Meu caro amigo Inácio.
Foi gratíssima a surpresa de receber o seu email.
Li, comovido, a carta/resposta de seu pai ao seu cartão.
Belíssima lição de vida e de como criar uma descendência feliz, realizadora e ética.
Não me contive em lê-la. Sem lhe pedir autorização, mandei prá lista dos colegas juízes da AMATRA 16/MA. Afinal, não é todo dia que se lê um texto que, além de bem escrito, é um tratado, pungente, de como bem formar filhos para o mundo.
Enfim, do texto emergem as sabidas qualidades de seu autor. Meu pai tinha razões de sobra para admirá-lo. Assim como nosotros, seus filhos.
Um forte e fraternal abraço, a você e a todos os que tiveram e têm a ventura de poder conviver diariamente com o Dr. Luciano.
PAULO MONT´ALVERNE FROTA
Em tempo: Parabéns pelo seu "DO CARVALHO".
Amigo Inácio,
Fiquei muito emocionado ao ler a carta do teu pai. Ainda mais por estar tão longe do meu, mais feliz ainda por ver que existem familias com valores de "livro de historias", ou seja, hoje em dia não é facil encontrar esse tipo de trato entre pais e filhos, tudo é tão diferente. Meus pais têm essa forma de estar e ver a vida, por isso gostei tanto de ler a carta do teu pai.
Fez me lembrar muito da minha relação com meus pais e irmãos.
Um forte abraço
Benjamim
Inácio você não sabe o quanto nos fez feliz compartilhando esse seu momento com todos nós.
Se já admirava o papai por tamanha sabedoria,e pela sua conduta e postura ao longo de sua vida,agora então me sinto privilegiada de fazer parte dessa história e de poder conviver todos os dias com uma pessoa de valores tão dignos.
Que preciosidade!!!!!
obrigada!!!!!!!!
bj
Amigo Inácio,família sempre foi o meu forte, ao ler essa inspiração divina e verdadeira do Professor Luciano, meus olhos encheu-se de lágrimas, pois me leva a uma viagem, e recordo meu Pai, quando conversava comigo á dizer que tomasse cuidado que ás vezes a vida é traiçoeira... Como é bom ter e ser Pai...Tenho um filho, é uma das minhas razões de viver, de lutar...Parabéns irmão..Tô de Olho no Senhor!!! Sou fã do Blog...
Grande Inácio,
Li com muita atenção a carta de seu pai, e fiquei muito emocionado com a riqueza de ensinamentos ali escritas. Infelizmente perdi meu pai muito cedo, e tive q aprender muitas coisas com a vida, ou me espelhando nos pais de alguns amigos. Apesar de conteporâneo do Luciano Filho, não tive aproximação com seu pai, e se tivesse tido essa oportunidade talvez fosse melhor ser humano do q me proponho a ser.
Agora como pai da Isadora vou levar comigo a certeza de que o mais importante do quer ser um pai presente, é ser um pai amigo.
Parabéns pelo seu pai, e pela familia "show" q vc tem.
Abraço,
Rubens "Nasal" Lima
Inácio, só hoje lí essa carta do papai pra você!! E conclui: Ele é o cara!! É incrivel como hoje, mãe de três filhos HOMENS, ESSAS TÃO BEM TRAÇADAS LINHAS, que não é surpresa pra mim, pela forma, mas que muito me EMOCIONA, pelo conteúdo; me serviram como mais uma das inúmeros lições do(s) nosso(s) pai(s)!! Hoje, aos 78 anos, com algumas limitações, ele CONTINUA nos dando essas lições, a nós e aos nossos filhos. Outro dia, o Lucas(15 aninhos), comentou comigo: Mãe, já faz uns três dias que eu não vou na casa do Vô... sinto falta!!" Isso me dá muita alegria pois sinto nos meus filhos, um grande respeito e admiração pelos meus pais,e eu sei que não é só por serem seus avós,mas especialmente,pelas lições que eles costumam nos dar, nas conversas noturnas, na porta de casa...Daquele lugar(vc sabe onde), sentado numa cadeira, ele costuma, com pequenos comentários, nos dizer grandes verdades e ensinamentos pra nós, pros nossos filhos, pros filhos dos nossos filhos e...eu tenho sempre a sensação de deveria conversar mais com ele(s). Conclui: Nosso pai, Inácio...ELE É O CARA!! Bjs da Nanpaula
Eu também sou outra que sou bem feliz por fazer parte da nossa Família..Mas é bom demais mesmo, meu povo, imagina você ter a certeza que além da sua própria casa, você tem, no mínimo, mais 8 casas que pode chegar a qualquer hora, sem avisar (inclusive pro almoço) e ser verdadeiramente bem vinda, bom demais, né não?..Lá na vó ainda temos direito a banho com sabonete novinho, só pra gente!!
Pra mim, ir à Sobral é certeza de Renovação de Energias, pegar aquele ventim de noite na calçada do vô, ficar ouvindo as histórias, compartilhando a vida, entendendo que o paraíso somos nós mesmos..! E quando é noite de Lua?!
Por email recebi da amiga sobralense Tetê, o seguinte cometário:
Inácio,
Adorei ler a carta do Dr. Luciano realmente muito bem feita e exelente para refletirmos como somos amados e queridos pelos nossos pais. Só tenho uma coisa a lhe dizer apoveite este tempo com Pai e Mãe que é super precioso pois qdo eles vão embora a gente fica um pouco sem rumo. Parabéns pela sua inteligencia e adorei seu blog.
bjos
Tetê
Que lindo! Emocionante mesmo.
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