segunda-feira, 27 de abril de 2009

Tardio, mas a tempo

Pecador que sou, cometi a infâmia de não marcar aqui os 35 anos da Revolução dos Cravos. Mas nenhum cristão me negaria um perdão se eu buscasse minha remissão logo que me fosse dada uma oportunidade. Pois o Érico Firmo, em sua coluna Menu Político, do jornal O POVO, de ontem , conta uma história muito da interessante que me absolverá e lhe ajudará a saber mais das nossas eternas ligações com os patrícios.

Navegar, navegar


A história é conhecida, mas só a beleza da canção já justifica o registro. Em 1975, em Chico Buarque escreveu a canção Tanto mar, em louvor à Revolução dos Cravos. A música foi censurada e a liberação só veio três anos depois. Mas os ares já eram outros e Chico acabou mudando a letra. A primeira versão dizia:


“Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente alguma flor
No teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera pá
Cá estou doente
Manda urgentemente algum cheirinho
De alecrim”.


A segunda versão:


“Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente nalgum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente algum cheirinho de alecrim”.



Gênio, né?



3 comentários:

Soninha disse...

Lá no meu blog eu postei a segunda versão, interpretada por Chico.

Um cravo pra ti.

Fernanda disse...

E aqui vai a letra da musica que foi a senha de sinalização da Revolução dos Cravos no dia 25 de abril de 1975, transmitida por rádio. A canção refere-se à fraternidade entre as pessoas de Grândola, no Alentejo.

"Grândola, Vila Morena"
Zeca Afonso

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

Daniel Fonsêca disse...

Maravilha a história dos Cravos portugueses, Inácio. Tem um livro do historiador Lincoln Secco, professor da USP, que repõe a história da revolução interrompida. Bom que se destaque o papel do famigerado Henry Kissinger, secretário de Estado dos EUA de 1973 a 1977, para afogar as vontades revolucionárias mais "radicais". O governo estadunidense e puxa-sacos da Otan investiram muitos recursos, sobretudo financeiros, para dar sustentação a segmentos mais moderados, a exemplo do Partido Socialista, de Mário Soares. Fica a dica dessa obra, que pode ser encontrada na Lua Nova, em Fortaleza (CE), ou no saite da Livraria Cultura. Bons dias para você!