Ó o beco...

Sem voto, Tasso virou piada no Ceará

A primeira notícia que li hoje cedo foi sobre a entrevista do quase ex-senador Tasso Jereissati, o ex-todo poderoso chefão do tucano cearense. O citado cidadão decidiu anunciar o que o povo já havia decidido no domingo, dia da eleição: aposentadoria política. Agora, pense num cidadão zangado que nem a peste. Em que pese a tentativa do jornal O POVO de amenizar a zanga, num parágrafo só da matéria está dito que o galego aceitou o resultado, mas num quer mais nem saber dos irmãos Cid e Ciro Gomes. Leia você mesmo:


"Parecia que ele já estava preparado para a derrota. Um tom de conformidade acompanhou, ontem à tarde, toda a fala do senador Tasso Jereissati (PSDB), durante a primeira entrevista coletiva concedida por ele após o resultado desfavorável nas urnas. Embora aparentemente resignado, o tucano deixou transparecer mágoas e deu sinais de que nem o fim da eleição será capaz de reatar suas relações com o deputado federal Ciro Gomes (PSB), de quem ele foi aliado por mais de 20 anos".

Deu pra sacar como o tucano é zangado? Se não deu, leia a matéria toda e veja também que, além de raivoso, o futuro ex-senador tá querendo montar um viveiro de tucaninhos pra criar o que ele chama de nova geração de políticos do PSDB (vai deixar de se candidatar, pra dar conselhos pros boyzinhos da elite, tudo na "sombra e água fresca" - num rola nem uma coca gelada, galego?). Tá no direito dele, o problema é que essa espécie parece entrou em processo de extinção. Nas eleições de 2006, apesar de perderem o governo, os tucanos elegeram, no Ceará, as maiores bancadas individuais pra Câmara dos Deputados e pra Assembléia Legislativa, pra onde mandaram 5 e 14 deputados, respectivamente. Só que agora elegeram apenas um deputado federal, podendo chegar a dois, dependendo da decisão da justiça sobre a tal "ficha limpa", e oito deputados estaduais, podendo ficar apenas com sete, pela mesma razão. Mas a derrota grande mesmo da tucanagem por aqui foi a não eleição do próprio Tasso, que fez de tudo pra se segurar, mas não teve jeito.

Durante o último ano nunca se viu tanta paparicação ao senador aposentando. Descobriram até um parente dele na Padaria Espiritual, movimento literário cearense nos anos 1800, pra justificar uma homenagem na Academia Cearense de Letras. Tudo que era entidade empresarial arrumou uma comenda, uma medalha, um título, um lero qualquer, que pudesse virar notícia pra promover Tasso. O curioso é que todas essas "honrarias" já existiam desde o tempo que o moço era governador, mas como ele era o todo poderoso, dispensava esse tipo de sabujice. Só que a vida dá suas voltar e a maré mudou de lado.

Desesperado, isolado na cena política, ainda tentou uma aliança com o governador Cid Gomes, que nem tava a fim de rupturas, mas aí a política tratou de separá-los definitivamente. É que Tasso foi um dos políticos mais atuantes  na oposição à Lula, que tinha o apoio de Cid, que apoiava, e ainda apóia, Dilma, que é a candidata de Lula, que concorria,  e ainda concorre, contra Serra, que é o candidato apoiado por Tasso. Como não tucano não joga no time de Lula, Cid, Dilma e cia, o galego ficou só. Sozinho não se ganha nenhuma batalha, e muito menos a guerra. E a derrota foi pintando. De lá pra cá todo mundo sabe o que aconteceu. O povo do Ceará "votou num, e quem votou num votou no outro e quem votou no outro votou no outro", como recomendou Lula. Resultado: um e outro, Eunício e Pimentel vão virar senadores e o Tasso vai virar ex-senador.

UJS mandou o Galeguim "pegar o beco"

Era festa muita nesse Ceará. Gente no meio da rua, foguetório, cantoria, comemoração de verdade pelo ato final da Era Tasso, que começou a declinar em 2006, com a eleição de Cid Gomes pro governo estadual. Aqui vale dizer que a União da Juventude Socialista, a UJS cearense, deu um tom especial à campanha quando lançou nas ruas o movimento "Pega o Beco, Galeguim", que na reta final virou quase uma mania a ponto de quem tivesse uma camiseta ou adesivo da campanha era logo perguntado: "onde é que eu arrumo um desses pra mim?".

Agora, aposentado - pelos critérios de FHC seria um vagabundo - Tasso é uma zanga só, mas o povo não tá nem aí, tá feliz, apostou no futuro e quer o Ceará andando pra frente, junto com o Brasil de Dilma.