No dia 7 de julho de 1990 eu estava em Brasília numa reunião do PCdoB. Era ano eleitoral, o partido disputava a terceira eleição depois de reconquistar a legalidade em 1985, e tínhamos muito o que conversar sobre os aspectos jurídicos batalha eleitoral daquele ano. Numa sala da sede do PCdoB do Distrito Federal, representantes de uns 10 estados, a maioria advogados ou estudantes de direito, como eu, quase todos bem jovens, tentavam desvendar os mistérios da legislação eleitoral de modo que o partido não tivesse muitas dificuldades pra ampliar sua bancada de deputados federais e estaduais.
Na tarde daquele sábado Marquinhos, comunista baiano estabelecido no Planalto Central em busca de trabalho, entrou na sala durante um intervalo da reunião e deu uma notícia que mexeu com o astral de quase todos: Cazuza morreu. Foi duro aceitar um fato que estava prenunciando há algum tempo, numa agonia que transbordava pelas páginas de jornais e revista (a Veja já aprontava as suas, como uma capa apelativa, que gerou um acirrado debate), enchia os telejornais e comovia os fãs. A reunião seguiu, mas o clima era outro, que se não chegou a comprometer o resultado, também não permitiu ir além dele.
À noite o mesmo Marquinhos convidou parte da turma, em especial os baianos Jefferson e Pimentel, além desse cearense contador de histórias, para aliviar a mente num lugar chamado Bom Demais. Naquele barzinho da Asa Norte, na altura das 700, muitos músicos brasilienses fizeram sua despedidas antes de embacarem pra tentar a sorte no chamado "Eixo Rio/SP". Naquela noite triste quem se despedia era um baixista que resolveu homenagear o ídolo finado cantando suas músicas junto com vários outros músicos que também estavam por ali. Foi uma noite inesquecível pela emoção, pelo encontro com muita gente boa, pela dor coletiva, pela noite adentro, tudo muito exagerado.
Não poderia ser diferente diante da morte de uma criatura capaz de marcar tanto uma geração, a sua, e outras que se seguiram e aprenderam a admirá-lo. Cazuza não teve dó de si, mostrou sua cara pro Brasil; inventou amores e amou de forma diversa; pra não dançar, sonhou acordado, sem medo de sentir dor; não deu bobeira, viveu intensamente a sua realiade e ainda curtiu a tarde inteira; não deixou que o tempo parasse e levou uma vida louca, e a vida o levou. Deixou mesmo uma marca forte na vida e no comportamento de muita gente. Quer prova disso? Observe quanta gente vai falar com você sobre os 20 anos da morte do Cazuza, quantas matérias serão veiculados nos meios de comunicação sobre a trajetória do Cazuza, quantas vezes você vai ouvir músicas do Cazuza nas emissoras de rádio e, sem se aperceber, você vai chegar em casa co vontade de ouvir aquela coletânea ao vivo do Cazuza, ou algum disco do Cazuza que você em casa. Nada disso será por acaso. Cazuza tinha ideias, concordemos ou não com ele e com elas, e por isso vive até hoje.
Um comentário:
...daqui até a eternidade!
E por ironia do destino, ou não, morre hoje, vinte anos depois, Ezequiel Neves, produtor do Barão Vermelho e de Cazuza e um dos autores de Exagerado... é mesmo um zégeraldo!
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