Contei essa história, como falei estes, num foi pra me vangloriar não, e muito menos pra me fazer de vítima. Recebi uma solidariedade muito grande, que serviu pra que eu acreditasse ainda mais nesse sentimento nobre das pessoas e na força da luta do povo, ali expressa na mobilização comovente dos estudantes e de várias lideranças do movimento social. Quem me conhece sabe o quanto isso me comove.
Lembrei desse episódio depois de ver o Supremo Tribunal Federal decidir sobre o uso de algemas nas operações policiais, principalmente da “Federal”. A polícia deve evitar constrangimentos aos presos e as algemas podem ser usadas apenas nos casos "excepcionais" e de "evidente perigo de fuga ou agressão". Mas o que foi mesmo que motivou essa decisão? Claro que foi a prisão do Daniel Dantas e sua gangue de criminosos do sistema financeiro. (Brecht disse certa vez, com muita sapiência e finíssima ironia, que crime maior que assaltar um banco é abrir um banco) Onde já se viu botar algemas em tanto cabra empaletozado? Isso é uma agressão a “pessoas de bem”! Porque essa decisão num foi tomada quando o casal Nordoni, do caso Isabela, foi absolutamente humilhado ao vivo e em video tape ou em fotografias e artigos por tudo que é de emissora de televisão e jornal do país? Anteriormente já lamentei que eles estejam implicados naquele crime bárbaro, mas ninguém pode ser submetido à tamanha execração. Mas a prisão do Dantas, do Pitta, do Nahas e a curriola deles finalmente sensibilizou os togados lá do Supremo e até figurões do Governo Lula para combaterem tanto desrespeito aos direitos humanos fundamentais e ao estado democrático de direito.
Sinceramente, hipocrisia tem limite. O que se vê em operações policiais nos bairros de periferia, seja contra bandidos ou contra pessoas inocentes e em manifestações populares, com honrosas exceções, como no caso do Governo Cid, é exatamente o que os nobres magistrados e seus assemelhados pretendem evitar a partir de agora. Ontem vi o deputado Chico Lopes num debate na TV Assembléia comentando a tal decisão do STF e a frase final dele, cheia de ironia, sintetiza bem a situação: “- Vamos ver, na prática, como vai ser aplicada essa decisão!”. Talvez voltem a usar outros métodos mais "civilizados", como esse aí da foto que foi capa do Jornal do Brasil a uns anos atrás.
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