Conheci a Gilse no comecinho dos anos 80, quando eu ainda nem havia sido recrutado para o PCdoB, mas já conhecia muita gente do partido e por isso, de vez enquanto, encontrava aquela miudinha, sorridente, que falava até pelos cotovelos, com uma convicção impressionante. No dia que entrei no partido, 8 de março de 1982, dei a notícia pra ela na comemoração do Dia Internacional da Mulher e escutei sua fala mineira já misturada com cearês: "Ô baxim, escolheu um dia bom, num foi? Você é bem vindo e muito querido por nós".
Por quase dez anos, aprendi muito com aquela moça de Minas Gerais, sempre disposta a uma conversa mais esclarecedora. Em 1984, pouco antes de encerrar a gestão Viração no DCE/UFC, onde eu era Diretor de Cultura, Gilse me chamou pruma prosa e perguntou o que eu achava de ajudar a criar a União da Juventude Socialista (UJS) no Ceará. Topei na hora e lembro que ela me ajudou a organizar uns roteiros de palestra para jovens. O meu problema era que tava com uma linguagem cheia de chavões do Movimento Estudantil e tinha dificuldades de expor para jovens trabalhadores, inclusive rurais. Mas o sertanejo aqui tratou de relembrar a vida no interior e logo a coisa desenrolou.
No primeiro semestre de 1987, ainda trabalhei com Gilse no escritório de advocacia popular, onde também trabalhava o saudoso Roberto Macambira, antes de receber meu novo desafio: assumir a assessoria do então vereador do Fortaleza, Chico Lopes. Aos vinte e quatro anos, meio assustado, falei pra Gilse que não sabia muito como daria conta da tarefa e ela disse: "Se preocupe não baxim, você vai é aprender muito com o Chico Lopes e o Partido vai tá sempre junto". Dito e feito, mas a tarefa que ia durar só até o fim daquele mandato, em 1988, dura até hoje, depois de bom período com o vereador, depois deputado estadual e depois federal Inácio Arruda, que hoje é senador.
Candidata a deputada federal em 1990, Gilse adotou o slogan "Sem perder a ternura" e ganhou a simpatia e a adesão de muita gente ao longo da campanha que, se não a elegeu, apresentou pra muita gente a bela e destemida história daquela mulher, que também é mãe da Juliana e da Gilda. Pouco tempo depois Gilse assumiu uma tarefa nacional, foi pra São Paulo e depois pra sua Minas Gerais, onde mora até hoje, e por aqui deixou camaradas e amigos que sempre guardam boa lembranças dela.
Gilse chegou à Fortaleza neste domingo e por aqui vai ficar a semana inteira quando o nosso PCdoB comemora 89 anos de história. Ela vai estar em muito eventos de homenagem ao partido, mas também receberá muitas homenagens, ainda por conta do Dia Internacional da Mulher, o "dia bom". Também vai ajudar num trabalho de resgate da memoria do PCdoB no Ceará, que está sendo coordenado pelo Joan Edessom e que eu também faço parte. Vamos relembrar e registrar muitas boas histórias, Gilse terá oportunidade de falar muito, rir de alguns momentos engraçados, como o que ela quebrou o pé dançando frevando comigo, ou de emoções como a festa que fizemos, junto com o povo, no dia da derrota do regime militar no Colégio Eleitoral.
Seja bem vinda, camarada Gilse!
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