sexta-feira, 20 de junho de 2008

vamos viver 100 anos

Passei todo o primeiro semestre de 1977 morando numa fazenda próxima a Sobral. Ali acordava as três da madrugada (nossa referência de horário era posição da “Estrela Dalva” – pode existir relógio mais incrível?), me juntava com dois vaqueiros, tirava leite de umas dez vacas e lógico que meu café da manhã era leite mugido. Às sete da manhã eu já estava no Colégio Sobralense pra assistir a primeira aula. Esse semestre foi um dos períodos mais importantes da minha vida, reforçou minha ligação com a vida simples do povo (desde criança convivi com muitos amigos no “Otoladorrie”, entre eles o Chico Paula, filho da Paulinha e neto da Dona Luzia – respectivamente engomadeira e lavadeira de roupas). Ali a vida tinha outra dinâmica, as relações eram muito amistosas e eu era mais um integrado na vida da fazenda, nunca fiz diferença por ser um “filho do patrão”.

Foi difícil voltar pra vida urbana depois daquela temporada rural, mas tive a felicidade de me integrar numa turma que jamais esquecerei. Éramos quase todos da mesma turma, ou pelo menos da mesma série no colégio e sempre compartilhamos muitos momentos juntos. A música e o gosto pela ousadia eram ligas importantes entre aqueles amigos. O rock era a trilha inicial, depois ampliamos nosso gosto para a música brasileira ( o Festival do Mandacaru ajudou a nos aproximar da nossa música) e logo estávamos curtindo também música erudita. Cabelos longos, bolsa tiracolo, encontros no bosque (um lugar inaugurado em 1976 mas que ninguém freqüentava), rodas de dança nas festas e boates, domingos de piscina e vodka com laranjada no sítio Siloé, revista POP, encontros para ouvir música e comentar leituras e por aí iam aqueles meninos e meninas, que não tardou pra serem chamados de “maconheiros” pelos incomodados. Tadin de nós, tudo careta! Uma acusação bem injusta, na época.

Eu passaria meses escrevendo e ainda faltaria muita coisas pra falar sobre aquela turma que hoje não convive mais, porém nunca deixou de existir. Por isso as histórias virão de vez em quando.

Mas essa semana recebi um email do João Rodrigues o meu amigo João. ( na foto, de 1980, ele tava servindo o exército, era o Cabo Pinto e é o cabra aí do meu lado esquerdo. Os outros são o Juarez (de costas e cabeludo), da Desafinado e o Nildon Filho ( de perfil), funcionário da Receita Federal. Um dos Joãos, já que tinha ainda o João Cícero, um outro que vive hoje na dimensão dos sentimentos. Pois bem o João escrevei pra dizer que tava se iniciando na internet e falou o seguinte: “meu amigo,não sei escrever e-mails (NR – ele pode dizer que num sabe escrever emails, mas ainda publico aqui umas letras de música e vocês vão ver o que ele escreve) mas quero praticar mais agora nesses novos tempos.vou tentar mandar outros pra ti e para o resto da turma que tenho tanta amizade e vontade de conversar”.

No email, na motivado pelo meu aniversário, João faz o seguinte comentário: “li teu blog e achei muito bom,legal constatar que tu continua com o coração revolucionário.um dia numa bodega um cara afirmou com uma mistura de raiva hipocrisia e cachaça que todo homem se vende,todos tem um preço.ai eu falei na lata do falso profeta,tu diz isso por que não conhece o inácio...ai o bicho ficou calado com os olhos muito abertos e não falou mais besteiras”. Deusdocéu, o que posso dizer diante de tanto carinho dum amigo?

Ele conclui o email assim: “o titulo é uma saudação italiana que eu não sei como se escreve e quer dizer,vamos viver cem anos.depois tu olha isso pra gente,falando fica mais bonito em italiano,em portugues fica meio esquisito.meu irmão Deus te abençoe seja sempre feliz.um abraço.”

Claro que viveremos, meu amigo João!

Um comentário:

Fergus Gallas disse...

Inácio,
Não conheço o João, ainda, mas já gostei dele.
Que foto bacana, cabelo pra todo lado.
Revista POP, que lembrança fantástica.
Um abraço.