terça-feira, 30 de novembro de 2010

Rio, continue lindo

O Rio é lindo, mas meu desconhecido.
Enche só uma mão as vezes que eu fui ao Rio de Janeiro e nem posso dizer que conheço a chamada "Cidade Maravilhosa". A passeio nunca pisei o pé ali, mas congresso, encontro e reunião foi só o que fui. Numa vez que pude desfrutar da cidade, choveu nos dois dias que lá fiquei, sem poder sair do apartamento onde me hospedei de passagem pra Santa Catarina. Noutra ocasião, a última vez há quase dez anos, perdi uma carona pruma roda de samba em Vila Isabel com uma turma de compositores da Escola de Noel e fui dormir no hotel onde tava a delegação do Ceará pro 11º Congresso Nacional do PCdoB.

Temperatura acima de 40 graus não dá
Como você pode perceber, modestos interesses pessoais me fazem querer que o Rio de Janeiro continue lindo. Eu simplesmente preciso saber se é lindo mesmo, se é tudo o que vejo em videoteipes e revistas supercoloridas merece tanta homenagem em forma de música, poesia, cinema, pintura, foto e o que mais se inventou pra transmitir emoções nos sentimentos. Há muitos lugares e gente querida onde e com quem quero estar, mas se a cidade ficar a mais de 40 graus como foi na semana passada, num vai ser nada legal.

Mas também tenho razões bem mais nobres do que esses meu  interesses mundanos. Acho que ali tem um pouquinho de todo o Brasil, desse Brasil que canta e que é feliz. Ali a nossa raça se mistura ainda mais, faz samba e amor até mais tarde. É um lugar de maravilhas que todo brasileiro gosta, nem que seja só de ouvir falar e pelo olhar eletrônico, como eu.

Uma disposição de luta que poderia ser melhor usada
Nos últimos dias a beleza do Rio de Janeiro saiu de cena e o que se viu foi tiroteio, fogo, polícia de todo jeito pra tudo que é lado. Não dá pra não lembrar de outros cantos mundo a fora onde combates de rua são rotina. Fico triste de ver essas coisas, ainda mais porque a Olimpíada de 2016 vai ser na cidade e tem gente doida pra cobri-la de sangue e tragédias pra levar os atletas pras arenas de outros lugares mais ao norte do equador. Por outro lado não me entristece ver que se decidiu enfrentar essa absurda ocupação de território por bandidos que traficam drogas, agridem a população e pensam ser heróis de jovens que, sem perspectivas, arriscam sua vidas num perigoso jogo em que a morte sempre vence.

Uma ação arriscada, mas necessária
Como na natureza, "talqualmente" na política, não há espaços vazios. Os territórios estavam vazios do poder público e o tráfico tomou conta do lugar, impôs sua norma. Pra fazer isso contou com a ausência do estado, mas também com a complacência de agentes do estados que, por negligência, conveniência e/ou uma ajudinha monetária pra sobrevivência, deixaram de cumprir seu papel. Acho que tava na hora mesmo de enfrentar a bandidagem, antes que ela se tornasse mais poderosa ainda. O que está sendo feito é necessário, há muitos e graves riscos de ações em que a população acabe sendo vitimada, mas não há como enfrentar de outra maneira a reação dos criminosos à iniciativas como as UPPs e outras que sufocam o tráfico e a criminalidade.

No morro está a menor parte do problema das drogas
Não acredito que a parada esteja resolvida. Ali há muito o que ser feito e por isso não gosto de ver o Comandante Geral da PM do Rio de Janeiro falando que a ação devolveu a liberdade à população. Já falei que não conheço o Rio e muito menos como se dá a cadeia de comando do tráfico por lá, mas não sou tolo de achar que quem banca a cadeia produtiva da droga more "trepada" nos morros, favelas ou comunidades. Por ali fica a parte mais pesada do negócio, onde o cabra morre de bala ou vício. Já os grandões de verdade estão noutras alturas, onde se menos imagina. Mas é por ali que se começa, sabendo que por ali não se pode parar.
O povo quer ser feliz ...

Só que não é só de polícia que os morros, favelas e comunidades do Rio de Janeiro, assim como de muitas outras cidades brasileiras precisam. Isso é o que a população menos precisa. O povo também quer comida, diversão, arte, educação, saúde, esporte, trabalho, salário digno e outras coisas mais. Numa recente troca de emails com a minha querida amiga Neidinha, ela disse algo que resume muito bem a situação do Rio de Janeiro, o que tá sendo feito e o que deverá ser feito. Disse ela:  "Hoje no Rio, o que está em jogo é a retomada do papel do estado nos espaços dominados pelo comando do tráfico. É um conflito que enfrenta nesse momento, provavelmente a parte mais tensa e violenta, mas que deverá prosseguir por um bom tempo, até o Estado reassumir seu papel perante aquelas comunidades. E não falamos apenas de segurança, mas de todo aparato social e econômico que poderá modificar a vida daquelas comunidades. É importante lembrar, que no geral, a população do Rio apoia a ação  do governo.  Na minha opinião a questão central é a retomada do papel do estado nessas comunidades. A ação que ocorre agora é necessária". Nada mais tendo a declarar, assino embaixo.

... e de bem com a vida.
Quase todas as fotos que usei estão no site do jornal americano The Boston Globe.

Um comentário:

Samia Helena disse...

Querido,

O Rio é isso beleza que embriaga e vicia...e tem um cheiro no ar...vc precisa sentir...por tudo...
O texto está irretocável....
bjos..