terça-feira, 27 de maio de 2008

O bem querer do João Amazonas


Estive pela primeira vez com João Amazonas em junho de 1982,três meses depois de ingressar no PCdoB. Era sua primeira viagem ao Ceará depois da anistia conquistada em 1979 e ele fez uma palestra na Faculdade de Direito. Depois fomos para a casa da Daciane Barreto, hoje dona, junto com seu companheiro Edson, do bar e restaurante Maria Bonita, que convidou o Camarada João para um festa de aniversário coletiva (coisa mesmo de comunista). Além da anfitriã, também faziam anos, a Noélia, a Norminha, a Noêmia e eu – todo mundo aí na foto. Pois é, mal entrei no Partido Comunista e tinha o principal dirigente na minha festa de aniversário.

Hoje é aniversário da morte do Amazonas. Há exatos seis anos, por volta das 14 horas, João faleceu e deu em todos nós um sentimento de vazio enorme. E agora, como o partido se comportaria sem aquele que o conduziu durante tantos anos, que enfrentou enormes desafios, entre eles duas ditaduras, a do Estado Novo e o regime militar; uma divisão profunda no movimento comunista internacional que o obrigou a, junto com mais uma centena de revolucionários, reorganizar o partido em 1962 e a derrocada da União Soviética e da experiência socialista na Europa? João Amazonas nunca esmoreceu e até os 92 anos trabalhou pela construção do socialismo.

Antes de João Amazonas morrer, dois episódios reforçaram ainda mais minha admiração por ele. O primeiro foi o bilhete que deixou manuscrito com seu último pedido. Com sua inconfundível letra já demonstrando o precário estado de saúde escreveu:"As cinzas devem ser espalhadas na Região do Araguaia, onde houve a Guerrilha. É uma forma de juntar-me aos que lá tombaram."

O outro episódio é narrado por Augusto Buonicore numa pequena biografia de João Amazonas. Ao final ele narra a seguinte passagem: “Segundo testemunhas, quando João estava às vésperas da morte, uma jovem enfermeira, preocupada, insistia para que comesse alguma coisa e ele, teimosamente, se recusava a atendê-la. Curiosa, perguntou-lhe: “Mas seu João, do que é então que o senhor gosta?”. E ele respondeu sorridente:Eu gosto mesmo é da Edíria*”.”

É isso, comunista é gente!
* Edíria Carneiro, companheira de João Amazonas desde os anos 40, é baiana, artista plástica e foi, durante muitos anos, ilustradora do jornal A Classe Operária, órgão oficial do Partido Comunista do Brasil.

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