quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Dos ipês e outros bichos da caatinga

O negócio é o seguinte: num tenho nada com isso aí não. Quem escreveu foi o Joan e a foto é dele também, que tem uma prima da Sonynha na casa dele. Mas como é que um cabra quem nem eu num vai dar valor uma prosa bonita dessas, hein? Aprecie, por seu favor.


Dos ermos, dos escondidos, dos grotões do sertão, de onde vim. Áspero sou, sempre fui, feito a terra, a pedra quente, cortante, os espinhos, a caatinga abusada, agressiva. Sou sertanejo. A falta de água, fluida, mineral, amolecente, talvez tenha me feito de dureza, dessa pedra, dessa madeira dura que aparento. Sou sertanejo.

Mas talvez também por sertão é que vez por outra, para poucos, convivas mais íntimos, me abro em flor, cantante, musical, versos que se alam e buscam cor e mel pelos ermos da caatinga. Sou sertanejo.

Agora mesmo, agosto incendiando o calendário, anunciando os bros de fogo que fecharão o ano, desmancho-me todo em ternura, olhos marejados buscando lado e outro da estrada. Procuro os ipês-rosa, já quase idos, que desde junho embelezam a paisagem. Tabebuia dos meus mais antigos, abundaram em julho e agora rareiam, fugindo aos olhos, visguentos na minha memória.

Busquei imobilizar alguns, para lembrar vez ou outra, para dividir com um compadre, uma dama, presentear os meus poucos que me aturam zanga e rabugice.Na caatinga dura, agressiva, jeito de inimiga aos estranhos, a árvore imensa, toda feminina, desfaz a má impressão. Por isso quis capturá-la, por identidade com o chão e o sol. Sou sertanejo, ipê-rosa da caatinga.

3 comentários:

Anônimo disse...

tão lindo que até parece coisa do João, outro Rosa...
“Comigo as coisas não tem hoje e ant’ontem amanhã: é sempre. (...) O senhor por ora mal me entende, se é que no fim me entenderá. Mas a vida não é entendível.” (Grande Sertão: Veredas)

Inácio Carvalho disse...

O João é bom demais, sertanejo como o Joan, mas digo, se a gente num se empenhar mode entender a vida, a caravana passa ...o futuro num instantin vira passado, e brá!

Anônimo disse...

brá...