segunda-feira, 14 de março de 2011

Os japoneses já viram algo muito parecido

Hiroshima não esquece o que aconteceu em 1945

Ao falar sobre as graves consequências do terremoto, seguido de tsunami, que se abateram sobre seus país,  o primeiro ministro japonês Naoto Kan disse que o Japão vive a sua pior crise desde a 2ª Guerra Mundial e arrematou: "Não será fácil, mas superaremos esta crise, como fizemos no passado". O chefe do governo sabe muito bem o que disse e, mesmo diante de uma enorme tragédia, que choca a todos que vêm as fotos e as imagens, não ousa desafiar a verdade histórica de que os japoneses já viram algo muito parecido e até mais grave do que vivem atualmente.


Em maio de 1945 os aliados, sem muita ajuda dos Estados Unidos, que só chegaram à Europa no dia 06.06.1945,  já haviam derrotado as tropas nazistas de Hitler, a maior máquina bélica montada até então. Mais pro oriente os combatentes do Imperador Hiroito, ainda ofereciam alguma resistência, mas nada que pudesse mudar o rumo das coisas. Os Estados Unidos, porém, ainda estavam a fim de um espólio mais expressivo, já que na Europa atuaram como coadjuvantes do Exército Vermelho Soviético e das resistências nacionais que atuaram em vários países. A 2ª Guerra era também uma oportunidade para que os "Isteites", que não sofreram nenhum dano material em seu território, já que lá não houve combate, se firmassem como grande potência econômica, política e militar. Mas ainda era preciso um fato que permitisse exibir o poder e a arrogância dos gringos. 
Imagem da destruição de 1945 é parecida com a de hoje
O local escolhido foi o Japão, onde as tropas americanas perderam mais ou menos metade dos soldados que morreram em toda a guerra. Mas além das razões militares, o que determinou mesmo foi o interesse político-econômico dos Estados Unidos, já que o Japão era a única potência que ameaça o fluxo de mercadorias e capitais. Hiroshima e Nagasaki foram as cidades escolhidas como alvo das primeiras bombas atômicas usadas numa guerra justamente por serem duas das mais desenvolvidas cidades japoneses. O resultado foi a morte imediata de mais de 200 mil pessoas, quase todas civis, e danos físicos e psicológicos em milhares de outras pessoas, até hoje. Por uma certa ironia, a maior ameaça contra os japoneses hoje é justamente um acidente nuclear, mas nem de longe o número de vítimas se compara ao que foi provocado pelas bombas "Little Boy", contra Hiroshima, e "Fat Man", contra Nagasaki, o que deve provocar mesmo muito mais temor na população nipônica de cuja memória não sai o massacre nuclear praticado pelos Estados Unidos contra ela. 


Imagem da destruição de hoje é parecida com a de 1945
Os cientistas ainda discutem as causas, ao que parece inevitáveis, do terremoto e do tsunami acontecidos na semana passada, mas também se discute se a consequências humanas, bem menores que as do tsunami de 2004, não poderiam ser amenizadas. Nesse sentido vale o que diz Marco Aurélio Weissheimer, em seu artigo Tragédias naturais como do Japão expõem perda da noção de limite, onde diz a certa altura: Não podemos, mas ocupamos, de maneira cada vez mais destemida. O que está acontecendo agora com as usinas nucleares japonesas atingidas pelo grande terremoto do dia 11 de março é mais um alarmante indicativo do tipo de tragédia que pode atingir o mundo globalmente. O que esses eventos nos mostram, enfatiza (Rualdo ) Menegat (professor da UFRGS), é a progressiva cegueira da civilização humana contemporânea em relação à natureza. A humanidade está bordejando todos os limites perigosos do planeta Terra e se aproxima cada vez mais de áreas de risco, como bordas de vulcões e regiões altamente sísmicas. “Estamos ocupando locais que, há 50 anos, não ocupávamos. Como as nossas cidades estão ficando gigantes e cegas, elas não enxergam o tamanho do precipício, a proporção do perigo desses locais que elas ocupam”, diz ainda o geólogo, que resume assim a natureza do problema:


"Estamos falando de 6 bilhões e 700 milhões de habitantes, dos quais mais da metade, cerca de 3,7 bilhões, vive em cidades. Isso aumenta a percepção da tragédia como algo assustador. Como as nossas cidades estão ficando muito gigantes e as pessoas estão cegas, elas não se dão conta do tamanho do precipício e do tamanho do perigo desses locais onde estão instaladas. Isso faz também com que tenhamos uma visão dessas catástrofes como algo surpreendente". 


Como se pode ver, tanto a tragédia atual, como a de 1945, têm a mão humana pelo meio, e mais do que isso, têm o desatino capitalista, o desejo de explorar desordenadamente os recursos naturais, sem considerar as consequências disto. Em 1945 havia o desejo imperial dos Estados Unidos de se afirmar como "novos donos do mundo", ainda mais diante da ameaça vermelha que se espraiava pela Europa, agora a ocupação desordenada de um país com escassos recursos naturais. O mais aterrador é imaginar que tragédias como a japonesa, cujos prejuízos são avaliados em mais de 50 bilhões de dólares, fazem brilhar os olhos daqueles que atuam na chamada "indústria da reconstrução", que faturou bilhões no tsunami de 2004, fatura até hoje na invasão americana ao Iraque e já deve estar esfregando as mãos pensando na grana que vai ganhar com o "novo empreendimento".


Clique aqui para ver como eram e como ficaram áreas atingidas do Japão. 

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