Paulo André, INácio Carvalho, Maninha Morais, Léo Salazar,
Maria Carvalho e Kelly Brasil(as 2 da EM PAUTA Produções) e Zé Brasil Estou em Sobral desde ontem à convite da Em Pauta Produções, organizadora do Seminário Negócios da Música, onde falei sobre a minha atuação na organização do Festival de Música e Poesia - FEMUP, ali entre os anos 70 e 80. Foi um momento muito legal mesmo, ainda mais porque compartilhei a mesa do debate sobre festivais com a minha queridíssima amiga Maninha Morais, presidente do Centro Dragão do Mar e com um novo amigo, Paulo André Moraes, organizar do
Abril Pró Rock e o cara que projetou, entre outros, Chico Science e Nação Zumbi.
O seminário aconteceu no Teatro São João, o que já mexeu muito comigo porque naquele lugar belíssimo aconteciam os eventos culturais mais importantes da Metrópole e eu sempre tava pelo meio. O "São João" foi reformado ainda quando o Cid Gomes era prefeito e o Veveu era Secretário de Cultura e os cabra fizeram um serviço distinto. Preservaram as características originais e o equipamento tá ainda mais mais bonito, bem equipado, com plenas condições de acolher espetáculos de todo jeito, compatíveis com seu tamanho e estrutura. Nem lembro há quanto tempo eu não subia naquele palco. Acho aque ainda foi "naqueles tempos".
Maninha falou legal sobre o Festival de Música de Viçosa do Ceará, que já vai este ano pra sua sexta edição. É uma mistura de formação, intercâmbio e aprentações musicais que encanta qualquer que já foi e até os que não foram ainda, como eu, que já deveria deixar de ser tão cara de pau. É claro que ela falou um pouco sobre o "Dragão" e sua experiência como exímia gestora cultural. Maninha tem um jeito próprio de trabalhar e conduzir a vida onde há sempre muito rigor nas exigências, o que inclui dedicação e competência, mas ela tem uma sensibilidade muito grande para a cultura. Foi muito legal compartilhar não só debate, mas também trocar muitas ideias ao longo do dia.
Paulo André, um cabra muito bem afamado e falado no meio, nos meios de comunicação e por meio de amigos em comum que temos (Fergus Gallas e Dustan Gallas, Guido Bianchi, Indira Amaral) é na verdade um jovem desbravador que poderia ter palestrado por algumas horas e ainda teria muito mais a dizer para um público que o ouviria sem fim. Relatou sua experiência ao decidir, aos 25 anos, organizar há 18 anos, o Abril Pro Rock (o festival tá acontecendo nesses dias e ele não se negou a vir prosear tão bem), apesar muito pouco estímulo, evento que apostou na cena local, nas bandas pernambucanas e dali de perto, geograficamente e culturalmente). Uma ideia muito importante firmada pelo cara é a de que é preciso apostar na talentosa turma nova: "O Pessoal do Ceará teve seu merecido espaço, mas hoje é preciso que a galera tenha seu espaço". Além de contribuir muito para o debate a partir do relato de sua experiência, Paulo André ainda revelou seu encanto com a beleza arquitetônica de Sobral e esteve muito tentado a ficar um pouco, inclusive para conhecer o
Festival Mel, Chorinho e Cachaça, que acontece nesse fim de semana em

Viçosa do Ceará, mas aí num dava pra largar seu filho dileto que também tá solto nesse mesmo findi. Fica pra outra. (Leia entrevista do Paulo clicando
aqui)
Optei por falar a partir daquele momento em que a chapa que encabeçada pelo, hoje advogado, José Menescal Júnior, perdeu a eleição para o Grêmio do Colégio Sobralense, mas fomos convdados pela diretoria eleita para orgnizarmos o festival, considerada uma das melhores propostas da disputada estudantil, e topamos na hora! Achei que deveria fazer um registro importante da riqueza cultural de minha cidade onde surgiram alguns dos primeiros teatros do Ceará (Apolo, 1867 e São João, 1885), onde "choviam" apresentações musicais, de teatro, de poesia, conferências de todo tipo, saraus e tanto mais, para demonstrar que aqueles garotos mal saídos da adolescência eram também herdeiros de uma tradição e de uma vida muito ligada às artes. Por acaso o Menescal Jr, com quem toquei a organização do FEMUP, convidava a gente pra estudar na casa dele e ouvíamos música erudita e o melhor da MPB. Coincidência, ou não, a Escola de Música de Sobral funciona na casa onde morou o Cônego Egberto Rodrigues, tio do Menescal, onde a gente dava uma chegadinha na biblioteca e tinha interessantes papos culurais.
Fazer o FEMUP foi uma aventura ousada e testamos muito da nossa credibilidade quando conseguíamos alguns patrocínios de empresas locais, algumas pertencentes à familiares de colegas nossos que ajudavam no aval aos amigos "produtores" junto aos seus pais. Lembro bem da conversa com o Prefeito de Sobral na época, Dr Zé Euclides, pais do Cid e do Ciro Gomes. Foi prosa demorada, ele querendo saber tudo sobre o festival, buscando identificar quem eram mesmo aqueles meninos, quem participava do evento e qual o nível das músicas e poesias, além de recomenda a leitura dos clássicos da literatura universal. Dr Zé Euclides era advogado e seu hábito profissional nos fez falar tudo. No fim liberou uma grana que nos ajudou a pagar as despesas, mas ao sairmos advertiu: "Mas leiam os clássicos, não esqueçam!".
E a censura, que tava viva demais naqueles anos de luta pelo fim da ditaduira e pela anistia. Tínhamos que levar todos os versospoéticos e letras musicais para análise do pessoal da Solange Teixeira Hernandez, manda chuva do Departamento de Censura da PF. E um probleminha, como enviar ofícios "pros homi" com a assinatura de dois "de menor"? Não lembro como resolvemos essa, mas solução teve. Aí era esperar a liberação e tocar o festival.
Foi coisa bonita. O "São João" lotado de torcida e apreciadores da música.Tinha até gente de outras cidades e até de capital, já que os festivais de Sobral, principalmente o Mandacaru (um dia falo dele) eram bem afamados. Muita coisa bonita.
"E os destroços, dessa jangada/Ainda amam o mar das Barreiras, o mar/São teus pilares de búzios/Que sustentam essa paixão/E esse vento cálido sem certa direção/Ouve e gane em meus ouvidos/Qual será tua canção?/Teu farol, estrela mais próxima do chão". Barreiras, a vencedora do I FEMUP era um tributo à Praia das Barreiras, em Camocim. "Benedito da Lagoa",

o violão dedilhado por João Rodrigues, que também cantava e "Maria dos Santos", a viola de 12 cordas harpejada por Jefferson Aragão, encheram de melodia a caixa sonora e o palco do histórico teatro da Princesa do Norte.
Lembrar isso tudo, e muito mais, era emoção demais pra mim, que nunca havia falado sobre o FEMUP em outra ocasião distinta dum papo entre amigos. O Paulo André ainda imaginou como eram difíceis as condições técnicas daquela época, e eram mesmo. O som e os instrumentos eram alugados de um conjunto musical de festas, o BR SOM, a iluminação era feita por 24 refletores, sem nenhuma ligação entre si, operada por esse que vos escreve, espécie de quebra galho como iluiminador daquele e de tantos outros shows que aconteciam no teatro. A divulgação era feita no boca a boca, panfletos mimeografados a álcool e na cara de pau nossa de ir ao programas de rádio. Tudo era aventura, essa coisa que torna a vida mais saborosa e cheia de histórias pra contar pros que gostam de aventuras.