domingo, 26 de abril de 2009

poeta até debaixo dágua

Uma das muitas vantagens de ser amio do Joan Edessom, o Mestre Matuto, é ter mais oportunidades de se emocionar, que é coisa que eu gosto mesmo de viver. O cabra hoje é Secretário de Cultura de Sobral e umas das responsabilidades dele é cuidar do Museu MADI, jóia de muito valor da miunha cidade. Pois num é que no meio duma "quase tragédia", o Joan achou inspiração pra escrever uam coisa linda sobre a vida de sertanejo, misturada com tesouros da literatura e ainda foi mexer mais ainda com minha emoção ao citar Floretino e Fermina? Achando pouco, o poeta registrou com a prima da minha Sonynha, a cena que ele descreveu. Olhe, eu num sei o que mexeu mais comigo, se foi o texto que ele envou pra mim e pro Gilvan Paiva - outro poeta talentoso - , se reviver um pouco do drama das inundações em Sobral ou se foi tudo isso misturado, mais saber que minha cidade recebeu tão bem um poeta que veio lá do Cedro e criou raízes no chão árido de Sobral. Curta aí que é coisa boa.


Meus caros e velhos amigos (mais caros do que velhos),

as cenas do Acaraú, empanzinado, estufando para além dos estreitos limites das suas margens e com uma gulodice voraz em busca de terras ainda mais altas aonde espraiar as suas águas, tem um quê de tragédia e de espanto. Mas também, e talvez haja aí a minha origem sertaneja, de escassas águas por toda a minha infância, há uma beleza, uma beleza trágica, digamos assim, a encantar meus olhos mais afeitos à poeira e à sequidão que à coisas de dilúvio.

A imagem do MADI, que envio a vocês, é literária. Como um afogado que busca desesperadamente manter a cabeça fora d'água; um imenso aquário a convidar os peixes à ocupação do seu latifúndio de vidro; ou como a jangada de pedra de Saramago, disposto a apartar-se de Sobral e ir navegando rio abaixo, ganhando o rumo do Atlântico; ou ainda feito o barco de Florentino Ariza e Fermina Daza, na prosa fantástica de Garcia Márquez, flutuando sem mais querer atracar em margem alguma.

Um grande abraço do velho amigo (bem menos velho do que amigo).

Um comentário:

Fernanda disse...

o sertão vai virar mar?