O meu desajeitamento nunca me permitiu enveredar pelos caminhos musicais. Quando era mais jovem lá em Sobral, no final dos anos 70, até tentei uma aulas de violão com o Jefferson, um cabra que ainda hoje toca muito e passou pros filhos parte do seu talento. A gente tinha um grude pela música. Começamos escutando uns discos numa radiola miudinha, depois arrumamos uns 3em1 pra escutar melhor as músicas ao mesmo tempo que apurávamos o gosto. A falta de preconceito nos permitiu gostar de muita coisa e quando demos por conta nos largávamos pra Fortaleza, na sexta feira, depois das aulas no Colégio Sobralense, e da rodoviária íamos, ainda carregando mochilas, direto pro Theatro José de Alencar assistir, na boquinha da noite, o Projeto Pixinguinha. Tenho lembranças de muitos shows ali naquele lugar que ainda hoje é sagrado pra mim. O bem querer pela música foi só crescendo e virou uma coisa que me alimenta a alma.
Na falta de jeito com os instrumentos, dei um jeito de apurar e conhecer sempre mais o que tem de música pelo mundo afora. Música não tivesse em mais canto nenhum da Terra, a brasileira, que junta muita riqueza musical dos lugares outros, já me faria feliz por demais. Esse proseado todo é pra explicar pra Cris Holanda, e quem mais se interessar, porque não consegui falar nada, deixar uma mensagem pro Doutor Pedão Rogério dela, depois da defesa de tese dele sobre as viagens que o Pessoal do Ceará fez enquanto fazia música da melhor qualidade. Foi uma manhã que nunca mais vou esquecer na vida, aquela do primeiro dia de março desse ano. O Pedão, que virou doutor da academia universitária, mas desde menino miúdo já queria fazer vôos mais ousados, fez coisa que nunca vi na vida. Defendeu sua tese tocando, cantando, apresentando filme e até falando sobre a trajetória do Rodger Rogério, o neguim seu pai; do Manassés, o prodígio de Maranguape e do Fagner, o Raimundo.
Foi coisa de encher os olhos de brilho e lágrimas escutar a história do menino de oito anos que, junto com o pai, foi tocar numa praça da cidade grande e depois do dinheiro ajuntado foram comprar o primeiro violão do pirralho. Foi esse o presente do Seu Antonio Lourenço fez seu filho Manassés, que dez anos depois estava arriscando a vida em Paris e Londres, de onde voltou já como grande músico. Comovente, mas não surpreendente, escutar o Rodger Rogério dizer que preferiu ser professor do curso de Física da UFC do que enfrentar o mundo cão do mercado de música onde "puxar o tapete"até dos amigos é coisa normal. E não precisa dizer que a carreira do Rodger seria brilhante, basta ouvir Retrato Marrom, música dele que o Ney Matogrosso gravou e fez sucesso. Felizmente ele não nos privou totalmente do seu talento e pode-se escutá-lo vez por outra aqui na nossa aldeia, aldeota, como nesse dia acadêmico musical com sua interpretação blueseira de Cavalo Ferro. Basta conhecer um pouco o Rodger pra entender esse gesto desprendido e profundamente humano.
Pedro fez uma viagem musical |
Foi manhã de viagem pela música, nos bailes da vida, pelo crescimento e consolidação de uma talentosa geração musical do Ceará, que o pessoal de fora conheceu só uma parte, não necessariamente a melhor, mas que por aqui ainda vive e revive em muitos novos artistas que essa terra bárbara gesta e pari. Vivi esse momento ao lado da minha Fernanda amada, que compartilhou junto com sua mãe Sylvia, aqui no Ceará, e seu pai Moracy, em São Paulo, um pouco desse trajeto artístico. Agradeço ao Pedro Rogério e à própria vida, por me possibilitarem tanta emoção.
3 comentários:
Que legal! Quer dizer que já tem uma novíssima geração fazendo tese sobre o pessoal do Ceará, Massafeira e outras proezas dos nossos talentosos conterraneos. Adorei o texto!.
Aliás, o blog todo está muito legal. Tem o seu jeito...
Sinto orgulho de conhecer o Pedro e de ter podido ter contato com este pessoal historico e especial...
Andre Xavier
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