"Quando o Congo foi invadido pelos Jagas (caçadores de escravos), a jovem Aqualtune, filha do Rei Cajanga, defendeu o reino do pai comandando cerca de 10 mil homens. Vencida e aprisionada, desembarcou de um navio negreiro no Recife e foi obrigada a manter relações sexuais para reproduzir mão-de-obra escrava. Mas, mesmo estuprada, engravidada e vendida para um Engenho de Açúcar em Porto Calvo, ela comandou a fuga de numerosos negros para Palmares e liderou, com Ganga Zumba, o maior Quilombo do Brasil. Sua filha lhe deu o neto Zumbi dos Palmares.
A Lei do Ventre Livre No. 2040 de 28 de setembro de 1871 libertou os filhos de escravas, nascidos a partir daquela data. Os recém-nascidos ficavam em poder do Senhor de sua mãe que podia utilizar-se dos serviços da criança até a idade de 21 anos completos. Entretanto, a negra-mãe, continuava proibida de amamentar seu recém-nascido-livre para dar seu leite materno aos filhos das Sinhás, passando para a história como a submissa "mãe-preta". Ela se submetia à exigência para preservar a vida dos próprios filhos.
A Lei Áurea, assinada a 13 de maio de 1888, livrou os donos de escravos da responsabilidade com os trabalhadores negros escravizados. Os abolicionistas queriam uma Lei de libertação com reforma agrária, ou seja, uma "casa própria" para os negros que passaram mais de 400 anos trabalhando de graça. Não tiveram sucesso. A Princesa emocionalmente coagida assinou a apressada Lei com dois artigos. Nesse momento histórico, as máquinas e os emigrantes europeus e japoneses profissionalizados já entravam no Brasil. O novo modo de produção substituía o trabalho escravo pelo trabalho assalariado, preparando terreno para a Proclamação da República em 1889. No dia da assinatura da Lei Áurea as grades das senzalas se abriram e os negros foram pras ruas, sem trabalho, sem casa, sem comida e livres para viver nos cortiços, favelas e periferias onde a maioria está até hoje. Contudo, a única parcela de ex-escravos capaz de desempenhar uma função que interessava ao novo modo de produção eram as mulheres negras com seu trabalho doméstico: cozinhando, lavando, passando, limpando. Foram elas, trabalhando na cozinha dos ex-senhores (agora patrões) que sustentaram os homens até eles encontrarem uma ocupação que um ex-escravo pudesse desempenhar. No fogão, de onde a maioria ainda não saiu, a mulher negra garantiu a sobrevivência da família negra.
Hoje, 120 anos após a "abolição", as mulheres negras do Brasil ainda lutam com garra e autonomia para construir um justo espaço social para si e para os seus excluídos. Incansavelmente. Invisivelmente. Porém, com a mesma coragem da escrava cearense "tia Ana" que em 1835, indignada pelos violentos castigos impostos a uma velha escrava, tocou fogo na casa do fazendeiro português conhecido como Marinheiro Chico. E com a mesma determinação de bravas cearenses que lutaram contra o racismo como Maria Tomázia, Francisca Clotilde, Elvira Pinho, Joana Antonia Bezerra, Serafina Pontes, Maria Correia do Amaral e Dona Maria José de Jesus Simão, falecida no dia 6 de maio de 2008 aos 91 anos de idade. Os exemplos estão no mundo. Só que nós precisamos aprender".
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