Meus caros e velhos amigos (mais caros do que velhos),
as cenas do Acaraú, empanzinado, estufando para além dos estreitos limites das suas margens e com uma gulodice voraz em busca de terras ainda mais altas aonde espraiar as suas águas, tem um quê de tragédia e de espanto. Mas também, e talvez haja aí a minha origem sertaneja, de escassas águas por toda a minha infância, há uma beleza, uma beleza trágica, digamos assim, a encantar meus olhos mais afeitos à poeira e à sequidão que à coisas de dilúvio.
A imagem do MADI, que envio a vocês, é literária. Como um afogado que busca desesperadamente manter a cabeça fora d'água; um imenso aquário a convidar os peixes à ocupação do seu latifúndio de vidro; ou como a jangada de pedra de Saramago, disposto a apartar-se de Sobral e ir navegando rio abaixo, ganhando o rumo do Atlântico; ou ainda feito o barco de Florentino Ariza e Fermina Daza, na prosa fantástica de Garcia Márquez, flutuando sem mais querer atracar em margem alguma.
Um grande abraço do velho amigo (bem menos velho do que amigo).
Um comentário:
o sertão vai virar mar?
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