quarta-feira, 25 de junho de 2008

Os amigos do Orlando devem viver


Quando eu trabalhava em Brasília, na assessoria do então deputado federal Inácio Arruda, bati alguns papos com o então presidente da UNE e hoje Ministro dos Esportes, Orlando Júnior*. Certa vez o Orlando, oriundo da periferia de Salvador, disse que metade de seus amigos de infância estavam mortos ou presos. Com isso ele quis demonstrar o grau de violência que prevalência em sua cidade. Nunca esqueci este diálogo e o tenho como uma referência no debate sobre violência e juventude.


Nesta semana, lendo uma matéria no jornal Diário do Nordeste sobre a morte de jovens na periferia da Região Metropolitana de Fortaleza, lembrei da conversa com o Orlando. Ele ultrapassou barreiras que muitos garotos e garotas do Brasil não conseguem. Aqui, só este ano, foram registradas mortes de quase quarenta jovens, na imensa maioria por envolvimento com drogas. O juiz da Infância e da Juventude, Darival Bezerra, disse ao jornal: “Eles morrem mais do que matam. São muito mais violentados do que praticam a violência”. De cara o que o meritíssimo diz já desfaz o papo de que é preciso reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos. Ele falou ainda que faltam mecanismos de atendimento aos envolvidos com drogas e também condições para que os infratores possam cumprir suas penas.

Este é um problema muito grave e que precisa de uma ação muito intensa do poder público. Políticas públicas para a juventude, como o Programa Segundo Tempo, do Ministério dos Esportes ( imagino que o Orlando deve pensar muito nos amigos dele diante do sucesso do programa) devem ser espalhadas pelo Brasil inteiro. Educação, cultura, lazer, esportes, além da geração de emprego, tudo que puder ocupar a galera deve ser utilizado. Sinceramente, não dá pra ficar parado diante de uma situação que mata mais gente no Brasil do que guerras como a do Iraque. Como sentenciou o Douto Juiz: “Como não existe a oferta de políticas públicas, as ofertas de ´serviço´, pelos traficantes, parecem mais atraentes aos adolescentes que não encontram outra oportunidade. E aí não tem jeito. Voltando às drogas, só existem dois caminhos a frente: a cadeia ou o cemitério, infelizmente
* Curiosidade: O nome do ministro é em homenagem ao seu pai, que por sua vez foi batizado com esse nome para homenagear Orlando Silva, o “Cantor das Multidões” e nós chamávamos o “Júnior” de “Agitador das Multidões” - aliás apelido ali é o que não faltava. O Lindberg Farias, que era deputado federal e também fora presidente da UNE, tinha o apelido de “Paraíba” e me chamava de Inácio Júnior, para diferenciar-me do Xará, o deputado federal, que tinha como chefe de gabinete o Carlos Décimo, também chamado de “Mapa do Chile”, devido sua altura e magreza.

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