Já falei aqui mais de uma vez o quanto vibrei na minha primeira Copa do Mundo de Futebol, em 1970. Tinha menos de 10 anos e dava voltas no quarteirão da Rua Deolindo Barreto, em Sobral, com com meu irmãos mais velhos. Pra criança a emoção do campeonato mundial de seleções de futebol talvez esteja muito mais associada à agitação do que mesmo ao futebol. Em geral toda criança é muito emotiva, não esconde o que sente e até extravasa, como fez o já famoso Salomão, que espero um dia ver um outro sobre sua emoção com o hexa, em 2014, aqui no Brasil.
Captar e transmitir o sentimento duma criança não é empreitada simples, ainda mais quando a criança é daquelas bem espertas. Ajudá-la a entender certos desafios da vida, as vitórias e as derrotas sempre nos trazem um bom aprendizado. Sobre isso o jornalista Dalwton Moura, de quem sou colega de trabalho, escreveu uma bela crônica depois do jogo Brasil x Holanda e por tantas razões eu a publico aqui. Descubra minhas razões lendo o texto abaixo.
Emoção nas lágrimas das crianças
A imagem do menino de camisa amarela chorando nas arquibancadas do Estádio Sarriá a eliminação da brilhante seleção brasileira de 1982 é até hoje uma das mais lembradas sobre a Copa do Mundo. Sobre derrotas do Brasil na Copa da Mundo, cumpre pontuar, diante de todo o impacto que um "resultado negativo", no dizer dos boleiros, causa ao País que se orgulha de ser o único a chegar por cinco vezes ao topo do futebol mundial.
Como a Itália também disse adeus à África do Sul mais cedo do que se supunha, a primazia verde-amarela na história das Copas será mantida até 2014, quando nosso País tornará a receber o Mundial para tentar se recobrar de outro trauma - a fatídica derrota de 1950. Mas esta já será outra história...
Por ora, o choque tem a cor vistosa das camisas alaranjadas, que impuseram a realidade ao Brasil de Dunga, Felipe Melo, Ricardo Teixeira e João Havelange. E de sete volantes convocados, de discurso de "grupo fechado", de mais "eficiência" e menos "futebol-arte", de sempre-conflito com a imprensa, de total perda do controle emocional de jogadores experientes no segundo tempo da partida de ontem - justo quando o time mais precisava de equilíbrio e convicção, para superar as adversidades daquele momento.
Enquanto milhões de brasileiros assistiam à derrota que se anunciava, irrecorrível, nos campos da África do Sul, deparei com a missão de dar esperança e consolar um pequeno torcedor: meu filho, Levi, de nove anos, para quem esta foi a primeira Copa do Mundo "pra valer". Daquelas de encher as páginas do álbum de mais de 600 figurinhas, com a mobilização entusiasmada da avó ajudando no escambo das repetidas. De arriscar palpites e medir as possibilidades de zebras e favoritos, traçando a "futurologia" a partir da tabela dos grupos. De vestir a camisa amarela desde o despertar, nos dias de seleção em campo. E a recordação não será das melhores.
Esperança?
A mim coube a tarefa - como cumpri-la? - de dizer que nem tudo estava perdido. Claro, havia tempo para buscar ao menos um empate. Mas o fato é que, por mais tempo que houvesse, aquele time, tão enervado quanto perdido em campo, jamais conseguiria escrever a história de forma diferente.
E as lágrimas de meu filho não esperaram o apito final. Caíram assim como as do garoto de 1982: sinceras, pungentes, inconsoláveis. Cortantes ao coração de um pai na tentativa de explicar que, sim, o esporte, como representação da vida, tem dessas coisas. Que quando se perde a cabeça o fracasso fica mais próximo. Mas que nenhuma derrota é definitiva. E que é preciso ter força para seguir adiante. Rumo a outros sonhos, que, nos gramados do cotidiano, não tardam a chegar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário