terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Mandela, esporte e política



Ainda num deu tempo secar os olhos por conta de tanta emoção que vivi ao assitir o filme Invictus, dirigido pelo Clint Eastwood, cujo personagem central é Nelson Mandela, interpretado magistralmente pelo Morgan Freeman. Eu num sei o que sentiram as outras 14 pessoas que dividiram comigo a sala 2 do Cine Del Passeo, mas acabo de assistir apenas a primeira de algumas outras vezes que verei Invictus.

Sou bem suspeito quando se trata de Mandela porque ele, ao lado de Fidel Castro, são hoje dois grandes ídolos vivos que cultuo. Mandela é um gênio da política, uma cara com sensibilidade capaz de unir um povo literalemente apartado. A certa altura afirma, sem medo, que o povo pode estar errado e o grande líder político é capaz de por em risco sua popularidade para mostrar o caminho mais consequente, capaz de conduzir melhor os destinos do conjunto da nação. É justamente o que ele faz ao convidar os desconfiados funcionários do gabinete da Presidência, que serviram ao regime racista, a permanecerem trabalhando em favor do país, ao confiar sua segurança a agentes que em outro momento histórico agrediram seu o povo e o tratavam como terrorista, ao enfrentar seus corregilionários do Congresso Nacional Africano (CNA) para que revertam uma decisão unâmine que acentuava a divisão do país e ao "usar" um símbolo branco, um time de rugby sulafricano, contra o qual os negros torciam, para fortalecer o sentimento de união nacional tão necessário naquele ano, 1995, quando a chamada "Reconciliação" ainda enfrentava enormes obstáculos.

Já faz um tempo que esporte política andam juntos. Pro bem ou pro mal sempre pode ser um poderoso instrumento político. Invictus fala de Mandela e da África do Sul, mas ninguém esquece de Hitler e os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, assim como Rafael Videla e a Copa do Mundo de Futebol da Argentina, em 1978. O Brasil vive um momento de grande preparação para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Além da enorme paixão popular, tem muita política no meio de tudo e foi justamente ela, e não a seleção do Dunga, nem nosso ainda promissor esporte olímpico que garantiram essas conquistas nacionais. Foi da atitude ousada e soberana do governo brasileiro, foi da nova configuração que o jogo político inernacional vai tomando, entre outras novidades, que sairam esses grandes desafios que o Brasil resolveu encarar. O povo vibrou, mas por conta da política e de uma incurável dor de cotovelo, tem muita ave de mau agouro torcendo contra, com a ajuda de gente até bem intencionada, mas bem equivocada também.

Saí mais fã ainda do Mandela e me cobrando a falta da leitura de uma biografia dele. Mas também saí mais convencido ainda de que o caminho que o Brasil tá fazendo é o melhor e pode melhorar muito mais. É assim, a gente saí de casa pra curtir o que o Luiz Severiano Ribeiro chamou de "maior diversão" - apesar de uma menor presença de gente nas salas de cinema ultimamente - e acaba também tirando umas lições e reafirmando algumas visões sobre a vida.



Pra variar o Clint Eastwood continua refinando seu talento como diretor, nos brinda com uma magnífica trilha sonora e referencia o filme no poema Invictus, que Mandela lia na Prisão da Ilha de Robben, onde permanceu 27 anos preso.


Invictus

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

Autor: William E Henley
Tradutor: André C S Masini

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Inácio,
Sabemos que você não é muito ligado nessa alienação coletiva chamada Futebol. Mas, como você postou este mote, compartilho com nossos colegas de Blog uma CORRENTE que tá rolando na Internet, destinada aos torcedores do Fortaleza e utilizando frases fortes do poema Invictus:

CORRENTE:

"Quem lê e se identificar ou se emocionar com este belo poema deverá enviar ou imprimir 10 (dez) cópias, e distribuí-las entre desiludidos torcedores do Fortaleza para que todos o leiam, em forma de oração, formando uma corrente energética positiva,
que nos ajudará a manter a altivez,
a cabeça ereta,
durante o breu espesso e o horror das trevas (que é a 3ª Divisão)
e, apesar dos estragos e golpes
praticados por comandantes ilegítimos.

Sabemos que a senda (o caminho de volta) é estreita,
mas os verdadeiros tricolores não se amedrontam,
não declinam,
são insubjugáveis
e conscientes de que, mesmo após
uma profunda e tenebrosa noite,
surgirá um dia radiante e belo,
quando o Rei sol Leão,
com suas pesadas e furiosas garras,
transformará nosso destino
e lavará nossa alma.

Voltaremos INVICTUS."
J.Costa

Inácio Carvalho disse...

Caro torcedor tricolor, engano seu em pensar que acho o futebol uam alienação. Foi exatamente por pensar o contrário que postei esse história sobre o filme. O futebol pode até ser apropriado por um ponte de canalhas que o dirige, mas o povo é feliz com ele.

Quanto à corrente, espero que funcione, mas tô mesmo é ligado no meu Guarany, o Cacique do Vale, o único invicto do campeonato cearense que, eu espero, nos honrará com um título este ano.

Anônimo disse...

É isso aí, Inácio! A cada dia vc cresce em nosso conceito. Além dessa pessoa culta, politizada e combativa, vem mostrando (e dando lições) as suas "porções" família e desportista.
Concordo com vc que o futebol está contaminado por um MONTE de dirigentes oportunistas que fazem PONTE para se eleger a cargos públicos com o voto da "gandaia" cega e inconsequente.
Obrigado por ter nos apresentado esses temas sobre Mandela e Invictus. E sucesso para o Guarany, que é meu segundo time.
J.Costa