sábado, 3 de abril de 2010

Violência urbana e o jogo da direita


Na última quinta feira um ladrão de carros foi morto em plena Avenida 13 de Maio, uma das principais de Fortaleza, depois de ser perseguido pelo proprietário do carro roubado e um amigo, que tomou a arma do bandido e o matou. No mesmo dia escutei comentários de pessoas satisfeitas que chegavam a dizer que se "a polícia não resolve, a população dá o seu jeito". No mesmo dia dois outros bandidos quase foram linchados pela população no bairro Canindezinho. Ao longo da semana outros casos semelhantes ocorreram em Fortaleza e o jornal O Estado, com certo regozijo, chegou a publicar um foto manchete onde um assaltante aparece morto e a legenda que dizia algo como: "Dessa vez deu errado".

Pra mim isso não tem nehuma graça. Sou daqueles que consideram o protagonismo do povo um elemento fundamental para que se consiga fazer as mudanças e transformações necessárias à nossa sociedade, mas neste caso eu rejeito totalmente. O jornal O POVO de hoje informa que a notícia do assaltante morto na 13 de maio recebeu 144 comentários na versão on line e a maioria apoiando a atitude dos homens que reagiram e criticando a opinião de gente como Valton Miranda e Glaucíria Mota, dois estudiosos que condenaram o gesto de justiça com as próprias mãos.

Pra mim isso não acontece à toa e nem está descolado o contexto geral do país. Desde que o governador Cid Gomes chamou a Delegado Federal Roberto Monteiro para assumir a Secretaria de Segurança do Ceará e este optou por um trabalho em que prevalecesse o conceito de polícia cidadã, percebe-se uma certa inquietação dos setores conservadores da sociedade, os que querem uma polícia que prende e arrebenta. Há evidências de insatisfação dentro da própria polícia com o novo conceito de polícia que se deseja implantar no Ceará. Radialistas e apresentadores de programas policiais de TV reclamam porque não podem entrevistar e expor os "elementos periculosos" em seus "coliseus eletrônicos". Com grande alarde a imprensa noticiou ações de bandidos contra policiais, viaturas e delegacias, numa clara tentativa de desmoralizar a polícia diante da população, apresentando-a como incapaz de se defender, imagine a sociedade. Diante de tal situação restaria ao "cidadão de bem" resolver o que a segurança pública não resolve. Eis aí a questão.

Mas pra mim há algo mais. Não se pode desconsiderar o contexto geral em que vivemos no país. Estamos num ano decisivo para a continuidade dos avanços que o Brasil vive a partir do ciclo iniciado como a posse de Lula na Presidência da República. É obvio que a direita não vai querer a continuidade dessa situação e fará de tudo para interrompir este ciclo virtuoso do país, que também se replica em outros países latino americanos. Está em curso uma grande reação do imperialismo, como provam o golpe em Honduras, a tentativa de desestabilização de Cuba, a intervenção dos Estados Unidos no Haiti e a vitória da direita no Chile, graças à divisão das forças progressistas. Por esta razão eu acho que a direita vai tentar ganhar de qualquer jeito a eleição presidencial deste ano no Brasil e por isso escolheu o seu quadro mais identificado com suas posições e mais preparado para a disputa que é o José Serra. Lembremos que Serra vem da mesma geração de Dilma, que enfrentou a ditadura militar. Não devemos subestimar a batalha, como bem demonstrou o Miro Borges, em seu blog, ao analisar a última pesquisa do Datafolha.

E o que tem a ver a Dilma, o Serra, o imperialismo, a direita e a conjuntura política com a reação da população de Fortaleza contra bandidos? Tem tuuuudo a ver! A direita precisa de um ambiente que lhe favoreça, que lhe permita ter acolhida às sua ideias retrógradas e desconectadas com a nova realidade brasileira. Para isso a população precisa "sentir na própria pele" algumas mazelas do dia a dia, das deformações sociais e econômicas do próprio capitalismo, entre elas a mais impactante é a violência, a criminalidade. Na medida em que insufla esse tipo de reação entre alguns segmentos da população, a direita encontra identidade com tais segmentos e é entre eles que vai tentar buscar seus seguidores, alguém que lhe defenda.

É preciso ficar de olho nisso. A segurança pública é um desafio para as forças progressistas, que precisam apresentar soluções eficazes para o problema, mas ao mesmo tempo não podem ignorar o debate político em torno do tema, sob pena de perder o norte e se perder na disputa de ideias no seio da sociedade.

2 comentários:

Valdecy Alves disse...

Olá!

Recentemente o Instituto Sangari publicou estudo sobre a violência nos últimos 10 anos no Brasil. Dados alarmantes, que demonstram que a violência que nos assusta no local onde moramos é um fenômeno nacional. O QUE ESTÁ ACONTECENDO? ALGUMAS REFLEXÕES? QUAL O PAPEL DE TODOS? Leia! Divulgue e deixe seu comentário:
www.valdecyalves.blogspot.com
Veja um vídeo do qual participei comentando sobre a violência na mídia:
http://www.youtube.com/watch?v=ljsdz4zDqmE
FELIZ PÁSCOA PARA TODOS! Não deixe de seguir o meu blog e assinar o feed.

QuebraCabeça ou EsteLadoParaCima disse...

Para baixar o PDF do Mapa da Violência no Brasil - 2010 basta acessar o link abaixo:
http://www.mapadaviolencia.org.br/mapadaviolencia/

e outras publicaçoes da Sangari sobre educaçao, ciencias e violencia na américa latina:
http://www.sangari.com/publicacoessangari.cfm?SessionMenu=4&SessionMenuInt=0

Fernanda do Val