terça-feira, 1 de junho de 2010

Por dentro da pré-história.

No último final de semana viajei pela primeira vez com meu filho Guilherme (na foto acima matando sua curiosidade) e uma turma do seu colégio. O programa do colégio é chamado de Viagem Educacional e nosso destino era Mossoró, ali no Rio Grande do Norte, cuja atração são suas águas termais. A cidade é marcada pela presença da Petrobrás - se não me engano é ali a maior área de extração de petróleo no continente - e sua história tem a marca da passagem de do Capitão Virgulino Ferreira Lampeão e seu bando. Ali o Capitão cometeu um dos dois erros graves de sua vida - entrar numa cidade grande, longe do mato, onde se armou uma resistência organizada que o derrotou - mas a cidade parece que se rende em homenagens a tirar pelos enormes painéis expostos numa praça onde estão além de Lampeão, Dona Maria, Corisco e outros cabras.

Pensei que o encanto maior fosse o Museu do Petróleo, onde se vê toda a interessante descoberta do óleo na cidade, que saia pelas torneiras das casas, e o Hotel Thermas com suas piscinas de águas quentes. Nem gostei tanto de ficar dentro dágua num calor danado. De noite até que é legal ficar de molho a mais de 40 graus, mas de dia, no meio do sol, é uma coisa muito doida mesmo. Meu encanto mesmo, e do Guilherme, foi o Lajedo da Soledade, um lugar onde o sertão já foi mar e hoje é uma incrível sítio arqueológico.

Sempre me emociono quando vou a um lugar onde aconteceram fatos históricos marcantes. Pra mim é demais mesmo estar num canto que só conhecia por leitura e estudo. Mas nunca tinha ida ao lugar como aquele. Imaginar que naquele lugar, há milhares de anos, seres humanos começavam a habitar essa terra, a constituir uma cultura simplória para os dias de hoje, mas extremamente complexa para aquelas pessoas ainda muito primitivas, é algo formidável. Também dá um certo orgulho sentir que nesse canto aqui, ao sul do nosso mundo, fomos pioneiros nas realizações humanas, a semelhança do continente africano.

O Guilherme ficou, tal qual o pai, maravilhado e achei muito bonito ele querer assinar o livro de visitas pela segunda vez. Entendi porque ele, que tanto gosta de arqueologia, apesar de seus ainda 10 anos, ter insistido tanto em voltar àquele lugar onde estivera no ano passado. Dessa vez vez questão de me ter ao seu lado e isso me deixou ainda mais feliz.

Ao longo da visita, que durou menos de uma hora - o sol e o calor não permitem que se fique ali por muito mais tempo, mas ele e eu combinamos de voltar para visitar todos os lugares onde não fomos -, conhecemos lugares que há 90 milhões de anos (!!!!!) eram o fundo do mar, vimos formações rochosas que registram anos de muita ou pouca chuva, andamos por pequenos canyons onde circularam nossos ancestrais e, o mais incrível, vimos pinturas rupestres que permitem observam como os primeiros seres humanos registravam suas observações da natureza, suas atividades em busca da sobrevivência, a caça em especial, e um emocionante registro das primeiras elaborações de raciocínio expressas em desenhos aparentemente muito simples mas lotados de formulações e talvez as primeiras noções de conjunto, simetria e organização de ideias. Sinceramente, emociona imaginar aquelas pessoas fazendo tudo isso usando uma tinta feita à base de minério de ferro e gordura animal.

Não sei quantas vezes mais ainda voltarei àquele lugar e irei a outros como a Serra da Capivara, no Piaui, da Domaducarmo, minha mãe, e em Santana do Cariri, aqui no meu Ceará. Por perto da minha Sobral e na Serra da Ibiapaba também tem uns sítios arqueológicos, mas ainda não há nada organizado e tudo ainda é muito pouco pesquisado e estudado. Mas não é de se estranhar que isso ocorra num estado, que, como outros, decretou a inexistência de índios já no século 19. Imagine quanta bobagem, né? Nossos povos primeiros ainda estão vivos e por aqui, lutando por sua afirmação. Nessa semana mesmo um índio tomou posse como vereador do PCdoB lá em Crateús, onde o prefeito também é camarada meu. Vou querer ir nesses lugares e, com cetrteza levarei meu Guilherme, que não larga de ser menino brincalhão, mas já se apega a essas coisas de gente que quer saber como nos formamos como gente, habitamos essa terra e a compartilhamos com os demais seres vivos.


3 comentários:

Unknown disse...

Adorei a matéria. Tomara que a Manu cresça logo pra gente ir explorar esse mundão também. rsss. Parabéns

Soninha disse...

Show de bola, como sempre! Saudade.

Maria Carvalho disse...

Guilherme como sempre deixa as tias "corujas" mortas de orgulho com tamanha curiosidade em saber o porquê das coisas.