Editorial do Portal Vermelho
A diminuição do superavit primário é para valer?
Popularizou-se nos meios intelectuais a frase de Nelson Rodrigues de que ''toda unanimidade é burra''. Os que concordam cegamente com ela ignoram que há unanimidades úteis e inteligentes, como aquelas que são compartilhadas por equipes de trabalho para se chegar a um objetivo comum.
A palavra ''unanimidade'' vem do latim unanimis e significa a convergência de um grupo de pessoas em torno de um (unus) só ânimo (animus). Nos círculos políticos, prefere-se usar a expressão ''unidade'', geralmente conquistada após amplo e democrático debate que leva a convergirem visões diferentes sobre um mesmo assunto.
Em economia, unanimidades são quase impossíveis. Diante da atual crise financeira mundial, por exemplo, os especialistas ainda não chegaram a um acordo sobre qual o tamanho do problema e até que ponto afetará a economia brasileira. Em qualquer debate sobre o assunto sobram dúvidas e faltam certezas. Há quem avalie que a crise já atingiu o fundo do poço e há quem sustente que ela ainda vai se aprofundar muito mais.
Mas nesta semana, porém, começou-se a esboçar um certo consenso de que a economia brasileira está reagindo positivamente às medidas que o governo adotou contra a crise. Por enquanto, os indicadores mostram uma recuperação tímida, e só daqui a alguns meses será possível avaliar se a retomada é consistente ou apenas um ''vôo de galinha''.
Diante da dúvida, o governo não pode relaxar e deve acelerar o ritmo das mudanças na economia, incluindo a rápida diminuição dos juros, o incremento dos investimentos públicos, a ampliação do crédito e a flexibilização do superávit primário. Mas para isso é preciso que os gestores da economia brasileira se unam, pelo menos no âmbito das ações governamentais.
Nos últimos dias dois episódios mostraram que esta unidade está longe de ser alcançada. Primeiro, foi preciso trocar o presidente do Banco do Brasil - que é estatal - para que a instituição adotasse as medidas sugeridas pelo governo. E ontem (dia 15), em audiência na Câmara dos Deputados, o ministro da Fazenda Guido Mantega garantiu que os juros continuarão caindo, mas horas depois foi encaminhada ao Congresso a planilha da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2010, sinalizando que os juros continuarão no mesmo patamar. Não é de hoje que o Banco Central age em discordância com as expectativas da equipe econômica do governo. Mas o ministério do Planejamento desmentir o ministro da Fazenda no mesmo dia é lamentável.
Ainda ontem, Mantega anunciou outras medidas muito positivas para o desenvolvimento nacional, como o abrandamento do superávit primário, que passa para 2,5% do PIB. Diante de uma LDO que contraria os próprios esforços do governo, como se pode confiar que as medidas anunciadas vão se transformar em operações efetivas?
O grande entrave entre o que o governo pretende e o que realmente se estabelece na economia nacional continua sendo o poder excessivo do sistema financeiro, que age nos bastidores para que seus interesses não sejam atingidos. Enfrentar este poder é uma tarefa urgente e exige unidade dos ''economistas'' do governo.
A palavra ''unanimidade'' vem do latim unanimis e significa a convergência de um grupo de pessoas em torno de um (unus) só ânimo (animus). Nos círculos políticos, prefere-se usar a expressão ''unidade'', geralmente conquistada após amplo e democrático debate que leva a convergirem visões diferentes sobre um mesmo assunto.
Em economia, unanimidades são quase impossíveis. Diante da atual crise financeira mundial, por exemplo, os especialistas ainda não chegaram a um acordo sobre qual o tamanho do problema e até que ponto afetará a economia brasileira. Em qualquer debate sobre o assunto sobram dúvidas e faltam certezas. Há quem avalie que a crise já atingiu o fundo do poço e há quem sustente que ela ainda vai se aprofundar muito mais.
Mas nesta semana, porém, começou-se a esboçar um certo consenso de que a economia brasileira está reagindo positivamente às medidas que o governo adotou contra a crise. Por enquanto, os indicadores mostram uma recuperação tímida, e só daqui a alguns meses será possível avaliar se a retomada é consistente ou apenas um ''vôo de galinha''.
Diante da dúvida, o governo não pode relaxar e deve acelerar o ritmo das mudanças na economia, incluindo a rápida diminuição dos juros, o incremento dos investimentos públicos, a ampliação do crédito e a flexibilização do superávit primário. Mas para isso é preciso que os gestores da economia brasileira se unam, pelo menos no âmbito das ações governamentais.
Nos últimos dias dois episódios mostraram que esta unidade está longe de ser alcançada. Primeiro, foi preciso trocar o presidente do Banco do Brasil - que é estatal - para que a instituição adotasse as medidas sugeridas pelo governo. E ontem (dia 15), em audiência na Câmara dos Deputados, o ministro da Fazenda Guido Mantega garantiu que os juros continuarão caindo, mas horas depois foi encaminhada ao Congresso a planilha da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2010, sinalizando que os juros continuarão no mesmo patamar. Não é de hoje que o Banco Central age em discordância com as expectativas da equipe econômica do governo. Mas o ministério do Planejamento desmentir o ministro da Fazenda no mesmo dia é lamentável.
Ainda ontem, Mantega anunciou outras medidas muito positivas para o desenvolvimento nacional, como o abrandamento do superávit primário, que passa para 2,5% do PIB. Diante de uma LDO que contraria os próprios esforços do governo, como se pode confiar que as medidas anunciadas vão se transformar em operações efetivas?
O grande entrave entre o que o governo pretende e o que realmente se estabelece na economia nacional continua sendo o poder excessivo do sistema financeiro, que age nos bastidores para que seus interesses não sejam atingidos. Enfrentar este poder é uma tarefa urgente e exige unidade dos ''economistas'' do governo.
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