Ontem durante uma conversa sobre o Nordeste com o José Carlos Ruy acabei me emocionando ao falar sobre os impactos positivos que os programas sociais do Governo Lula provocaram na região. Nos últimos tempos circulei bastante pelo interior do Ceará e conversando com as pessoas, desde trabalhadores rurais, vaqueiros, comerciários e comerciantes, até prefeitos, vereadores e lideranças políticas e populares, dá pra perceber a nova realidade do interior do Brasil. Os programas sociais não melhoram apenas as condições materiais das famílias pobres, mas também movimentam a economia local, aumentam o movimento no comércio, permitem que os pequenos agricultores vendam sua produção mais facilmente. Não tem como ignorar as mudanças na vida do povo.
Pois bem, hoje li na Folha de São Paulo há uma inversão do fluxo de nordestinos que antes se deslocavam em busca de uma vida melhor no chamado eixo Rio/São Paulo, que o Henfil apelidou de "Sul Maravilha". Somente entre os anos de 2002 e 2007, cerca de 400 mil nordestinos voltaram pra casa . No mesmo período o estado de São Paulo deixou de ser o maior receptor de mirantes pra ser o maior exportador, 61% dos que retornaram pra casa sairam desse estado.
Mas o que isso a ver com a conversa entre o Ruy e eu? Veja abaixo o que diz a um estudioso do assunto:
Para o professor de economia regional da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Cícero Péricles, alguns fatores regionais são determinantes nessa mudança de rota. "Os registros da migração coincidem com o esgotamento dos destinos tradicionais dos pobres do Nordeste: as fronteiras agrícolas, como na Amazônia e Centro-Oeste; com a perda de atração na construção civil do Sudeste e com o maior padrão de exigência no setor da indústria paulista, onde a mão-de-obra nordestina não encontra colocação. Outro elemento importante é que as condições sociais da região [Nordeste] melhoraram muito nos últimos anos", explica, ressaltando que o Nordeste cresce em ritmo mais acelerado do que nas demais regiões. Para o economista, um dado importante que os números revelam é que mais da metade das famílias nordestinas pobres recebe algum benefício federal, seja do Bolsa Família ou da Previdência Social. "Isso é determinante na contenção da miséria. Das 14,5 milhões de famílias no Nordeste, sete milhões recebem da Previdência e 5,6 milhões recebem o Bolsa Família. O salário mínimo, forma de pagamento de dois terços dos assalariados na região, tem impactos no Nordeste maior do que em qualquer outra região. Como hoje existem alguns pólos de desenvolvimento econômico, junto com esse colchão social, as pessoas acabam apostando mais na vida por aqui", afirmou. Péricles diz ainda que, nos últimos dez anos, as secas tiveram impactos minimizados pelas políticas públicas, o que fortaleceu o vínculo com a região. "Aí acontece outro fenômeno importante: o Nordeste se urbanizou e conta com 70% da população nas cidades. Hoje é mais comum a migração rural para as pequenas cidades, e daí para as grandes. O fenômeno que se percebe é que, ao invés de ir direto para São Paulo, ele tenta a vida numa capital nordestina", explicou o economista.
Na onda de volta pra casa até o famoso joquei de corridas de cavalos no Rio de Janeiro, Juvenal Machado, que se popularizou pelo bordão "Lá vem o Juvenal!", também resolveu voltar pra sua cidade natal, Delmiro Gouveia, em Alagoas. Ele não veio por conta dos proramas sociais públicos, mas por conta das melhorias que o Nordeste vive. Não apenas Juvenal e os conterrâneos nordestinos optaram por morar na região, mas também muitos outros brasileiros. No mesmo período de 2002 a 2007 mais de 450 mil pessoas migraram pra cá. Aqui o Brasil se desenvolve mais do que em qualquer lugar e isso porque ainda há muitas limitações e as desigualdades regionais são enfrentadas de forma insuficiente. O Nordeste não é mais o mesmo do século passado e isso tem muito a ver com as mudanças que o Brasil vive, por isso os nordestinos são os que mais desejam a continuidade desse ciclo virtuoso brasileiro.
Um comentário:
De José Carlos Ruy, recebi por email, o seguinte comentário:
Grande Inácio
é justo voltar para o aconchego! Dê um abraço em todo mundo aí. Li a matéria da Folha depois de sua indicação e acho que ela vai no rumo daquilo que a gente falava. Você vê, basta uma melhora discreta na qualidadae de vida e na renda para o sertanejo não só continuar na sua terra, mas voltar. Isso é bom, significa que o Brasil vai melhorando e que as pessoas conseguem conviver com mais dignidade do que antes, podendo recusar a velha subordinação que levava o sertanejo a enfrentar situações que, se pudesse escolher, não enfrentaria. Isto é a tal "cidadania", você não acha?
abraço grande do
Ruy
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