quarta-feira, 22 de julho de 2009

Viagem "encontada"

A primeira vez que eu viajei de ônibus devia ter uns 11 anos e parti de Sobral pra Fortaleza, acompanhado o meu irmão Veveu prum acampamento de escoteiros. Depois dessa andei muito, mas muito mesmo, de "busão". Num tinha mês que eu deixasse de viajar pra Fortaleza pra assistir show - Projeto Pixinguinha era a maior atração -, visitar família e amigos que já moravam por aqui, curtir a capital. Camocim e Parnaíba também eram destinos frequentes. Depois andei viajando pra encontros estudantis e do PCdoB numa viagens quase heróicas passando mais de dois dias daqui pro sul e do sul pra cá. Era coisa de doido mesmo.

Ontem, depois de mais de um ano, tive que viajar novamente de ônibus. A causa era nobre. Fugi do trabalho à tarde para pegar o meu filho Guilherme, que tava curtindo umas férias entre os primos há mais de uma semana. A volta foi hoje cedinho, pouco depois das cinco pegamos uma carona com o Mestre Joan, acompanhado do Mestre Miguel. Viagem ligeira demais. Mas a ida ...

Decidi pegar o primeiro que partisse pra Metrópole. Já peguei logo um mais caro, porque o destino final é Parnaíba. Coisa estranha, eu só ia até Sobral, mas como o ônibus vai mais adiante, eu pago como se fosse. Mas a causa é nobre e eu num tava nem a fim de esperar quase duas horas pelo próximo. Comprei a poltrona 33 e nem imaginava que ia sofrer quase um calvário.

De longe vi lá o meu transporte. Todo branquinho, parecia zero bala, imaginei. Tava muito do enganado. Busquei a poltrona 33, num achei nem ela, nem a 34. Pedi ajuda ao funcionário da empresa pra encontrar a danada. Lá vem ele dizendo que tinha um erro e as últimas duas poltronas tavam repetidas, eu podia ficar a vontade pra arrumar um canto lá por trás.

A explicação do motorista era que o ônibus num era muito novo, mas a viagem ia ser boa. Homem de bem, mas o que ele dizia num era bem verdade. O melhor lugar que arrumei foi em frente ao toalete e se isso fosse pouco, a trava da porta tava quebrada e vez por outra aquele ar mal cheiroso e quente invadia meu nariz.

Eu tinha duas formas de amenizar a situação: ler ou dormir. Comecei pela leitura e grudei os olhos num conto muito legal do Marçal Aquino inspirado no "Último Desejo", do Noel Rosa, que faz parte dum livro muito do gostoso chamado "Aquela Canção", que a Fernanda comprou pra gente. Mas deixei de encurtar o caminho com sono. De vez enquando fechava o livro e dava um cochilo, depois lia mais um conto. Foi a salvação da viagem porque na segunda metade, de Itapagé até Sobral, é uma buraqueira sem fim. Ô sofrimento sem fim. Quando passou da boca da noite e a escuridão impediu a leitura agarrei no sono e só acordei quase em casa. Ainda passamos pela oficina da "Guanabara" pra pegar o motorista que ia findar a viagem em Parnaíba.

Quase cinco horas de viagem e mais uma certeza de que essa turma que prega contra o monopólio estatal nos serviços público é doida por um monopólio privado. É um jeito deles prestarem um péssimo serviço sem ninguém pra incomodar. Cliente, passageiro, isso é um detalhe sem maior relevância. O que vale é ganhar muito dinheiro com serviço de pouca qualidade.

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