Nos últimos tempos a interferência da justiça no jogo eleitoral tem sido absurda. Há uns anos inventou a verticalização, obrigando todo eleitor a votar nos candidatos do mesmo partido ou coligação. Numa certa época chegou a extrapolar em seu poder judicante e produziu resoluções que iam além do que a lei determinava. O caso mais recente foi uma tentativa de verticalizar as alianças eleitorais, impedindo que, no plano estadual os partidos tivessem maior liberdade para fazer as composições. Depois o Tribunal Superior Eleitoral recuou dessa besterada, mas aí já era agosto, e as alianças já não poderiam mais ser recompostas.
Na atual campanha os divinos da justiça eleitoral estão se sentido mais empoderados do que qualquer terráqueo. Eles tem plenos poderes pra dizer quem pode ou não pode se candidatar aos cargos em disputa depois que foi aprovada esse chamada lei da ficha limpa. Com esse poder todo a interferência na propaganda eleitoral tem sido até indevida.
Na semana passada a procuradoria eleitoral provocou o juiz pra que fossem retirados cavaletes de candidatos que, segundo a própria procuradora geral, exageraram na distribuição dessas peças de propaganda. Mas onde é mesmo que está o exagero, douta procuradora? A lei eleitoral diz que "é permitida a colocação de cavaletes, bonecos, cartazes, mesas para distribuição de material de campanha e bandeiras ao longo das vias públicas, desde que móveis e que não dificultem o bom andamento do trânsito de pessoas e veículos". (Lei 9504/97 - art. 37, § 6o ). Alguém leu aí quantas peças cada candidato pode usar? Alguém leu que uns candidatos podem, outros não podem, ou não devem, usar esse tipo de recurso propagandístico?
Se a justiça eleitoral acha que tem cavalete demais nas ruas deve se lembrar que aqui no Ceará existem uns 500 candidatos, autorizados por ela mesma, disputando as eleições. Todos, sem exceção podem usar todos tipo de peça publicitária que for permitida pela lei. Isso significa, eminentes criaturas, que as cidades vão ficar cheias de cavaletes, bonecos, cartazes, bandeiras e até mesas. Querer dizer que isso atrapalha a rotina das pessoas é enxergar as coisas pelo lado inverso. É claro que a campanha eleitoral, fato mais importante da vida nacional, altera a rotina das cidades, do estado e do país. Como não alterar, como ficar indiferentes à um acontecimento que diz respeito à cada cidadão e cidadã deste pedaço de chão de 8 milhões de quilômetros quadrados?
Fico com receio que a tentativa de alguns segmentos conservadores e direitistas, com forte apoio da maioria da imprensa, de jogar a política e os políticos para o segundo plano esteja ganhando a simpatia da justiça eleitoral. Imaginar que a campanha eleitoral vai ser uma coisa arrumadinha, sem furdunço, sem animação, sem certa desarrumação da vida, do cotidiano, é ignorar o jeito brasileiro de viver suas grandes emoções. Quer dizer que quando o Brasil disputa uma Copa do Mundo de Futebol as ruas podem ser pintadas no chão e nas paredes, enfeitadas de todo jeito, ocupadas por torcedores com apoio do poder público, as repartições públicas e empresas privadas podem ser decoradas com as cores nacionais, os carros de som podem rodar tocando todo tipo de versão no hino nacional e reproduzindo a narração dos gols dos canarinhos, mas na campanha eleitoral tem que ser uma coisa comportadinha, sem a alma brasileira? E num vou nem falar aqui de carnaval, festa de padroeira, desfile de 7 de Setembro e outras ocasiões em que o cotidiano das cidades é alterado.
Assim não dá, meritíssimos juízes e doutos procuradores! O Brasil não é esse que está em vossas mentes alumiadas. O povo brasilero não é essa gente sem alma que vossas idealizações imaginam. Nossa gente, como diz o poeta, gosta de festa, trabalho e pão e não vai se conformar que lhe tirem esse jeito de levar a vida.
Um comentário:
Ai que gente bonita nesta foto!!!
Postar um comentário